Entenda o que é a "bolha" e como ela pode afetar o mercado de imóveis do país, especialmente os financiamentos
Arte: Niandson Leocádio/ Foto: Shutterstock
A crise econômica de 2008 alertou o mundo para os perigos da
existência e inevitável estouro de uma bolha econômica (particularmente
da imobiliária) e as consequências globais disso. Hoje no Brasil,
vivemos um momento de maus presságios quanto à presença de uma bolha
desse tipo envolvendo o mercado imobiliário.
Desde 2011, especialistas apontam e questionam a grande valorização
de imóveis no país, especialmente nas maiores cidades brasileiras.
Muitas registraram subida de mais do que o dobro no preço do metro
quadrado entre 2009 e 2013. Estamos nos aproximando da estabilidade
imobiliária ou criamos uma bolha que em breve chegará ao seu limite?
Relembremos rapidamente como se deu o estouro da bolha dos EUA em
2008. Entre 2001 e 2002 o mercado imobiliário dos Estados Unidos passou
por um processo de expansão. Além de simplesmente ter a casa própria,
comprar imóveis passou a ser objetivo de quem queria fazer
investimentos. O que acontecia era que se comprava um imóvel a baixo
custo, revendendo o bem adquirido por um valor maior, sem que
efetivamente houvesse o pagamento da primeira compra. As transações
aconteciam na base dos empréstimos. Crédito em excesso e juros baixos
resultaram na valorização dos imóveis, e na consequente movimentação do
mercado imobiliário. Bancos ofereceram aos compradores recursos
financeiros vinculados a hipotecas e subprimes (empréstimos de alto
risco).
O problema foi que os beneficiários desses empréstimos jamais pagaram o que deviam, pois na verdade não havia recursos suficientes para cobrir os créditos fornecidos. Resultado: desvalorização da moeda. Para reduzir a inflação, bancos aumentaram a taxa de juros, e o preço dos imóveis caiu, o que acabou com a possibilidade de crédito e consequentemente com o esquema de refinanciamento. Toda a situação virou uma bola de neve formada por inadimplência, inflação, desvalorização de imóveis e quebra no sistema bancário internacional. O que o Brasil tem em comum com esse cenário desastroso?
O problema foi que os beneficiários desses empréstimos jamais pagaram o que deviam, pois na verdade não havia recursos suficientes para cobrir os créditos fornecidos. Resultado: desvalorização da moeda. Para reduzir a inflação, bancos aumentaram a taxa de juros, e o preço dos imóveis caiu, o que acabou com a possibilidade de crédito e consequentemente com o esquema de refinanciamento. Toda a situação virou uma bola de neve formada por inadimplência, inflação, desvalorização de imóveis e quebra no sistema bancário internacional. O que o Brasil tem em comum com esse cenário desastroso?
Em setembro de 2013, Robert Shiller, professor da universidade de
Yale, e um dos maiores estudiosos de preços de ativos e bolhas no mundo,
sugeriu, falando ao site Infomoney: "não há nada que justifique tamanha
alta dos imóveis no Brasil". Segundo o índice FipeZap, indicador que
mede o valor médio do m² em 16 cidades brasileiras, imóveis em São Paulo
e no Rio de Janeiro mais que dobraram de preço nos últimos cinco anos.
Em Los Angeles e Nova York, preços caíram em 25% no mesmo período.
Entre 2011 e 2012, a a inflação do imóvel para venda no Rio chegou a
avançar 161,72%. Nesse sentido, qual a particularidade do Brasil?
Shiller jamais afirmou com certeza a existência de uma bolha no mercado
imobiliário brasileiro, mas lançou uma pergunta intrigante: "os preços
dobraram por fundamentos econômicos ou por um movimento psicológico?".
Foto: Shuterstock |
A resposta não é clara
A alta que experimentamos na última década (particularmente entre
2009 e 2013, nos grandes centros do sudeste) já começa a se desfazer em
2014. O preço médio dos imóveis subiu 0,64% em março na comparação com
fevereiro, segundo o Índice FipeZap Ampliado. A subida abaixo da
inflação já havia ocorrido no mês anterior, então foi a segunda vez
seguida. Pela quarta vez consecutiva os números apresentaram
desaceleração na variação anual.
Na prática, isso quer dizer que imóveis estão valorizando pouco, e os
investimentos estão sendo engolidos pela alta dos preços. A dúvida é se
esse cenário remete simplesmente a uma estabilização do mercado ou ao
estouro da suposta bolha, que ocasionaria uma baixa abrupta nos preços
dos imóveis.
Adolfo Sachsida, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), afirma categoricamente que existe uma bolha. “Quando o governo
direciona e expande o crédito para determinado setor da economia, os
custos de todo o segmento aumentam. Ao final, vai gerando mais crédito
para cobrir o aumento dos custos. Quem quer comprar é obrigado a se
endividar cada vez mais para ter o mesmo bem. Projetos como o Minha
Casa, Minha Vida, as obras civis do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e os estádios da Copa pressionaram os custos com mão
de obra e materiais, sempre em cima de dívida. É bolha, na minha
opinião”, afirma.
O economista fez um estudo sobre o assunto em 2012, denominado
"Existe bolha no mercado imobiliário brasileiro". No cenário envisionado
por Sachsida, após os juros nos EUA subirem e se estabilizarem, o que
deverá acontecer em 2015, a Taxa de Referência subirá também, revelando a
realidade de que os juros imobiliários podem variar ao longo de um
financiamento (atualmente isto não acontece em grandes escalas no
Brasil). O possível perigo decorrente dessa situação é a inadimplência,
que seria um dos alfinetes para estourar a bolha e desvalorizar os
imóveis.
Essa opinião não é unanimidade, porém. O professor João da Rocha
Lima, do núcleo de real estate (mercado imobilário) da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) disse ao site IG
Economia, em setembro do ano passado, que “não basta os preços subirem
de forma pouco usual para se criar a convicção de que existe bolha”.
Segundo ele, são três os motivos que fazem os preços subirem dessa
forma: especulação, excesso de crédito e causas estruturais.
Para Lima, o fator estrutural é o que explica a subida dos preços
imobiliários no Brasil sem que haja bolha. “De 2006 para cá, os custos
dos insumos para a construção cresceram muito além da renda do mercado,
impulsionados pela mudança de regras na ocupação de terrenos, que
encareceu sua aquisição”, afirma. O aumento dos preços seria, nesse
sentido, uma ação das construtoras para jogar esse custo para frente,
para o produto final. O professor afirma ainda, que não há como prever
uma bolha antes que ela aconteça.
Como tudo isso influencia quem pretende financiar ? A resposta é
simples. Iniciar um financiamento pouco antes do possível estouro de uma
bolha imobiliária seria uma furada. O valor financiado não
necessariamente mudaria ao longo do tempo, mas a desvalorização dos
imóveis em geral pode levar ao aumento da inflação.
Com a moeda desvalorizada, a taxa de juros precisaria aumentar, e apesar de existirem limites para essas taxas em determinadas maneiras de conseguir financiamento, isso não é realidade para todas elas. Juros e inflação exorbitantes, além de impossibilidade de mais crédito por parte dos bancos poderia gerar inadimplência, ou um aumento grande da dívida assumida por quem está financiando. No caso de quem investe em imóveis, o perigo é a desvalorização dos mesmos e a consequente perda de recursos ao passar o imóvel para frente.
Com a moeda desvalorizada, a taxa de juros precisaria aumentar, e apesar de existirem limites para essas taxas em determinadas maneiras de conseguir financiamento, isso não é realidade para todas elas. Juros e inflação exorbitantes, além de impossibilidade de mais crédito por parte dos bancos poderia gerar inadimplência, ou um aumento grande da dívida assumida por quem está financiando. No caso de quem investe em imóveis, o perigo é a desvalorização dos mesmos e a consequente perda de recursos ao passar o imóvel para frente.
Pode-se dizer que o mercado imobiliário brasileiro passa por uma
espécie de transição; alguns lugares estão supervalorizados, enquanto
outros estagnaram. Quem quer financiar agora, precisa levar em
consideração a possibilidade de uma bolha geral, ou até mesmo de bolhas
isoladas. A análise do panorama do país somada à observação da
conjuntura local devem guiar o comprador entre 2014 e 2015. Levando em
conta a possibilidade do estouro de uma bolha imobiliária, resta esperar
e acompanhar o mercado com paciência, antes de investir ou iniciar um
financiamento.
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