Chegou a hora dele mostrar se conseguirá transformar seu estilo bombástico em ações concretas, substantivas e positivas para os Estados Unidos e o mundo
São Paulo – Aconteceu. Donald Trump é o novo presidente dos Estados Unidos. O republicano assume o cargo máximo da país mais poderoso do mundo com o menor índice de aprovação em quase meio século. A partir de agora, tudo que ele fizer ou disser passará por um ferrenho escrutínio público — tanto de apoiadores quanto de adversários.
Chegou a hora de Trump mostrar se conseguirá transformar seu estilo
de campanha bombástico em ações concretas, substantivas e positivas para
os Estados Unidos. O que esperar a partir de agora?
Em outubro passado, durante a corrida eleitoral à Casa Branca, Trump e
sua equipe apresentaram uma lista de compromissos para os 100 primeiros
dias no governo, uma espécie de contrato com o eleitor americano que
tem como alvo muitas das políticas de seu antecessor, Barack Obama.
A julgar por seu primeiro pronunciamento à nação, na cerimônia de
posse ocorrida na tarde desta sexta-feira, o governo Trump terá
personalidade bem nacionalista e protecionista. “A partir deste dia, vai
ser apenas a América em primeiro lugar […] Nós brilharemos para que
todos sigam”, declarou o presidente.
É quase impossível realizar todas as promessas em tão curto espaço de
tempo, mas uma coisa é certa: a agitação em Washington está garantida.
Veja a seguir algumas das investidas que devem dar o que falar nos
próximos meses.
Saúde
Apostando na maioria republicana do Congresso, Donald Trump prometeu reverter o programa nacional de saúde
criado por seu antecessor, o “Obamacare” (Affordable Care Act),
instituído com o objetivo de democratizar o acesso aos planos de saúde
nos EUA.
O programa de Obama obriga que todo cidadão tenha um plano de saúde,
além de dar subsídios aos mais pobres. Hoje, o programa atende mais de
20 milhões de pessoas que não tinham cobertura alguma. Trump diz que vai
substitui-lo “simultaneamente” por um plano “melhor e mais barato”,
embora não tenha deixado claro como fará isso.
Muitos americanos são contrários ao Obamacare por julgá-lo uma
invasão do estado na vida privada das pessoas, devido ao seu caráter
mandatório. Quem não adere ao plano é multado. Por isso, os críticos do
projeto, entre eles Trump, defendem que cada cidadão decida como cuidar
de sua própria saúde.
Comércio
O presidente recém-empossado também prometeu retirar os EUA do acordo
comercial Parceria Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês), que a
administração Obama esperava deixar como legado. O novo presidente e
membros de seu novo gabinete dizem que não são contra o comércio, mas
vêem a necessidade de acordos mais fortes, preferencialmente bilaterais.
O TPP é destinado a promover o investimento e as ligações comerciais
entre 12 países em ambos os lados do Oceano Pacífico, cobrindo 40% do
comércio global, mas ainda falta ser ratificado pelos respetivos
congressos para poder entrar em vigor.
No campo comercial, Trump prometeu ainda reanimar o setor
manufatureiro nos EUA, reforçar a aplicação dos acordos comerciais
existentes e punir empresas que resolvem produzir em outros países com a
imposição de um imposto de fronteira proibitivo.
Ele também declarou que pedirá ao seu secretário do Tesouro que
classifique a China como “manipuladora de divisas”, uma medida que pode
provocar represálias por parte da segunda economia mundial. Analistas
temem que as críticas e ameaças contra o gigante asiático possam desencadear uma guerra comercial entre as duas potências.
Segurança nas fronteiras e imigração
Construir uma imensa barreira na fronteira com o México
é, de longe, a promessa mais polêmica do novo presidente, e ele está
mais obstinado do que nunca. Não se sabe ainda como isso seria possível
do ponto de vista estrutural — vai ser um muro de concreto, cerca,
arame? — já que estamos falando de uma barreira de impressionantes 3,2
mil quilômetros.
O empenho de Trump é tamanho que ele já considera passar os custos
iniciais da construção do muro, estimados em US$ 14 bilhões para os
próprios contribuintes americanos, ao contrário do que havia prometido
na campanha eleitoral, de que todo custo seria pago pelo México. Ele
afirmou em seu perfil twitter, porém, que o financiamento inicial dos
EUA seria para iniciar a construção do muro mais rapidamente, e que o México eventualmente pagaria os EUA de volta depois, mas não disse como isso será feito.
Antes de qualquer parede ser erguida, claro, a proposta terá que
passar pelo Congresso para aprovação e arrecadação de recurso, o que
certamente deverá retardar o processo.
Donald Trump prometeu ainda deportar até 3 milhões de imigrantes
ilegais no país. “O que estamos fazendo é pegar essa gente que é
criminosa e suas fichas criminais, membros de gangues, traficantes, que
totalizam dois, talvez três milhões. E vamos tirá-los do país e vamos
fazer com que sejam presos”, declarou em entrevista à rede americana CBS.
Meio ambiente e energia
Trump deixou claro seu desdém pelas evidências científicas envolvendo
um dos maiores desafios ambientais de nosso tempo, o combate às
mudanças climáticas, chegando a se referir ao fenômeno como “uma farsa”.
Desse modo, ele pretende revogar e flexibilizar diversas regulações
ambientais, como as restrições para produção de energia a partir do
carvão e do xisto, abrindo novas áreas federais para perfuração e
exploração, e trazer de volta centenas de empregos nesses setores.
O novo presidente também poderia eliminar os métodos do governo Obama
de calcular os benefícios econômicos das reduções de gases de efeito
estufa, bem como os esforços para reduzir a emissão de carbono das
operações do governo federal.
Nos planos do republicano também está a aprovação do controverso
oleoduto Keystone XL, que unirá uma região do Canadá com os Estados
Unidos, um projeto bloqueado pela administração Obama por colocar em
risco a capacidade americana de continuar liderando o combate às
mudanças climáticas e devido ao risco de danos ambientais eventualmente
ocasionados por vazamentos.
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