Marcelo Odebrecht disse em depoimento de delação premiada que tinha
influência nas decisões do governo devido à relação que mantinha, por
exemplo, com Guido Mantega.
O empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora
Odebrecht, afirmou em depoimento que interviu junto ao então ministro da
Fazenda Guido Mantega para que fosse alterado o texto de um decreto que
tratava de benefícios para produtores de etanol.
O delator disse aos investigadores que, a pedido dele, técnicos do Ministério da Fazenda se reuniram com representantes da União da Indústria de Cana de Açúcar (Única), associação que representa os produtores de açúcar e etanol, para “vir um pacote razoável” para o setor.
A declaração foi dada em depoimento ao Ministério Público Federal, dentro de acordo de delação premiada no âmbito da Lava Jato.
“Eu
tinha uma reunião de Guido [Mantega] por outra razão. Quando eu estava
esperando Guido, essa reunião foi em Brasilia, eu estava esperando ele
naquela ante sala que tem uma sala de reunião, ele entra pela sala dele.
Eu não me lembro quem, mas alguém da equipe dele disse: 'Ó, Marcelo,
esse é o decreto do pacote do etanol que vai sair amanhã'. Aí eu li
rápido e disse: 'Isso não resolve, não é nada disso. Aí o governo vai
dizer que fez o pacote e não vai resolver'. Em seguida, eu tive a
reunião com o Guido e disse: 'Segura esse negócio e vamos botar os
técnicos da Única e o seu pessoal [do Ministério da Fazenda] pra
resolver esse assunto e vir um pacote razoável'. E aí foi feito isso”,
relatou Odebrecht aos investigadores.
Na sequência, Odebrecht avalia
que o pedido de benefício pelo setor de etanol “era legítimo”, mas que
“o pacote ia sair prejudicado” se não fosse pela influência dele junto
ao governo, em especial junto ao então ministro Mantega.
“Quer dizer,
é aquela história: era legítimo, mas com certeza se eu não tivesse esse
acesso [a Mantega], o pacote ia sair e ia ser prejudicado. Então, eu
consegui isso, teve a reunião [entre técnicos da Fazenda e da Única],
foi o pacote que saiu junto com o REIQ. Esse foi um exemplo”, afirmou
Odebrecht. REIQ é o Regime Especial da Indústria Química, que dá
benefícios às empresas do setor.
"Infelizmente ele via isso como um
benefício que ele estava dando pra gente, com certeza pesava na cabeça
dele quando ele fazia um pedido pra doar de campanha e algumas coisas,
não tudo, eu conseguia resolver por esses acesso que eu tinha a ele.
Quer dizer, se tivesse uma empresa ou um setor que não tivesse esse
acesso, que não tivesse esse compromisso que eu tinha com eles,
provavelmente não tinha resolvido. [...] O que foi resolvido com certeza
teve peso importante no fato de que eu tinha esse acesso a ele",
completou (G1, 17/4/17)
http://www.brasilagro.com.br/conteudo/fazenda-mudou-decreto-para-setor-de-etanol-apos-intervencao-diz-odebrecht.html?utm_source=Newsletter&utm_medium=E-mail-MKT&utm_campaign=E-Mkt_RGB/
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