O setor sucroalcooleiro elevará neste ano sua capacidade de cogeração
de energia elétrica, mas a um ritmo menor do que no passado, refletindo
a falta de leilões direcionados para atrair o segmento nos últimos
anos, segundo representantes do setor.
Para este ano, está prevista a entrada em operação de oito unidades de cogeração de energia a partir de biomassa, acrescentando ao Sistema Interligado Nacional (SIN) 450 megawatt (MW), segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). No ano passado, 25 projetos de biomassa começaram a operar e acrescentaram à capacidade instalada 1,2 gigawatt (GW) – quase três vezes mais do que deve ser adicionado neste ano. Segundo a CCEE, a maior parte dos projetos nos dois anos são de biomassa a partir de cana.
Rui
Altieri, presidente do conselho da CCEE, afirma que é comum ocorrerem
oscilações entre um ano e outro e que não houve leilões recentemente
prevendo início de entrega de energia neste ano. Zilmar de Souza,
gerente de bioeletricidade da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar
(Unica), afirma, contudo, que a falta de leilões para estimular a
geração a partir de biomassa tem sido estrutural nos últimos anos.
No
ano passado, seis projetos de cogeração a partir de biomassa venceram
em leilão (todos no leilão A-5, ocorrido em abril), dos quais quatro a
partir do bagaço da cana. Foi mais do que em 2015 – quando três projetos
foram vencedores -, mas aquém do que o setor já conseguiu no passado,
como em 2008, quando 31 projetos venceram leilões.
"Para quem já
vendeu mais de 30 projetos e construiu uma cadeia para isso, realmente
tem sido um sinal errático ruim", avalia Souza, da Unica. Depois de
2008, o ano em que houve mais projetos de cogeração a partir de biomassa
que venceram leilões foi em 2011, com 12 projetos.
Além disso, o cancelamento de dois leilões de energia no ano passado por causa da situação de sobrecontratação das distribuidoras, embora fossem direcionados a outras fontes, também gerou incertezas no setor sucroalcooleiro. "O que se avizinha é preocupação se vai ter leilão em 2017 para viabilizar novos investimentos. E, se tiver, temos preocupação se a biomassa vai ser convidada a participar", acrescenta o gerente da Unica.
A contratação de projetos no ambiente regulado costuma ser a
forma mais segura de incentivar aportes em cogeração, embora o mercado
livre tenha crescido em importância para o segmento.
A migração de
muitos consumidores de energia do ambiente regulado ao mercado livre,
que disparou no ano passado, tem sustentado a demanda pela energia
gerada pelas usinas sucroalcooleiras, segundo Altieri, já que as
energias incentivadas (limpas) têm desconto.
Segundo a CCEE, a
quantidade de consumidores que migrou para o mercado livre em 2016 mais
do que duplicou, alcançando 4.062 no fim do ano, dos quais 3.250 foram
de consumidores especiais, que obrigatoriamente tem de comprar energia
limpa. Há ainda 1.121 processos em aberto de migração e que podem se
concretizar neste ano, sendo 1.044 de consumidores especiais.
O
mercado livre já representa a maior parte do destino da energia cogerada
nas usinas. Segundo dado da Associação Brasileira dos Comercializadores
de Energia (Abraceel), 64% da energia cogerada a partir de biomassas
como um todo são negociadas no mercado livre.
Para que essa nova
demanda ofereça segurança para as usinas investirem em cogeração, Souza
defende o fortalecimento de contratos de longo prazo no mercado livre.
Afinal, intempéries climáticas que afetam a safra e alterações no
consumo geram volatilidade na remuneração da energia.
A atual safra
elevada de cana garantiu às usinas uma geração de 21,4 mil
gigawatts-hora (GWh) até 26 de dezembro, superando o total de 2015.
Para
este ano, o aumento da capacidade instalada nas usinas deve favorecer
um novo avanço na cogeração a partir da bagaço de cana, mas a entrega
dependerá do clima e da safra, que segundo as previsões do mercado será
menor do que a atual
(Assessoria de Comunicação, 10/1/17)
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