Nascido na Coreia, o empresário Ji Won, de 33 anos, já morou em
diversos países como Espanha e Estados Unidos. Foi no Brasil, contudo,
que ele enxergou uma oportunidade
de desenvolver seu lado empreendedor. Embora já tivesse morado no
Brasil, onde chegou a cursar o colegial, decidiu voltar dez anos depois
com o objetivo de comandar uma startup. Em 2011, Won conseguiu
investimentos de sul-coreanos para a Biosom, empresa de sistemas e
equipamentos para melhorar a audição.
Formado em marketing nos Estados Unidos, Won encarou o desafio de
voltar ao Brasil, mas sentiu necessidade de fazer uma pós-graduação em
administração no país. “Queria entender melhor o modelo de negócios
local. Desde a forma como as pessoas se relacionam no trabalho até a
maneira de vender soluções e produtos, muita coisa é diferente”, afirma.
Além disso, conhecer
outros empreendedores na sala de aula se revelou uma estratégia
importante para quem precisava, inclusive, montar uma equipe do zero.
Durante o curso, ele convidou o colega indiano Sachin Durg para integrar
o seu time. “Fazer o curso aqui foi fundamental para consolidar meu
networking.”
Casos como o de Won estão se tornando cada vez mais comuns.
Estrangeiros que buscam conhecimento em diferentes mercados, além de
oportunidade de trabalho ou de dar início ao próprio negócio, têm
encontrado no Brasil um espaço para tirar os planos do papel.
Acompanhando esse movimento, a quantidade de vistos concedidos a
estudantes de fora quase dobrou nos últimos três anos. Segundo o
Ministério das Relações Exteriores, somente entre 2011 e 2012 foram
11.886 concessões para estrangeiros que vieram ao Brasil estudar em
graduação ou pós-graduação, um aumento de 21%.
Embora os latino-americanos ainda sejam maioria, os europeus foram
responsáveis pela maior taxa de crescimento na procura por instituições
do país. No geral, 4.541 estudantes da América Latina se matricularam em
escolas brasileiras em 2012, uma alta acumulada em 50% nos últimos três
anos. Já os europeus somaram 4.472 estudantes, o que em relação a 2010
significa um aumento de 67%.
Para Eduardo Marques, gerente de relações internacionais da Fundação
Getulio Vargas (FGV), esse cenário tem como pano de fundo o agravamento
da crise internacional, que tornou o mercado de trabalho brasileiro mais
atraente. “Estudantes passaram a enxergar oportunidades
melhores no Brasil. Além de algumas instituições serem referência em
rankings globais, ainda é relativamente barato estudar aqui”, afirma.
No que compete à pós-graduação, entre 2011 e 2012, a FGV viu o número
de matrículas de estrangeiros subir 30% na escola de negócios de São
Paulo e 62% na do Rio de Janeiro. Os cursos mais procurados foram o
mestrado profissional em gestão internacional (SP) e o mestrado
executivo (RJ). As matrículas desses programas, segundo Marques, foram
encabeçadas por franceses, portugueses, italianos e alemães. “Na Europa,
o mercado exige mais vivência internacional de seus profissionais. Como
muitas multinacionais estão vindo para o Brasil, eles sentem
necessidade de conhecer a nossa cultura e a nossa forma de administrar
para pleitear vagas aqui”, afirma.
O mote do multiculturalismo da gestão também se destaca na lista de
prioridades dos alunos estrangeiros do Insper. “Morar na França e
estudar na Itália não é uma experiência tão vantajosa para um europeu
que quer aprender mais sobre ambientes de negócios diferentes”, diz Guy
Cliquet de Amaral Filho, coordenador geral de certificados da
instituição. “É melhor para o europeu vir a um país como o Brasil, que é
emergente e está em posição de destaque.”
Segundo Amaral Filho, a procura dos estrangeiros pelo Insper tem sido
maior nos programas de certificate in business administration e
certificate in marketing management. O grau de interesse dos alunos de
fora pode ser medido, também, pela vontade de aprender a língua local.
Embora seja possível acompanhar algumas aulas em inglês, a maioria dos
estrangeiros que procura a escola assiste a aulas em português. “Eles
valorizam muito a interação e o networking. Querem se comunicar bem com
os brasileiros”, ressalta.
O empreendedorismo também é uma característica marcante dos alunos
que vêm ao Brasil. De acordo com James Wright, diretor do international
executive MBA, da Fundação Instituto de Administração (FIA), os
estrangeiros matriculados nas duas últimas turmas do mestrado da
instituição geraram cinco startups no país. A nacionalidade dos
pós-graduandos é bem diversificada, passando por alemães, suíços,
italianos, americanos, indianos e chineses. Desde 2010, a procura pelo
MBA internacional têm crescido cerca de 25% ao ano. “Eles têm uma veia
empreendedora e chegam com uma visão diferente e mais arrojada de
negócios”, analisa.
No Coppead, instituto de pós-graduação e pesquisa em administração da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, os europeus também representam a
maioria dos estudantes que vem de fora do Brasil. Segundo informações
da instituição, somente entre 2011 e 2012, o aumento no número de
matrículas para estrangeiros foi de 30%, puxadas por franceses,
italianos, espanhóis, alemães e russos.
Carolina Cortez
(Valor Econômico – 06/03/2013)
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