O
Banco do Brasil pretende mais do que dobrar seus gastos com advogados
terceirizados a partir do ano que vem. De 2015 a 2019, serão destinados
193 milhões por ano para essa rubrica, contra R$ 71 milhões pagos até
agosto deste ano e R$ 84 milhões no ano passado. O volume atraiu 161
bancas, que agora se engalfinham em uma licitação que foi suspensa pela Justiça na última sexta-feira (29/8), por meio de uma liminar que foi derrubada na tarde desta quarta-feira (3/9).
O levantamento dos valores foi obtido com exclusividade pela revista eletrônica Consultor Jurídico.
Questionado sobre o que teria motivado o aumento, o banco se limitou a
dizer que o número “é apenas uma previsão de gastos, para efeito do
planejamento orçamentário da empresa”.
Passado | |
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Ano | Total pago (R$) |
2014* | 71.098.953,19 |
2013 | 84.066.181,32 |
2012 | 72.777.725,62 |
2011 | 81.980.248,16 |
2010 | 88.730.715,16 |
2009 | 39.398.221,32 |
2008 | 25.661.507,42 |
2007 | 21.871.801,49 |
2006 | 12.038.772,56 |
2005 | 10.149.952,61 |
2004 | 5.027.440,03 |
*até 15 de agosto de 2014 |
A
concorrência, apontada com a maior já feita no Brasil para serviços
jurídicos, servirá para que o Banco do Brasil contrate escritórios para
cuidar, de imediato, de mais de 230 mil processos nas áreas trabalhista,
penal, administrativa, tributária e de recuperação de crédito. Essa é a
demanda imediata, mas o número tende a aumentar, pois o banco tem mais
de 1 milhão de processos na Justiça, sendo que os advogados internos
cuidam apenas dos estratégicos, deixando os de massa e de menor
complexidade para terceirizados. Pessoas ligadas à instituição afirmam
que, devido às proporções que qualquer problema nessa licitação pode
tomar, as denúncias têm preocupado funcionários e advogados da
companhia.
Suspensa na última sexta-feira pelo juiz Marcos
Pimentel Tamassia, da 4ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, a
concorrência já virou até mesmo assunto de Polícia e do Tribunal de Contas da União. Mais de 30 recursos administrativos, seis representações no TCU e até uma representação criminal envolvem o caso.
Profissionais
de escritórios envolvidos no processo da concorrência afirmam que,
depois da decisão suspendendo a licitação, já esperavam uma “chuva” de
liminares e de recursos judiciais. Cinco dias depois, o mesmo juiz
derrubou a liminar, pois, segundo ele, "houve o atendimento do objeto
principal da demanda".
Futuro | |
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Ano | Provisionamento (R$) |
2015 | 193.360.000,00 |
2016 | 193.360.000,00 |
2017 | 193.360.000,00 |
2018 | 193.360.000,00 |
2019 | 193.360.000,00 |
Pontuação revisada
A mudança no entendimento de Tamassia se deu porque no mesmo dia em que
foi concedida a liminar que suspendia o certame, o banco publicou a
lista com os resultados e pontuações dos concorrentes, recontadas depois
do julgamento de recursos administrativos. Na nova contagem, o banco
recalculou a pontuação extra oferecida a bancas que tivessem
profissionais registrados em mais de uma seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil. Antes, o Banco do Brasil havia atribuído esses
pontos a todos os escritórios, mesmo os que tinham advogados inscritos
apenas na seccional em que a banca atuava. Agora, no novo resultado, os
pontos foram só para aqueles que seguiram o critério previsto.
Na
comparação entre a nova pontuação e a primeira publicada, é possível
notar que o escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, pivô de
grande parte dos recursos contra a disputa, ficou em uma colocação pior
do que tinha em 23 categorias e regiões licitadas (itens). Em dez desses
casos, a banca era a primeira colocada.
Mas isso não significa
que ela ficou de fora. O edital da licitação prevê a quantidade de
escritórios a serem contratados imediatamente em cada área. Por exemplo,
para atuar na área cível, visando à cobrança pré-processual e
processual de dívidas, serão contratados, imediatamente, dois
escritórios no Maranhão. Mas, no próprio documento, o Banco do Brasil se
reserva ao direito de contratar outros escritórios que forem aprovados
na concorrência “de acordo com sua necessidade e conveniência”,
ressalvando que será observada a ordem decrescente de pontuação na
licitação.
Na primeira divulgação de pontuação, o Nelson Wilians
foi o primeiro colocado em 30 das 54 categorias e regiões licitadas. A
banca é acusada de simular a contratação
de advogados para que estes constassem na lista de profissionais no
momento da concorrência e aumentassem sua pontuação. A direção do
escritório nega quaisquer irregularidades.
Embora
tenha perdido posições em 23 casos, em 37 itens o Nelson Wilians
manteve sua colocação e, em dois casos, melhorou — ambos relativos a São
Paulo, onde há o maior volume de processos do banco.
Sobre a nova pontuação da banca, Nelson Wilians Rodrigues (foto),
sócio e presidente do escritório, diz que a decisão da Comissão de
Credenciamento do Banco do Brasil de anular parcialmente um quesito de
pontuação extra, ao reconhecer a existência de vício de legalidade, “foi
uma decisão insculpida na legislação vigente, com vistas a garantir a
observância a todos os pressupostos legais”.
“Independentemente
do número de estados, do volume de processos, das colocações no
certame ou do porte da banca, todos que estão habilitados e serão, a
tempo e modo, credenciados, estarão imbuídos no mesmo espírito de ser
uma efetiva extensão do Banco do Brasil nas causas em que couber o
patrocínio, defendendo os interesses dessa respeitada instituição
financeira”, afirmou Wilians, por e-mail.
*Texto alterado às 19h42 do dia 3 de setembro de 2014 para atualização.
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