A Raízen Energia, joint venture entre Cosan e Shell,
responde a um processo na Justiça paulista de ‘enriquecimento sem causa’
que pode levá-la a ter de tirar cerca de R$ 100 milhões de seu caixa.O
valor é referente a seis parcelas anuais de precatórios devidos pela
União aos antigos donos da usina Destivale, de Araçatuba, e seus
herdeiros, adquirida pela Cosan em 2005. Pelo acordo de aquisição
firmado na época, a Cosan deveria repassar aos ex-acionistas as parcelas
dos precatórios, descontando o valor de honorários e tributos. Os
repasses, porém, nunca foram feitos, segundo os autos do processo.
Os
precatórios são referentes a ações movidas contra a União pela fixação
de preços na época pelo Instituto do Açúcar e do Álcool, que, segundo os
ex-acionistas, gerou um faturamento abaixo do potencial do mercado.
Entre os ex-acionistas que movem a ação estão membros das famílias
Manarelli, Picoloto, Gottardi, Moraes e Rocha.Até o momento, já entrou
no caixa da Raízen Energia – que assumiu o registro como pessoa jurídica
da usina quando foi criada pela Cosan junto com a Shell – segundo autos
do processo, pouco mais de R$ 65 milhões sem correção monetária, de um
total devido pela União de R4 80,671 milhões.
Os ex-acionistas da
Destivale dizem, no processo, que o valor devido pela Raízen, com
correção monetária e juros de mora, até agosto de 2016, soma cerca de R$
120 milhões.A empresa reconhece que é devedora de repasses, mas afirma
que é preciso descontar os valores dos honorários e de impostos que
incidiram sobre o que entrou em seu caixa, como PIS, Cofins, Imposto de
Renda e CSLI. 'A Raízen já pagou honorários e tributos, por isso
acredita que não há razão para pagamento aos ex-acionistas na forma
pleiteada’, afirmou a empresa em nota ao Valor Econômico.Um parecer
técnico elaborado em novembro de 2016 pela consultoria Porto&Reis a
pedido da Raízen e obtido pelo Valor indica que o valor líquido que a
joint venture recebeu até então foi de R$ 76,2 milhões, mas teria que
repassar R$ 66 milhões.
Procurada, a defesa dos ex-acionistas argumentou
que a Raízen nunca deveria ter recolhido impostos sobre estas parcelas
porque esses valores ‘não integram o patrimônio da empresa’, mas são
recurso de terceiros e não seria passíveis de tributação. O argumento é
subsidiado por um parecer da consultoria Grant Thornton. Segundo a
defesa, os ex-acionistas seriam os responsáveis pelo recolhimento dos
impostos.Embora a disputa esteja tramitando em primeira instância, a
defesa dos ex-acionistas entrou com um recurso no fim de 2016 pedindo
que a Justiça sequestre as proximas parcelas e os valores já repassados.
O recurso chegou ao ministro Luis Felipe Salomão, do Supremo Tribunal
de Justiça (STF) que, em 12 de dezembro, julgou que a companhia deve
depositar em juízo os valores já levantados, mas sem juros de mora. Nos
cálculos da defesa dos ex-acionistas, sem os juros de mora, o valor
ficaria próximo de R$ 92 milhões.Para garantir o pagamento, a Raízen
apresentou uma apólice contratada junto à JMalucelli Seguradora de R$
225,149 milhões – equivalente ao valor dos precatórios, acrescido de
correção monetária e do valor cobrado pela seguradora.
Nos autos, a
empresa diz que ‘a quantia a ser depositada alcançaria cifra astronômica
superior a R$ 100 milhões, o que demandaria mobilização de recursos em
prejuízo de sua atividade produtiva'’Com a apresentação da apólice, a
Raízen deixaria de retirar de seu caixa o recurso que está em disputa,
mas oferece uma garantia de pagamento até que o caso seja julgado em
definitivo.
Ao Valor, a empresa argumentou que ‘o seguro-garantia,
apresentado pela Raízen por boa-fé, respeita a legislação e decisão
judicial prévia e garante mais do que ventualmente seria devido’. Agora a
defesa dos ex-acionistas da Destivale deve recorrer para impedir que o
seguro-garantia seja aceito
(Assessoria de Comunicação, 20/1/17)
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