A
diversidade de gênero, raça e cultura leva empresas a conquistar lucros
maiores. Aumentar a presença feminina nas diretorias e conselhos, agora,
é uma questão de resultados
Equipe
diversificada: Adriana Rillo, diretora da Saint-Gobain (à frente), e
sua equipe. as mulheres são maioria nos processos seletivos (
foto: Claudio Gatti)
A
atriz americana Patricia Arquette, ganhadora do Oscar de melhor atriz
coadjuvante deste ano, por seu papel no filme Boyhood, surpreendeu
Hollywood com seu discurso ao receber o cobiçado troféu. Após os
tradicionais agradecimentos, ela encerrou sua participação conclamando
as mulheres a lutarem por seus direitos e, especialmente, para igualar
seus salários com os dos homens. Suas palavras ganharam notoriedade
mundial e chamaram a atenção para o fato de que as mulheres, por mais
que tenham conquistado um papel decisivo na sociedade nos últimos dois
séculos, ainda são minoria nas diretorias de empresas, em cargos de
presidência e, na média, ganham menos do que seus colegas de trabalho
masculinos, no mesmo cargo.
Existem inúmeras explicações para
isso. Há a questão da maternidade, por exemplo. O machismo na sociedade
ainda é muito forte e os homens, de modo geral, têm mais facilidade para
escolher entre o emprego e a família, deixando para as mulheres o peso
de ter de conciliar o lar, os filhos e a carreira. Mas,
independentemente dos motivos, as empresas estão percebendo que a falta
de mulheres em cargos de chefia é extremamente danosa para os negócios.
“A
diversidade aumenta a criatividade e leva a melhores decisões”, afirma
Katherine W. Phillips, professora de liderança e ética da Universidade
de Columbia, nos Estados Unidos, em artigo publicado na revista Scientific American.
“A
diversidade melhora os resultados e viabiliza quebras de paradigmas e
inovações.” Diversos estudos mostram que quanto mais mulheres, melhor.
Um deles, elaborado pelos professores Cristian Deszö, da Universidade de
Maryland, e David Ross, da Columbia, aponta que as empresas com mais
mulheres em cargos de direção apresentam, em média, valor de mercado US$
42 milhões maior do que as que possuem menos presença feminina. Em
2012, um estudo feito pelo banco Credit Suisse, com 2,6 mil companhias,
mostrou que aquelas com, no mínimo, uma mulher no conselho conseguiam
resultados melhores e ofereciam mais retorno aos seus acionistas.
Para
as empresas certificadas pelo Top Employers Institute, a diversidade
ganhou um papel central na gestão de pessoas. Melhorar as condições para
que o público feminino tenha mais facilidade na carreira, igualando
suas chances de subirem na hierarquia da corporação com a dos homens, é
um dos pilares do RH moderno. “É natural, em uma empresa com 17 mil
pessoas, como a nossa, que haja mais mulheres do que homens nos
processos seletivos”, afirma Adriana Rillo, diretora de recursos humanos
da subsidiária brasileira da Saint Gobain, conglomerado francês de
setores como cerâmica, vidro e varejo da construção civil. “Hoje,
percebemos, também, que as mulheres estão mais preparadas e que entram
na disputa por uma promoção com muito mais força.”
Segundo
Adriana, quando buscam um objetivo, as executivas se prepararam mais. O
tempo investido pelo público feminino nos estudos também é maior.
Aumentar a presença de mulheres em cargos de direção é uma diretriz da
cúpula da Saint-Gobain na França. A ideia é de incentivar uma mudança
cultural, trabalhando contra preconceitos, mas cuidando para não
promover algum tipo de “discriminação ao contrário.” “A questão da
diversidade está inserida no plano estratégico da empresa, que é
divulgado para todos os funcionários”, afirma Adriana. “Mas, como toda
mudança de mentalidade, leva tempo.” Em casos específicos, existe a
possibilidade de instituir cotas. Trata-se de uma medida controversa,
que tende a ficar restrita a empresas públicas.
Entre as
companhias ouvidas pela DINHEIRO, apenas o Banco do Brasil adota esse
tipo de prática. A DHL tem se beneficiado de outro tipo de diversidade: a
regional e a cultural. Com operações em quase todas as regiões do
Brasil, a companhia possui uma variedade grande de culturas, que ela
busca incentivar ao promover uma enorme mobilidade interna. “Hoje estou
no interior de São Paulo, mas já passei pelo Nordeste e pelos Estados
Unidos”, afirma o baiano Maurício Barros, vice-presidente de operações
da companhia. “Amanhã posso estar em qualquer lugar.” Essa grande
diversidade regional, segundo o executivo, favorece a resolução de
problemas, uma habilidade imprescindível no setor de logística.
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