quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Setor privado se antecipa e lança as bases para acordo Brasil-Japão

Akio Kon/Bloomberg

Por Daniel Rittner | De Brasília
 
Os empresários do Brasil e do Japão decidiram se antecipar à máquina pública e vão trabalhar, de forma inédita e antes mesmo de qualquer iniciativa governamental, nas bases de um tratado de livre comércio entre os dois países.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Nippon Keidanren, maior entidade empresarial japonesa, assinaram ontem um acordo de cooperação no qual se comprometem, em um prazo de 12 meses, a analisar conjuntamente os impactos de uma eventual liberalização comercial. O escopo dos estudos que serão feitos pelo setor privado inclui outras vertentes: serviços, investimentos, propriedade intelectual, barreiras técnicas e facilitação de vistos de viagem.

 

A ideia dos empresários é entregar os resultados aos dois governos, com a identificação de setores e produtos que podem ser cobertos pela liberalização comercial, facilitando o lançamento de negociações formais. Além do estudo, serão preparadas recomendações sobre possíveis medidas e ações fora do âmbito de um tratado de livre comércio, como um acordo capaz de eliminar barreiras sanitárias e fitossanitárias.

"Brasil e Japão são parceiros tradicionais, mas precisamos explorar novas complementariedades", diz o diretor de desenvolvimento industrial da CNI, Carlos Abijaodi. "O contexto mudou e precisamos de novas iniciativas para estreitar as relações entre os dois países", acrescenta o empresário, que participa da 17ª reunião do comitê bilateral de cooperação econômica, em Tóquio.

De acordo com a CNI, tomar a dianteira e preparar o terreno para negociações comerciais entre governos é algo relativamente comum em países desenvolvidos, mas que acontece pela primeira vez no caso do Brasil.
Negociadores brasileiros veem com ceticismo a perspectiva de desdobramentos favoráveis no curto prazo. O Brasil, conforme lembram, só discute acordos comerciais junto com os demais sócios do Mercosul. E a maioria dos países ricos demonstra baixa disposição, segundo admitem reservadamente esses negociadores, em abrir novas discussões com o bloco sul-americano como um todo - reflexo, em boa medida, da perda de credibilidade da Argentina no cenário internacional. O temor de muitos países é entrar em frentes de negociação que se arrastem durante anos, sem resultados concretos, como nas conversas entre o Mercosul e a União Europeia.

Apesar de ter registrado picos em alguns anos, o comércio bilateral entrou em trajetória de relativa estagnação. Mesmo assim, o Japão ocupa a quinta posição entre os principais destinos das exportações brasileiras, que se concentram em produtos básicos: minério de ferro, milho em grãos e café cru. Na mão contrária, o Japão é o sétimo colocado entre os maiores fornecedores brasileiros, com destaque para bens industrializados - como automóveis, autopeças, motores para veículos, circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos. Os manufaturados representam 99% do total.

Por outro lado, empresas japonesas investiram US$ 2,5 bilhões no Brasil só em 2013 e continuam na lista dos dez primeiros investidores. Fábricas da Toyota, Honda, Mitsubishi, Brasil Kirin, Cenibra, Ajinomoto, Panasonic e Toshiba são alguns exemplos.

Há casos ainda de atuação conjunta entre multinacionais, como a joint venture entre Mitsui e empresas controladas pela Vale para a exploração mineral, na Austrália.


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