quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Bayer defende fusão com Monsanto no Brasil

Bayer defende fusão com Monsanto no Brasil

A entrada de empresas de tecnologia no setor agrícola vai garantir concorrência apesar da fusão entre Bayer e Monsanto, afirma Liam Condon, membro do Conselho de Administração e presidente da divisão agrícola da empresa alemã.

Em entrevista à Folha, o executivo defende que a união entre as gigantes agrícolas –a Bayer, que atua no setor de insumos agrícolas, como pesticidas, e a Monsanto, empresa americana de sementes– não vai gerar redução da competição. A compra foi anunciada em 2016 por US$ 66 bilhões.

O executivo diz que a entrada na agricultura de empresas de tecnologia, como Google, Bosch e start-ups, é subestimada.

"Há uma nova competição surgindo que as pessoas ainda não percebem muito, mas nós sim. Não temo que haja falta de concorrência, minha preocupação é que a Bayer ainda esteja por aqui daqui a dez anos."

A fusão está prevista para o início de 2018. "Há um pouco de sobreposição na área de sementes, e autoridades regulatórias dirão o que teremos que alienar e, uma vez que eliminemos isso, não vemos redução de concorrência", diz Condon.

Em outubro, a Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) recomendou que a fusão fosse impugnada pelo tribunal do órgão, que tem até março para decidir.

A nova empresa poderá dominar mais de um quarto do mercado mundial de sementes e pesticidas. 

Segundo o Cade, a fusão "pode determinar as condições de acesso à biotecnologia e do risco de adoção de práticas comerciais que dificultem o desenvolvimento de concorrentes".

Para Condon, mesmo após a fusão, a tecnologia será acessível para pequenos produtores. "Tudo o que fazemos é baseado em gerar mais inovação que nossos competidores para que os agricultores tenham incentivo para usar nossos produtos", diz.

Em 2016, a divisão agrícola da Bayer investiu € 1,2 bilhão (11,7% das vendas globais) em pesquisa e desenvolvimento.

Ele afirmou ainda que a marca Monsanto é uma preocupação, pois carrega uma imagem negativa entre os consumidores, e que a fusão terá que contornar isso.

 
BRASIL E EUA
 

Condon também avaliou a situação do Brasil, que, ao lado dos Estados Unidos, forma os dois maiores mercados estratégicos da Bayer.

O executivo afirmou haver "uma crescente desconexão entre a instabilidade política e a economia" –enquanto a crise política perdura no Brasil, a economia "parece ir razoavelmente bem".

Condon diz que o mercado brasileiro tem sido volátil, inclusive pelo clima tropical, mas há razões para acreditar no crescimento e investir a longo prazo.

"O que percebemos nesses tempos é que a recessão está sendo bastante dura para a economia no geral, mas a agricultura ainda tem uma performance razoavelmente boa", afirma o executivo.

Ainda assim, o fraco desempenho no país fez com que a Bayer revisse a expectativa de faturamento da divisão agrícola para menos de € 10 bilhões em 2017 –queda de 5% ante a previsão anterior.

A seca e a diminuição da pressão de pragas levaram a uma queda na demanda por pesticidas e fungicidas

 
Fazenda-modelo no Centro-Oeste do Brasil

 
O Brasil está no centro das ações da divisão agrícola da Bayer para os próximos anos. Em 2018, a empresa deve inaugurar uma "Forward Farm", espécie de fazenda-modelo, na região Centro-Oeste –o anúncio deve ocorrer ainda este ano.

Na fazenda, a Bayer coloca suas inovações e tecnologias em prática em parceria com empresas, universidades, entidades e o dono da propriedade.

A ideia é, em um ambiente mais realístico, demonstrar que a agricultura moderna pode criar um local sustentável e de sucesso econômico.

As "Foward Farms" já existem na Europa e também serão inauguradas na Argentina e no Chile no próximo ano.

Também está agendado para o Brasil, em 2019, o próximo Youth Ag-Summit. O evento da Bayer reúne jovens do mundo todo para discutir, durante quatro dias, soluções para combater a fome de modo sustentável num cenário de aumento populacional, mudanças climáticas e falta de recursos naturais.

Na edição mais recente, em outubro, na Bélgica, cinco brasileiros foram selecionados para compor o grupo de cem jovens de 49 países.

Escolhidos por meio de uma redação individual, os participantes depois formaram turmas com desafios específicos ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Os três melhores projetos ganharam financiamento da Bayer –de € 3 mil a € 10 mil. O grupo de Tamires Santos Lacerda, 23, estudante de relações internacionais de Sete Lagoas (MG), ficou em terceiro lugar, com uma campanha para incentivar crianças a consumir frutas e vegetais imperfeitos.
"Isso impacta nos preços, pois o distribuidor vai aumentar o preço dos produtos 'bonitos' porque está perdendo lucro com o desperdício dos considerados 'feios'", diz.

O projeto vencedor, ligado à igualdade de gênero, propunha engajar mulheres de países em desenvolvimento na agricultura.

 (Folha de S.Paulo, 16/11/17)

 http://www.brasilagro.com.br/conteudo/bayer-defende-fusao-com-monsanto-no-brasil.html?utm_source=Newsletter&utm_medium=E-mail-MKT&utm_campaign=E-Mkt_RGB/#.Wg3KdrXJ3IU

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