terça-feira, 10 de março de 2015

Quanto mais mulheres, melhor

Equipe diversificada: Adriana Rillo, diretora da Saint-Gobain (à frente), e sua equipe. as mulheres são maioria nos processos seletivos

A diversidade de gênero, raça e cultura leva empresas a conquistar lucros maiores. Aumentar a presença feminina nas diretorias e conselhos, agora, é uma questão de resultados


  • // Por: Rodrigo Caetano

Equipe diversificada: Adriana Rillo, diretora da Saint-Gobain (à frente), e sua equipe. as mulheres são maioria nos processos seletivos ( foto: Claudio Gatti)
 
A atriz americana Patricia Arquette, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante deste ano, por seu papel no filme Boyhood, surpreendeu Hollywood com seu discurso ao receber o cobiçado troféu. Após os tradicionais agradecimentos, ela encerrou sua participação conclamando as mulheres a lutarem por seus direitos e, especialmente, para igualar seus salários com os dos homens. Suas palavras ganharam notoriedade mundial e chamaram a atenção para o fato de que as mulheres, por mais que tenham conquistado um papel decisivo na sociedade nos últimos dois séculos, ainda são minoria nas diretorias de empresas, em cargos de presidência e, na média, ganham menos do que seus colegas de trabalho masculinos, no mesmo cargo.

Existem inúmeras explicações para isso. Há a questão da maternidade, por exemplo. O machismo na sociedade ainda é muito forte e os homens, de modo geral, têm mais facilidade para escolher entre o emprego e a família, deixando para as mulheres o peso de ter de conciliar o lar, os filhos e a carreira. Mas, independentemente dos motivos, as empresas estão percebendo que a falta de mulheres em cargos de chefia é extremamente danosa para os negócios.

“A diversidade aumenta a criatividade e leva a melhores decisões”, afirma Katherine W. Phillips, professora de liderança e ética da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em artigo publicado na revista Scientific American.

“A diversidade melhora os resultados e viabiliza quebras de paradigmas e inovações.” Diversos estudos mostram que quanto mais mulheres, melhor. Um deles, elaborado pelos professores Cristian Deszö, da Universidade de Maryland, e David Ross, da Columbia, aponta que as empresas com mais mulheres em cargos de direção apresentam, em média, valor de mercado US$ 42 milhões maior do que as que possuem menos presença feminina. Em 2012, um estudo feito pelo banco Credit Suisse, com 2,6 mil companhias, mostrou que aquelas com, no mínimo, uma mulher no conselho conseguiam resultados melhores e ofereciam mais retorno aos seus acionistas.

Para as empresas certificadas pelo Top Employers Institute, a diversidade ganhou um papel central na gestão de pessoas. Melhorar as condições para que o público feminino tenha mais facilidade na carreira, igualando suas chances de subirem na hierarquia da corporação com a dos homens, é um dos pilares do RH moderno. “É natural, em uma empresa com 17 mil pessoas, como a nossa, que haja mais mulheres do que homens nos processos seletivos”, afirma Adriana Rillo, diretora de recursos humanos da subsidiária brasileira da Saint Gobain, conglomerado francês de setores como cerâmica, vidro e varejo da construção civil. “Hoje, percebemos, também, que as mulheres estão mais preparadas e que entram na disputa por uma promoção com muito mais força.”

Segundo Adriana, quando buscam um objetivo, as executivas se prepararam mais. O tempo investido pelo público feminino nos estudos também é maior. Aumentar a presença de mulheres em cargos de direção é uma diretriz da cúpula da Saint-Gobain na França. A ideia é de incentivar uma mudança cultural, trabalhando contra preconceitos, mas cuidando para não promover algum tipo de “discriminação ao contrário.” “A questão da diversidade está inserida no plano estratégico da empresa, que é divulgado para todos os funcionários”, afirma Adriana. “Mas, como toda mudança de mentalidade, leva tempo.” Em casos específicos, existe a possibilidade de instituir cotas. Trata-se de uma medida controversa, que tende a ficar restrita a empresas públicas.

Entre as companhias ouvidas pela DINHEIRO, apenas o Banco do Brasil adota esse tipo de prática. A DHL tem se beneficiado de outro tipo de diversidade: a regional e a cultural. Com operações em quase todas as regiões do Brasil, a companhia possui uma variedade grande de culturas, que ela busca incentivar ao promover uma enorme mobilidade interna. “Hoje estou no interior de São Paulo, mas já passei pelo Nordeste e pelos Estados Unidos”, afirma o baiano Maurício Barros, vice-presidente de operações da companhia. “Amanhã posso estar em qualquer lugar.” Essa grande diversidade regional, segundo o executivo, favorece a resolução de problemas, uma habilidade imprescindível no setor de logística.

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