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Sala de aula: as instituições de ensino passaram a buscar alternativas para atenuar a situação financeira de seus estudantes
Rio de Janeiro - Cerca de 80 por cento dos calouros que pretendem usar o financiamento estudantil do governo
federal podem ficar fora do programa, e as instituições de ensino
passaram a buscar alternativas para atenuar a situação financeira de
seus estudantes após as mudanças do Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies).
O Ministério da Educação (MEC)
já sinalizou que o cadastro de novos alunos ficará restrito a um terço
do efetuado no ano passado, disse à Reuters Romário Davel, consultor da
Hoper, uma das principais consultorias focadas no mercado de educação do
país.
Ele acrescentou que o número pode ser ainda menor que o divulgado pelo ministério.
"Na prática, a queda é de mais de 80 por cento de alunos do Fies",
disse, referindo-se às dificuldades dos alunos entrantes em se cadastrar
no programa neste ano. Ao final de fevereiro, entidades do setor
educacional esperavam uma demanda de 500 mil estudantes para novos
contratos.
Após anunciar mudanças nas regras do financiamento no final do ano
passado, o MEC optou por fechar o sistema do Fies para cadastro e
reabri-lo entre 23 de fevereiro e 30 de abril. Até então, ele estava
disponível continuamente.
Desde então, os alunos vêm enfrentando lentidão e instabilidade no
sistema, além de novas regras que vão sendo conhecidas a conta-gotas.
Para os novos contratos, os estudantes estão ficando em média seis horas
em frente ao computador para conseguir efetivar uma inscrição, disse
Davel, da Hoper.
Tradicionalmente, o primeiro semestre representa cerca
de 35 por cento do número total de alunos de uma instituição de ensino,
também segundo a consultoria.
Além da pressão sobre a captação de alunos, o resultado financeiro das
instituições de ensino também deve ser prejudicado, segundo a
consultoria. A margem de contribuição dos alunos iniciantes costuma ser
mais alta do que a de veteranos, devido a atividades acadêmicas de custo
menor para as empresas.
"Há expectativa de queda significativa em número (de alunos), mas no
resultado financeiro o impacto será ainda maior", disse Davel, estimando
que os primeiros impactos aparecerão nos balanços do primeiro
trimestre, tradicionalmente o mais relevante para as companhias.
CORRENDO POR FORA
Enquanto isso, cresce o espaço para o crédito estudantil privado, cuja
representatividade ainda é ínfima no país. Em 2014, o desembolso do
governo para o Fies chegou a quase 14 bilhões de reais para 1,9 milhão
de estudantes, segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento para
Educação (FNDE).
A Ideal Invest, que oferece o programa de financiamento estudantil
Pravaler e tem o Itaú Unibanco como um dos sócios, afirma ser o único
participante do mercado que oferece uma linha de crédito para toda a
graduação e repassou cerca de 1 bilhão de reais desde 2006 a 50 mil
alunos.
"A gente espera que mais do que dobre nos próximos três anos com o
aumento da demanda", disse o diretor-executivo da Ideal Invest, Carlos
Furlan. A companhia de ensino superior Estácio adiantou os planos de
oferecer o serviço de financiamento no segundo semestre e fechou uma
parceria com o Pravaler.
Além da Estácio, a Anima Educação também avalia formas de facilitar o
crédito a seus alunos, por meio da oferta de uma combinação de
financiamentos.
"A gente lançou de maneira mais forte o Pravaler e estamos discutindo
internamente com outros parceiros como a gente pode financiar este
aluno", disse o diretor-presidente da companhia, Daniel Castanho, na
teleconferência de resultados da empresa em fevereiro. Enquanto isso, o
Santander Brasil está entre bancos que oferecem alguns produtos de
crédito para educação e que avalia ampliar linhas ao segmento.
"Isso (oferecer uma linha de crédito para graduação) pode virar um
plano futuro para o Santander", disse o superintendente do Santander
Universidades, um programa do banco, Daniel Mitraud. Atualmente a filial
brasileira do banco espanhol oferece crédito para gastos
extraordinários, como para renovação de matrículas.
Porém, o Santander Brasil reconhece que o Fies ainda é um produto
"imbatível" para o cliente, por conta dos juros de 3,4 por cento ao ano.
"Um banco dificilmente consegue produzir um produto destes, a gente
precisa acompanhar um pouco mais para avaliar o que efetivamente vai
acontecer", acrescentou o executivo ao ser questionado sobre
oportunidades abertas pelas mudanças no Fies.
RENOVAÇÃO DO FIES
Enquanto alunos tentam se inscrever no Fies e escolas avaliam
mecanismos próprios de financiamento, entidades que representam o setor
movem múltiplos processos contra o MEC.
Uma das principais queixas refere-se à regra definida pelo ministro da
Educação, Cid Gomes, de autorizar acesso ao Fies apenas às escolas que
reajustaram as mensalidades este ano em até 6,4 por cento.
No Rio Grande do Sul, onde o reajuste médio das mensalidades foi de 7,5
por cento, a orientação do sindicato local é para as instituições de
ensino cobrarem a diferença dos alunos.
A decisão, segundo o presidente do Sindicato do Ensino Privado
(Sinepe/RS), Bruno Eizerik, visa ser uma medida paliativa enquanto não
sai uma liminar na Justiça pedida pela entidade contra as mudanças no
Fies.
"Vamos fazer aditamentos com 6,41 por cento enquanto não sai a liminar.
E se houver a diferença, que se cobre do aluno", disse ele.
O sindicato espera que o resultado do pedido de liminar seja conhecido
na próxima semana. A ação faz parte de uma estratégia da Federação
Nacional das Escolas Particulares (Fenep) para que os sindicatos
estaduais entrem com suas próprias ações na Justiça contra as novas
regras do Fies, enquanto aguardam por uma decisão judicial nacional.
Até o momento, instituições de Alagoas, Sergipe e Rondônia tiveram
pedidos de liminar concedidos, o que suspendeu algumas das mudanças no
Fies nestes Estados, como a exigência de nota mínima no (Enem) para
alunos e a trava sobre reajuste das mensalidades.
Kroton e Anima afirmaram que até o momento, a diferença entre o
financiamento e a mensalidade não está sendo cobrada para alunos que
possuem Fies.
A Anima, cujo aumento médio foi de 8 por cento, disse que avalia como
vai reaver esta diferença, seja por meio de pedido de ressarcimento ao
governo federal ou orientação para que os alunos paguem o valor ou
contratem outro financiamento.
No grupo Ser Educacional, o aumento médio das mensalidades foi de 7 por cento e a diferença será cobrada.
"O valor desta diferença fica em torno de 2 a 6 reais para o nosso ticket médio", disse o presidente da empresa, Jânyo Diniz.
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