Abalada por uma severa crise econômica, a Venezuela entrou em
default seletivo, depois que não conseguiu pagar 200 milhões de dólares
em bônus globais, declarou a agência de classificação financeira
Standard & Poors, o que ameaça desencadear o não cumprimento de sua
dívida externa gigantesca.
A S&P, a primeira a anunciar o default parcial da Venezuela,
explicou que tomou a decisão após os 30 dias concedidos para a
realização dos pagamentos dos títulos 2019 e 2024.
“Rebaixamos duas notas para ‘D’ (default) e reduzimos a classificação
da dívida soberana em moeda estrangeira a longo prazo a ‘SD’ (default
parcial)”, indicou a S&P.
A agência fez o anúncio poucas horas depois de uma reunião em Caracas
entre o governo de Nicolás Maduro e credores internacionais, aos quais
não foi apresentado um plano concreto para a renegociação de sua dívida
externa, de quase 150 bilhões de dólares.
A reunião durou apenas 25 minutos, mas foi considerada um sucesso
pelo governo de Nicolás Maduro. Os credores, no entanto, saíram
decepcionados.
O vice-presidente Tareck El Aissami leu um texto no qual prometeu
novos encontros para “avaliar propostas”, sem estabelecer datas,
afirmaram à AFP algumas fontes.
El Aissami declarou ao canal estatal de TV que a Venezuela está
“blindada”, mas acusou o governo de Donald Trump de “fechar vias” ao
país com as sanções financeiras.
Maduro anunciou em 2 de novembro que o país buscaria “refinanciar e
reestruturar” a dívida, em consequência de uma “perseguição financeira”
comandada pelos Estados Unidos.
“O default nunca chegará”, afirmou o presidente no domingo.
O governo afirmou que muitos investidores compareceram ao encontro,
mas outras fontes afirmaram à AFP que os estrangeiros não estavam na
reunião porque o governo dos Estados Unidos incluiu El Aissami na lista
de sanções, proibindo seus cidadãos de negociar com ele.
“As sanções dos Estados Unidos sobre a Venezuela e funcionários do
governo provavelmente resultarão em uma longa e difícil negociação com
proprietários de títulos”, opinou a S&P.
– Default esperado –
O não cumprimento dos pagamentos pode ser declarado pelo governo, os
grandes credores ou pelas agências classificação. A S&P é a
primeira.
Em Nova York, a Associação Internacional de Swaps e Derivativos
(ISDA), que reúne proprietários de títulos da dívida, disse que nesta
segunda-feira verificou informações “sobre se ocorreu uma interrupção de
pagamento” de um bônus da PDVSA de 1,161 bilhão de dólares.
O governo garante que já transferiu os recursos, mas os credores não
haviam recebido até sexta-feira. A avaliação vai continuar nesta
terça-feira e, em caso negativo, resultaria no pagamento dos seguros CDS
(Credit Default Swaps).
Caracas afirma que pagou a cota vencida na sexta-feira, de 81 milhões
de juros de um título da PDVSA, assim como os 200 milhões de dívida
soberana que deveriam ser cancelados na segunda-feira.
Com reservas internacionais de apenas 9,7 bilhões de dólares, a
Venezuela deve quitar até o fim do ano pelo menos 1,47 bilhão de
dólares. E para 2018 tem obrigações de mais de US$ 8 bilhões.
Analistas previam que a Venezuela terminaria em default, mas divergiam sobre a data.
– Aposta em China e Rússia –
Maduro anunciou avanços nas negociações com seus aliados: China – uma
dívida de 28 bilhões de dólares – e Rússia, que esta semana assinará um
acordo de reestruturação de três bilhões dos oito bilhões devidos pela
Venezuela.
A assinatura está prevista para quarta-feira, indicou à AFP uma fonte
próxima ao governo russo. O ministério das Finanças do país não
confirmou a informação e nenhum evento público está programado, enquanto
a embaixada da Venezuela em Moscou anunciou uma entrevista coletiva
para a data.
O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Geng
Shuang, disse que “a cooperação sino-venezuelana em termos de
financiamento acontece normalmente”.
“Pensamos que o governo e o povo venezuelano têm a capacidade de resolver o problema da dívida de seu país”, disse.
China e Rússia boicotaram, ao lado de Bolívia e Egito, uma reunião
informal no Conselho de Segurança da ONU sobre a Venezuela, durante a
qual a representante dos Estados Unidos chamou o país sul-americano de
“ameaça”.
Maduro
enfrenta forte pressão internacional. Somando-se a EUA e Canadá, os
chanceleres da União Europeia (UE) adotaram na segunda-feira uma série
de medidas. Entre elas, um embargo de armas e um marco jurídico sobre
futuras sanções contra “responsáveis por graves violações dos direitos
humanos”, com o objetivo de “favorecer” o diálogo na Venezuela.
Caracas chamou as medidas de “hostis” e pediu uma reunião com a diplomacia europeia.
Com a queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das divisas do país,
o governo cortou drasticamente as importações para pagar a dívida, o
que provocou uma severa escassez de alimentos e medicamentos.
De acordo com o Eurasia Group, Maduro busca “liberar recursos” para
importações antes das eleições presidenciais de 2018. A médio prazo, no
entanto, a crise deve piorar e a Venezuela enfrentaria litígios e
possíveis embargos de ativos da PDVSA.
https://www.istoedinheiro.com.br/venezuela-entra-em-default-seletivo-de-sua-divida/
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