Por J.R.Guzzo
... Apesar do enorme esforço na máquina oficial, nas lideranças
políticas e nas classes intelectuais para que tudo venha a dar errado.
Veio, passou e foi embora, sem que ninguém tivesse prestado atenção
especial nela, uma notícia muito mais relevante para os brasileiros do
que o futuro político-penal do senador Renan Calheiros, a possível
candidatura do ex-presidente Lula nas eleições presidencias de 2018,
2022 e 2026 ou as novas políticas da Rede Globo para desencorajar o
assédio sexual entre os atores de suas novelas.
Essa notícia é a última safra brasileira de grãos de 2016/2017 – mais
uma vez, a maior que o Brasil já teve em toda a sua história. Apenas 20
anos atrás, na safra 1996/1997, a produção agrícola integral, somando
todos os produtos colhidos, chegava a pouco menos de 80 milhões de
toneladas, com as novas fronteiras de cultivo, a mecanização e os
avanços da tecnologia já funcionando a todo vapor Brasil afora.
Acaba de ser anunciado, agora, que a safra 2016/2017 praticamente
passou de 220 milhões de toneladas. Na verdade, chegou-se perto dessa
cifra apenas com soja e milho – 110 milhões de toneladas de soja, mais
de 90 milhões de toneladas de milho.
Não há rigorosamente nada, na economia brasileira de hoje,
funcionando tão bem quanto a agricultura, a pecuária e o sistema de
atividades econômicas que gira em torno do aproveitamento da terra. É
dentro das mesmas fronteiras e sob o mesmo governo, um outro país – sem
13 milhões de desempregados, crescimento por volta do zero, indústria em
desmanche, propriedades à venda, nulidade tecnológica, negócios em
estado de coma, capacidade inexistente para competir numa economia
moderna.
Naturalmente, como acontece com a maioria das poucas coisas que dão
certo no Brasil, há um imenso esforço na máquina oficial, nas lideranças
políticas e nas classes intelectuais para que tudo venha a dar errado o
mais cedo possível. O governo federal e os governos estaduais, como um
todo, até percebem a função vital da agropecuária para sustentar a
economia do país e salvar o balanço de pagamentos com a geração de
divisas.
O ministro da Agricultura é um homem ligado à produção, tem grande
experiência na área e se importa mais com soluções do que com teorias. O
presidente da República, os demais ministros e boa parte dos membros do
Congresso apoiam o setor rural. Mas suas ordens frequentemente não vão a
lugar nenhum.
O monstruoso aparelho burocrático abaixo deles ignora, sabota e age
contra as instruções que recebe. Facções militantes da Polícia Federal,
do Ministério Público e da magistratura movem uma guerra permanente
contra os agricultores de sucesso; só deixam em paz os que não produzem
nada.
Executam, no fundo, o que mandam fazer os manuais do MST e todas as
demais espécies de parasitas que ganham a vida cultivando ideias mortas
há 50 anos, como a ‘reforma agrária’, ou já mortas ao nascer, como as
atuais nações sobre a ‘agricultura familiar’ e a fé no retrocesso
tecnológico do campo.
Tudo isso vem com o horror ao ‘agronegócio’, que toda essa gente
considera uma ameaça ao Brasil. Números recorde como os da última safra
são vistos com alarme e não como uma boa notícia; provam o avanço do
‘capitalismo na agricultura’, e isso, em sua opinião, é um desastre.
A esquerda em peso, com a ajuda entusiasmada dos que veem a terra
como uma espécie de entidade religiosa ou sobrenatural, se escandaliza
com a aplicação de ‘agrotóxicos – mais se refere à necessidade de
proteger as culturas e combater as pragas com o uso de defensivos
agrícolas.
É contra o aprimoramento das sementes, o desenvolvimento da
tecnologia à agropecuária – tudo isso leva ao aumento da produtividade; e
terra mais produtiva, capaz de produzir alimentos cada vez mais
abundantes, variados e baratos, é um perigo para o edifício ideológico
da ‘reforma agrária’.
A resposta do poder público é apaziguar os inimigos da agricultura
com verbas oficiais, cestas básicas, apoio para invasões de terra e
recuso em assegurar direitos. Até agora não tem conseguido deter o
avanço da produção
(Revista Exame, edição nº 1136; Digitado pelo
BrasilAgro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário