O
Estaleiro Atlântico Sul, de Pernambuco, iniciou hoje um programa de
demissões em massa, que vai dispensar 2.400 pessoas. A medida é
consequência do rompimento do contrato entre o estaleiro e a Sete
Brasil, empresa formada pela Petrobras e sócios privados para
administrar o aluguel de sondas para o pré-sal. A Sete enfrenta grave
crise financeira e está à beira da dissolução. Não paga os fornecedores
nem os bancos desde novembro, e tenta sem sucesso conseguir um aporte de
3,1 bilhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) para garantir sua sobrevivência.
A falta de pagamento levou o estaleiro pernambucano a rescindir
unilateralmente o contrato com a Sete. A empresa é um dos alvos da
Lava-Jato. Seu diretor operacional até 2013 era Pedro Barusco, um dos
delatores do esquema. Ele confessou ter cobrado, junto com o
ex-presidente da Sete, João Carlos Ferraz, propina de 1% por contrato de
sonda. Dos estaleiros contratados pela Sete, cinco tem como sócias
empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão - incluindo o Atlântico
Sul, que tem como sócios a Queiroz Galvão e a Camargo Corrêa. Um sexto,
o da Keppel, também está sendo investigado.
As demissões realizadas nesta sexta-feira em Pernambuco vão reduzir o
número de funcionários de 4.900 para 2.500. Mas o estrago na região do
porto de Suape, onde fica o estaleiro, pode ser ainda maior, uma vez que
para cada emprego direto, quatro outros são criados. Além do prejuízo
econômico para a região, haverá ainda uma perda em equipamentos, uma vez
que os blocos para a montagem dos navios-sonda, com os respectivos
equipamentos eletrônicos, estão prontos, a céu aberto, esperando o
dinheiro para o final da montagem.
O próprio estaleiro calcula ter gasto 2 bilhões de dólares na obra.
Não se sabe agora como o dinheiro poderá ser recuperado e nem se os
navios poderão ter a montagem finalizada, uma vez que todo o equipamento
pertence à Sete, que não tem recursos para isso. "Era inimaginável há
até muito pouco tempo que a Petrobras e a Sete não teriam condições de
pagar por esses blocos", afirmou um executivo do Atlântico Sul. Os
funcionários que permanecem no estaleiro vão trabalhar na finalização de
navios para a Transpetro. Dos dez já contratados, quatro foram
entregues e três devem ser finalizados até dezembro.
O Atlântico Sul é o terceiro entre os grandes estaleiros a demitir
funcionários e reduzir atividades em consequência da crise na Sete.
Antes dele, o Ecovix, do Rio Grande do Sul (que é da construtora
Engevix), e o Enseada de Paraguaçu, da Odebrecht e da UTC, já realizaram
demissões e cortes severos de custos. Na prática, o abalo desses
estaleiros representa o fracasso da política de conteúdo nacional criada
no início do governo Lula, com o propósito de impulsionar o setor naval
brasileiro. Tal política exige que pelo menos 60% dos equipamentos para
a indústria de petróleo sejam fabricados no Brasil. Mal elaborada e -
sabe-se agora -- minada pela corrupção na Petrobras. ela acabou elevando
os custos dos equipamentos e não produziu um parque industrial naval
forte.
A agonia da Sete Brasil é outro sinal do fracasso do conteúdo
nacional. A empresa, em que a Petrobras tem uma participação
minoritária, mas indica o presidente, tem ainda como sócios bancos, como
BTG, Santander e Bradesco, além de fundos de pensão e investidores
estrangeiros. Outras grandes instituições financeiras, como o Itaú, são
credores. No total, a dívida já é de 4 bilhões de dólares, mas o
dinheiro para financiar a construção dos estaleiros e das sondas acabou
em novembro. Desde então, a Sete tenta um novo aporte, desta vez do
BNDES. Contudo, a empresa foi atropelada pelas revelações de Barusco e
pela crise financeira da Petrobras.
Apesar do esforço de bastidores da presidente Dilma Rousseff para que
o empréstimo seja concedido, o corpo técnico do banco de fomento
resiste a liberar o dinheiro, alegando ser uma operação ultra arriscada.
Como não podem dizer isso diretamente à presidente, os técnicos
trabalham para inviabilizar o empréstimo exigindo novas garantias a cada
nova revelação da Lava Jato. Preocupada com o simbolismo que a quebra
da Sete teria para seu governo, e também com os enormes prejuízos que a
crise teria sobre as finanças de bancos como o BTG, o Bradesco e o Itaú,
a presidente deu até aval ao novo presidente da Petrobras, Aldemir
Bendine, para atuar em favor da Sete. Mas nem mesmo ele conseguiu
desatar o nó até agora.
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