terça-feira, 14 de maio de 2024

Decisão do BC de não dar indicação futura sobre juros foi unânime, mostra ata do Copom

 


Selic

Apesar da divisão sobre o tamanho do corte na Selic, todos os membros da diretoria do Banco Central defenderam a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras sobre os próximos movimentos nos juros, mostrou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 14.

No documento, o Copom reiterou que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta.

Na última quarta-feira, o Copom anunciou uma redução no ritmo de afrouxamento monetário ao fazer um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, para 10,50% ao ano, após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto na taxa. Também foi abandonada a indicação para passos futuros da política monetária.

Racha na decisão sobre o corte

A decisão sobre o corte foi tomada com divergência dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defenderam a manutenção do corte mais forte nos juros básicos, de 0,50 ponto.

A ata divulgada nesta terça-feira abriu detalhes sobre a divisão, afirmando que o grupo majoritário considerou que o cenário esperado não se confirmou em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que esperado.

“Para tais membros, o ‘forward guidance’ indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava”, disse o documento.

Esses membros, segundo a ata, ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir o ‘guidance’, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.

O grupo minoritário, por sua vez, propôs debate sobre o custo de não seguir a indicação dada na reunião anterior, questionando se o cenário mudou a ponto de valer a mudança do ‘guidance’, “o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê”.

“Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o ‘guidance’, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado”, disse.

O Copom reiterou que, para todos os membros, a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta.

A ata inda ressaltou que o cenário para a inflação se tornou mais desafiador, com aumento das projeções de curto e médio prazos, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada.

Na reunião, o BC apontou como possíveis motivos da desancoragem a piora do cenário externo, os recentes anúncios de política fiscal e uma percepção de agentes econômicos acerca do compromisso da autoridade monetária com o atingimento da meta ao longo dos anos.

Repercussão

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a mensagem da ata deverá ser bem recebida pelo mercado, pois evidencia o compromisso dos diretores em controlar a inflação e sinaliza uma possível necessidade de interromper o ciclo de queda de juros mais cedo do que o previsto anteriormente.

“Para a próxima reunião, parece haver consenso em adotar uma abordagem mais flexível, possivelmente com um diminuição de 0,25%. É plausível supor que o texto tenha sido objeto de intensa discussão interna, visando transmitir a mensagem de unidade no Banco Central e rejeitando a ideia de uma divisão entre os membros em relação à aceitação de uma inflação mais alta”, avaliou.

Para Helena Veronese, economista-chefe da B.Side, a ata buscou esclarecer as divergências entre os membros do Copom, mas manteve tom duro e de maior cautela. “O tom ainda duro e a preocupação com as expectativas, com o cenário externo e com a resiliência da atividade deixam ainda mais claro a mensagem que o comunicado já havia passado: a Selic terminal certamente será mais alta do que a imaginada no início do ano”, disse.


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