No
primeiro trimestre de 2016 a Metalplan, fabricante de máquinas e
equipamentos, intensificou um processo de substituição de importações
iniciado no ano anterior. O dólar forte, que chegou a ultrapassar os R$
4,00, conta o diretor comercial da empresa, Edgard Dutra, incentivou a
empresa a tirar do papel planos de produzir componentes que até então
nunca tinha fabricado, como alguns trocadores de calor.
A
empresa também voltou a fabricar válvulas, o que não fazia desde 2000.
Juntos, os dois componentes representam 40% do custo de matéria-prima da
empresa. A ideia era, aos poucos, passar a produzir internamente os
trocadores de calor de toda linha de compressores da empresa. A produção
própria havia se tornado viável devido ao câmbio e trazia benefícios
como vantagens logística e garantia de padrão de qualidade.
O
processo, conta Dutra, se intensificou no primeiro trimestre de 2016,
mas foi suspenso logo depois. A nacionalização de componentes esfriou à
medida que o real se valorizou e que as oscilações cambiais se
intensificaram. Hoje, com dólar na órbita dos R$ 3,20, ele não vê
perspectiva de retomar o programa. "Com dólar perto de R$ 3,60 esse
processo de nacionalização me traz mais vantagens do que a importação.
Com o dólar abaixo de R$ 3,20, fica empatado", calcula Dutra. "Não
acredito que o dólar ficará abaixo disso e não perderemos com o que já
foi feito. Mas para continuar precisaríamos investir."
Para
analistas, o caso da Metalplan não é isolado. A reação da economia,
mesmo que muito lenta, deve elevar as importações este ano. Esse
processo deve ser potencializado pela valorização do real e pode
contribuir para substituir a produção nacional, revertendo processos de
nacionalização iniciados no ano passado.
Rafael
Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), explica que o processo de substituição da produção
nacional, nos casos em que ocorreram, deve ser revertida ou suspensa
mais rapidamente em cadeias de maior valor agregado, no qual a
substituição de importação requer investimento. "Isso torna mais
importante ainda a utilização do câmbio como estratégia para o
desenvolvimento econômico. As empresas precisam ter confiança no patamar
do câmbio."
Depois
que a queda de importações contribuiu de forma relevante para os
superávits da balança comercial em 2015 e 2016, a expectativa para este
ano é de início de reversão desse quadro, diz Cagnin.
A
evolução das empresas importadoras já sinaliza mudança. No ano passado
as empresas importadoras somaram 37.778, uma redução de 10,9% em relação
a 2015 que refletiu a queda de 20% no valor total dos desembarques
brasileiros.
Apesar
da queda no total do ano, porém, os números apontam uma reversão da
tendência de redução do número de empresas importadoras ao fim de 2016,
diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio
Exterior no Brasil (AEB). O número de empresas importadoras voltou a
aumentar nos últimos três meses do ano passado na comparação com igual
período de 2015. De outubro a dezembro de 2016 as importadoras
totalizaram 3.199 empresas, 13% a mais contra mesmos meses do ano
anterior. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (Mdic).
As
estatísticas também mostram desaceleração na queda das importações no
decorrer do ano. No primeiro semestre de 2016, o valor total importado
pelo país caiu 28,9% em relação a igual período do ano anterior. No
segundo semestre a queda foi de 9,9%. No ano a redução acumulou 20%.
Os
dados do Mdic, em conjunto com a expectativa de uma reação positiva,
embora lenta, da economia doméstica, indicam que esse processo de
reversão deve se manter e que as importações devem ser retomadas este
ano, diz Castro. Os dados da balança comercial do início do ano,
destaca, corroboram isso.
A
média diária de importação, segundo o Mdic, alcançou US$ 560 nas duas
primeiras semanas de 2017, o que representa um aumento de 8,5% na
comparação com igual período do ano passado. São números iniciais,
pondera Castro, mas vão no mesmo sentido dos sinais que já foram dados.
Ele ressalta que em dezembro do ano passado as importações já cresceram
9,3% contra mesmo mês de 2015. Isso, diz ele, pode ser sinalizador de um
início da tendência de substituição da produção nacional. Ele acredita,
porém, que o real mais valorizado tem sido por enquanto o maior
incentivo à reação dos desembarques. "As importações respondem
rapidamente ao câmbio."
Para
2016 a AEB projeta elevação de 5,2% nas importações totais, com alta
puxada principalmente por intermediários e bens de consumo, com
crescimento respectivo de 6,5% e 5,7%.
As
importações, explica Cagnin, têm grande elasticidade direta em relação
ao nível de atividade. "Mesmo com reações positivas lentas da economia, é
de se esperar que haja um aumento das importações este ano", diz ele.
Outro fator que deve potencializar esse fenômeno é a taxa de câmbio, com
real mais valorizado em relação ao dólar. O câmbio, lembra ele, traz
mudança de preços relativos que torna a importação mais competitiva.
"Isso, combinado com um nível de atividade maior eleva ainda mais as
importações e é possível que resulte em um processo de substituição da
produção doméstica."
Cagnin
destaca que essa substituição não deve ficar fora da estratégia
empresarial este ano. "Num ambiente de compressão de margens, a empresa
usará toda redução de custos e folga possível para recompor a margem."
O
economista do Iedi lembra que na primeira metade do ano passado houve
indícios de um processo de substituição de importação em segmentos como
têxteis e calçados. "Esse fenômeno foi conjuntural, por conta da
oportunidade dada pelo câmbio, e deve ser revertido porque não se apoiou
em mudanças estruturais, como a interligação de novos elos da cadeia
produtiva."
Fonte: Valor Econômico
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