Bruno Kelly / Reuters
Manifestantes contra o impeachment e com bandeiras do PT choram após a aprovação no Senado
São Paulo — Nesta quarta-feira (31), Dilma Rousseff sofreu impeachment
por 61 votos a 20 no Senado. Isso encerra um período de quase 14 anos
com o Partido do Trabalhadores à frente do governo federal brasileiro.
Após dois mandatos de Lula e dois de Dilma (um interrompido agora), o PT se vê em situação de naufrágio político.
“Nós voltaremos para continuar a nossa jornada”, afirmou Dilma em seu
primeiro pronunciamento após ser cassada. “Nada poderá nos fazer
recuar.”
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Agora, a legenda enfrenta o desafio de lançar uma estratégia para
restabelecer a sua imagem e lançar uma candidatura nas próximas eleições
presidenciais.
O ex-presidente Lula – que lidera as pesquisas de intenção de voto para o cargo
– afirmou que o PT precisar conduzir rapidamente uma fase pós-Dilma com
foco em 2018. Nos bastidores circula a ideia de abreviar o atual
mandato da direção petista e antecipar as eleições internas com o fim de
renovar a cara do partido.
No mês passado, durante um evento, Lula sinalizou que deve entrar na
disputa eleitoral. “Não é primeira vez que tentam me destruir. Me parece
que o objetivo principal deles é criar qualquer impedimento legal para
que eu não dispute mais uma eleição”, afirmou. “Mas eles façam o que
quiserem, porque em 2018 nós vamos voltar a governar esse país através
do voto democrático.”
Para especialistas consultados por EXAME.com, o PT perde forças, mas não
deve sofrer um colapso por inteiro na fase pós-impeachment. Contudo,
ainda há um deserto para ser atravessado em dois anos. Veja a previsão
de cada um deles:
Para a consultoria, as reviravoltas que cercaram a política brasileira
devem aumentar o número de candidatos competitivos na eleição
presidencial de 2018. “Isso deve acontecer devido à redução do
protagonismo de PT e PSDB no cenário partidário nacional”, diz o
cientista político e sócio da Pulso Público Vitor Oliveira. “Agora não
sabemos quem é o cara mais forte para disputar a próxima eleição
federal.”
Na avaliação de Oliveira, seria ingenuidade dizer que o PT sairá do
processo de impeachment do jeito que entrou. Apesar disso, o partido
“definitivamente não vai sofrer uma morte súbita”, em sua opinião.
“O PT é exemplo de um partido muito enraizado no Brasil”, afirma. “Por
mais que a imagem da legenda fique arranhada, isso não significa que o
seu legado também vai sofrer. O petismo já sobreviveu a outras crises.”
Segundo a consultoria, agora é o momento do PT apresentar uma renovação.
“Há figuras no campo petista que podem resgatar o protagonismo
nacional. O próprio Fernando Haddad [prefeito da cidade de São Paulo] é
um sinal de que tem gente que ainda aposta na força do partido” conclui.
Oswaldo Amaral, cientista político da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Para o professor Oswaldo Amaral, a votação plenária foi um movimento
marcante na história do partido. Essa não é, porém, a primeira crise que
o PT enfrenta, segundo o cientista político.
“Quando Fernando Henrique Cardoso derrotou Lula na eleição de 1994, o PT
mergulhou em uma crise muito profunda”, diz. “Agora, é necessário fazer
uma nova revisão. Não se desmonta uma máquina como o PT do dia para
noite, o partido não vai morrer.”
Na análise de Amaral, a saída de Dilma vai abrir espaço para a disputa
de 2018. “No jogo eleitoral, o ex-presidente Lula talvez seja a única
figura que poderá assumir o papel de protagonista pelo PT”, afirma.
“Muitos brasileiros ainda apoiam a política que ele faz.”
Consultoria Prospectiva
Em linhas gerais, a consultoria diz que ainda não está clara a rota que o
partido deve traçar nessa nova fase. Diante das incertezas em torno do
PT, os analistas da Prospectiva dizem que tudo pode acontecer nos
próximos dois anos – tanto para o bem, como para mal do partido.
“O discurso da legenda ainda é muito forte e não precisa ser
reinventado”, diz Thiago Vidal, coordenador de análise política da
consultoria. “A agenda, porém, não acompanhou as mudanças mundiais e
apresenta características do século XX, e não XXI.”
Ele explica que apesar da queda de Dilma não representar o fim da era
PT, a direção do partido precisa incluir pautas ligadas aos direitos
sociais da população. “Eles precisam parar de querer defender somente o
direito dos trabalhadores e acompanhar pautas menores que outros
partidos começaram a trabalhar, como a sustentabilidade e os direitos
LGBT, por exemplo.”
No que tange a corrida pela presidência da República, a consultoria diz
que Lula é a melhor aposta neste momento. “Como o PT está desgastado
como um todo, só ele pode garantir uma chance maior de vitória em 2018”,
diz Thiago Vidal. “Sem ele, dificilmente o PT vai conseguir emplacar
algum candidato.”
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