Rei Carl XVI Gustaf participou de encontrou com empreendedores digitais na cidade de São Paulo
Decoração de inspiração escandinava na sala de estar, eletrodomésticos da marca Electrolux na cozinha e, dependendo do tamanho da garagem, um carro Volvo ou um caminhão Scania estacionado.
A indústria sueca e seu design são
reconhecidos no Brasil — a própria Electrolux, por exemplo, está
presente no Brasil desde 1926. Mas cada vez mais o país nórdico quer
estar presente na vida digital dos brasileiros.
Para dar a dimensão do interesse da Suécia
no mercado digital brasileiro, basta dizer que o rei Carl XVI Gustaf,
em visita ao Brasil esta semana, fez questão de participar de uma
reunião com startups
e empreendedores suecos radicados por aqui. O resultado do encontro,
acompanhado por EXAME
Hoje, não poderia ter sido mais animador: do que
depender de sua majestade, a vinda de mais empresas de tecnologia para o
Brasil será incentivada.
Uma das principais sugestões de Carl XVI Gustaf, de 70 anos e usuário
de um smartphone, foi um encontro entre empresários suecos dentro de
seis meses para trocar as experiências sobre o mercado nacional. “Todo
mundo ama o Brasil. As pessoas gostariam de vir para cá, só estão com
medo. É uma questão de aumentar o intercâmbio de informações”, afirmou
Joakim Pops, da WebRock Ventures, um fundo de investimento sueco voltado
para o mercado brasileiro.
O medo sobre o Brasil é justificado. A retração do PIB em 2016 foi de
3,6%. Em 2015, a economia já havia recuado 3,8%. Segundo os
empreendedores ouvidos por EXAME Hoje, o cenário de instabilidade
política também não ajudou. Mas, por outro lado, o panorama digital
brasileiro é animador: são quase 110 milhões de brasileiro com acesso à
internet — 102 milhões deles são usuários do Facebook — e uma adoção
crescente de smartphones. Até o final de 2018, segundo a empresa de
tecnologia Adobe, 45% do tráfego de internet no Brasil será via
smartphone, atualmente esse percentual está em 36%. O Brasil terá,
segundo o relatório, uma taxa de adoção mais rápida que a da China.
São esses números que têm animados os suecos. “Estamos tentando
encontrar novas áreas em que podemos ampliar nossa cooperação no
contexto tecnológico. Não posso dizer sobre uma área específica, mas
temos interesse diversos. Incluindo, claro, empresas jovens e pequenas”,
afirmou Carl XVI Gustaf, em entrevista a EXAME Hoje.
No momento, Brasil e Suécia trabalham juntos na versão brasileira dos
aviões de caça Gripen, um projeto originalmente da empresa aeroespacial
sueca Saab. Na visão do governo sueco, como o projeto do Gripen envolve
também transferência tecnológica, seria interessante incentivar a vinda
de startups que explorem novas tecnologias que venham a ser criadas no
projeto do caça.
Essa relação próxima com as indústrias tradicionais, como a aviação, é
uma das razões para o bem sucedido mercado de startups sueco e também
pode ser benéfico para o Brasil. “Temos uma base industrial muito
avançada e empresas que trabalham com alta tecnologia, como a Volvo,
Ericsson e Saab. E mais: essas empresas criam sempre novos modelos de
negócio. É muito comum também, que os gerentes dessas empresas saiam
para montar suas startups a partir de ideias tidas dentro dessas
companhias”, afirma Per-Arne Hjelmborn, embaixador da Suécia no Brasil.
Com uma indústria forte, educação de ponta e uma economia estável,
não chega a surpreender que a capital Estocolmo seja um importante hub
europeu de inovação. A cidade é sede, por exemplo, da empresa de
streaming de música Spotify e viu florescer também empresas como a King,
do jogo Candy Crush Saga, com mais de 200 milhões de usuários ativos, e
o software de comunicação Skype, comprado pelo Microsoft, em 2011, por
8,5 milhões de dólares.
Só que apesar de ser um polo para as startups, Estocolmo sofre com
uma crise habitacional e falta de mão de obra. Não há casas e nem
escritórios para todos os interessados em residir na cidade. As filas
para conseguir alugar um apartamento demoram, em média 9 anos. Em alguns
bairros, segundo a BBC, podem demorar até 20 anos. Do mesmo modo, falta
de programadores e outros profissionais de TI no país escandinavo. Até
por isso, as empresas veem a expansão internacional como necessidade e
não apenas como uma possibilidade de aumentar o faturamento.
Com o Brasil voltando a crescer no futuro e mais fazer seu forte
mercado digital, ainda haveria algo capaz de brecar a chegada de mais
empresas suecas ao Brasil? Segundo os empreendedores, a tributação
confusa ainda assusta. Mas a dica recebida pelo rei de um executivo
tentou amenizar a questão: “Eu falaria para as empresas virem para cá,
mas recomendaria encontrar um parceiro para entender a burocracia”. É o
jeitinho sueco de fazer negócios.
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