quinta-feira, 16 de maio de 2024

IA generativa ameaça economia dos meios de comunicação

 


Um ciclista na sede do Google em Mountain View, Califórnia, em 27 de junho de 2022 - AFP/Arquivos

Ao apresentar uma resposta escrita por inteligência artificial (IA) às buscas dos internautas, o sistema de busca do Google ameaça parte do modelo econômico da internet, especialmente o dos meios de comunicação, já bastante enfraquecidos.

Os links tradicionais para páginas da internet não desapareceram, mas com o AI Overviews, um programa apresentado na terça-feira (14), são ofuscados pelo texto proposto pela IA generativa, cujo conteúdo provavelmente satisfaz apenas a curiosidade dos usuários.

“Isto terá um impacto negativo nas marcas e nos sites que produzem conteúdo e dependem do tráfego dos motores de busca”, disse Paul Roetzer, do Marketing AI Institute. “Mas não sabemos até que ponto podemos fazer algo a respeito, nem o que poderíamos fazer”.

A consultora Gartner prevê que o volume gerado pelos sistemas de busca tradicionais diminuirá em 25% até 2026, com o surgimento de aplicativos de IA generativa.

Apesar desta revolução, o Google não pode dispensar a publicidade e adaptará sua oferta aos anunciantes. “Do contrário, terá cortado as pernas com a IA”, afirma o consultor David Clinch, da Media Growth Partners.

Hema Budaraju, da equipe de busca do Google, garante que durante os testes realizados no Overview, os sites e links envolvidos na resposta “se beneficiaram de um maior tráfego” do que na antiga fórmula de busca.

“A pergunta é: quem escolhe esses links?”, questiona Clinch. “Como posso garantir que meus links, meu site e meu conteúdo estejam incluídos nesses resultados?”, continua. “Imagino que será necessário pagar, que não será tão diferente do que existe até agora”.

Com os Overviews, o Google reforçará sua posição como intermediário entre os internautas e os sites da web.

– A importância das fontes –

“O Google enfrenta uma pressão imensa”, afirma David Clinch. “Outros atores já demonstraram que a IA generativa, que responde em uma linguagem simples e cotidiana às solicitações feitas a ela, ‘poderia funcionar sem links nem publicidade’, como é o caso do ChatGPT”.

Clinch considera que está se ampliando a brecha entre os grandes atores da web e os pequenos, ou seja, publicações, empresas, criadores, “que já não dispunham de meios suficientes para melhorar suas referências” no mecanismo de busca.

O crescente controle dos gigantes tecnológicos sobre a publicidade já sufocou muitos veículos da nova geração, desde o BuzzFeed até a Vice, passando pelo The Daily Beast, Quartz e Huffington Post, cuja venda de espaço para anunciantes é sua principal fonte de receita.

Mas as publicações locais ou regionais também foram afetadas, muitas das vezes não conseguindo converter um número suficiente de leitores em assinantes para reduzir sua dependência e equilibrar as contas.

Apenas alguns veículos de importância nacional ou internacional, como o New York Times e o Wall Street Journal, conseguiram sair ilesos.

Para Paul Roetzer, os criadores de conteúdo, mídia ou outros, devem “diversificar” os canais de distribuição e os meios de geração de tráfego, especialmente através das redes sociais, YouTube, TikTok, mas também podcasts, “se ainda não o fizeram”.

De qualquer forma, o uso da IA generativa como interface de pesquisa ainda não se consolidou.

Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, há uma crescente discussão sobre os erros ou “alucinações” dos “chatbots” em suas respostas.

Tanto os Overviews quanto o mecanismo de busca Bing da Microsoft (impulsionado por IA ou ChatGPT) ainda precisam provar que são confiáveis.

“As fontes vão ganhar mais importância do que nunca”, adverte o professor de jornalismo na Universidade Pública de Nova York (CUNY), Jeff Jarvis. “A questão é se os meios de comunicação podem disponibilizar suas informações para esses sistemas para ganhar exposição”.

“Isso mudaria o modelo econômico, mas acho que é uma oportunidade” para a imprensa, afirmou.

Até agora, a maioria dos meios de comunicação empreenderam ações legais contra os grandes modelos de IA generativa, aos quais acusam de terem saqueado seus conteúdos.

“Isso é cada um por si”, lamenta Jeff Jarvis, “quando poderíamos nos unir para pensar em como este novo ecossistema pode funcionar”.

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