A
Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet) estima que
os ingressos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em construção e
infraestrutura possam duplicar nos próximos anos.
Além
disso, segundo a entidade, a participação dos serviços nos estoques de
IED é de 43,3% no Brasil, enquanto que, no mundo, esse percentual chega a 67%.
Esse
potencial de expansão do IED no país nos próximos anos é ampliado pelo empenho
do governo em atrair investidores estrangeiros para o pacote de concessões de
US$ 235 bilhões em infraestrutura, reforçado na semana passada na apresentação
do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a investidores de Wall Street.
“Há
uma lacuna de investimentos em infraestrutura, o desejo de preenchê-la e uma
oferta de recursos sem destino de outros países que devem vir para cá”, diz
Luis Afonso Lima, economista da Sobeet.
Para
o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, há
uma fronteira de expansão clara também nos serviços influenciados pelo aumento
da renda e menos sujeitos à interferência estatal, como educação e saúde.
Kawall
cita operações recentes, como a aquisição da operadora de planos de saúde Amil
pela United Health Group, em 2012, por quase R$ 10 bilhões, e a compra da rede
de drogarias Onofre pela americana CVS, em 2013.
“Em
termos relativos, a indústria é a perdedora. É afetada por problemas de baixa
competitividade e alta carga tributária, embora possa ter grandes operações
pontuais. Já os serviços são mais protegidos e passam por aumento de demanda”,
diz.
Em uma década, o Brasil subiu 11 degraus no ranking dos destinos globais de investimentos estrangeiros diretos.
Em
2003, o País era o 15º na lista, e, no ano passado, passou ao quarto lugar,
atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong.
A
fatia brasileira nos fluxos de investimento foi a que mais cresceu no mundo, de
1,7% em 2003, para 5%, em 2012.
O
perfil do IED por aqui mudou nos últimos cinco anos, como mostra estudo da
Sobeet. Houve crescimento na proporção relativa ao setor de petróleo e um recuo
na fatia setor de serviços, que ainda lidera a preferência do capital externo
em investimentos brasileiros.
Mas
a tendência é de que o setor retome espaço com o empenho do governo nas
concessões de infraestrutura.
A análise da Sobeet foi baseada em dados do Banco Central e da Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento).
O
levantamento dividiu a década em dois períodos: 2003-2007 e 2008-2012.
O
setor de serviços viu sua fatia no bolo cair de 51,8% para 42,1% nos últimos 5
anos.
Os
setores de telecomunicações, energia elétrica e saneamento foram os mais
afetados. No caso das operadoras, os ingressos de IED despencaram de 10,3% para
2,7%.
Para
Lima, economista da Sobeet, a explicação é que houve forte concentração de
investimentos logo após as privatizações, no fim dos anos 1990.
Composto por agropecuária e extrativismo mineral, o setor primário atraiu mais investimentos no último quinquênio, puxado pela extração de petróleo.
O
percentual do setor petrolífero nos fluxos de IED saltou de 8,2% para 18,9% na
média dos dois períodos.
O
incremento reflete aportes de rodadas de petróleo concluídas no início dos anos
2000, já que os investimentos pesados costumam ocorrer cinco anos após os
leilões.
Flávio
Rodrigues, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), destaca também o
pesado plano de investimentos anunciado pela Petrobras, que acabou sendo
acompanhado por suas parceiras estrangeiras.
Ele
alerta, entretanto, que a ausência de rodadas nos últimos quatro anos tende a
refletir um menor ritmo da curva de IED do setor.
“Isso
deve aparecer nas próximas estatísticas, embora o pré-sal possa amortizar um
pouco tais perdas”, diz ele, ao considerar que, manter o fluxo de recursos
externos depende da constância dos leilões.
Apesar
da perda de competitividade nos anos recentes, a indústria brasileira não viu
seu percentual de atração de IED ser significativamente alterado.
Houve
uma perda de apenas 1,2 ponto percentual do período 2003-2007 (38,6%) para o
período 2008-2012 (37,4%).
Em
termos absolutos, diz Lima, os recursos destinados a setores industriais nos
últimos cinco anos foram até mais robustos.
De
um lado, porque houve esgotamento de capacidade de setores como metalurgia e
produtos químicos e, de outro, pela aposta em setores voltados ao consumo
interno, como alimentos e bebidas, turbinados pelo incremento na renda da
população. “Isso se soma à crise, que reduziu oportunidades em países da Europa
e abriu novas frentes nos países emergentes”, diz.
A
Sobeet aponta que a atração de IED para o Brasil nos últimos dez anos foi ao
menos parcialmente influenciada por políticas públicas voltadas a atividades
consideradas estratégicas em diferentes momentos.
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