Ainda é forte no Brasil a crença de que a indústria representa a
fonte básica do desenvolvimento, de inovação e de geração de empregos de
melhor qualidade e renda. Essa é a visão de uma época, particularmente
do século XX, em que países menos desenvolvidos se industrializavam
copiando tecnologia das nações desenvolvidas.
Essa visão orientou estratégias de industrialização por substituição
de importações e forte dirigismo estatal no Brasil. O modelo se esgotou
nos anos 1980 sob o peso de suas ineficiências. Faltaram-lhe incentivos à
inovação e mecanismos de avaliação de resultados.
Surgiram outras fontes de dinamismo. No mundo, a globalização, a
tecnologia, a integração das cadeias produtivas e a terceirização
contribuíram decisivamente para fomentar a produtividade e o
crescimento econômico. A indústria continuou relevante, é verdade, mas
perdeu participação no PIB, como nos Estados Unidos (12.4%), onde mesmo
assim a economia se manteve sólida e em expansão.
A agricultura foi a prima pobre da estratégia brasileira,
principalmente por causa da valorização cambial. A indústria podia
importar insumos e equipamentos mais baratos, mas isso equivalia a uma
tributação na agricultura, que recebia menos por suas exportações de
café e açúcar. Além disso, a atricultura era prejudicada pelo controle
de seus preços, para combater a inflação.
As perdas eram compensadas com crédito subsidiado do Banco do Brasil e
do Banco Central, que prevalecia como forma de apoio ao setor rural.
Isso obscureceu o papel de políticas mais adequadas, como as de inovação
e renda. O esquema faliu nos anos 1980, acarretando a quase extinção do
subsídio. Nada surgiu em seu lugar. Ironicamente, foi uma bênção.
A agricultura, agora entendida como agronegócio, iria superar o
desafio de viabilizar-se sem o crédito subsidiado generoso. Talvez sem
paralelo no mundo, tornou-se pouco ou nada dependente de subvenções e
protecionismo. Sua competitividade viria de tecnologia, do
empreendedorismo e do enorme potencial dos cerrados e de outras regiões.
A Embrapa (1973) e outras organizações públicas e privadas de
pesquisa viraram fonte poderosa de inovação e de ganhos de
produtividade. Desde 1975, a área de grãos dobrou, enquanto a produção
quadruplicou. O preço dos alimentos caiu 80%.
O Brasil é um dos cinco maiores produtores de 36 commodities e o
primeiro nas exportações de soja, açúcar, café, frango, carne e suco de
laranja. O agronegócio é intenso usuário de tecnologia digital e de
satélites, ombreando-se com países ricos.
O agronegócio está na base da Contribuição Nacionalmente Determinada
(NDC) do Brasil para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Está
nos biocombustíveis, na energia elétrica, na eliminação do desmatamento
ilegal, na restauração florestal e na recuperação de áreas degradadas
de pastagens, para citar as principais. O setor contribui na formulação
dos compromissos do Brasil para o acordo sobre o clima (a COP 21 de
Paris).
Isso significa que as emissões serão 37% inferiores às de 2005 (43%
em 2030). Aumentará a participação de bioenergia sustentável na matriz
energética. O consumo de biocombustíveis passará dos atuais 28 bilhões
de litros para 50 bilhões de litros em 2030.
A biomassa contribuirá para o maior uso de fontes de energia não
fósseis. Os investimentos na ampliação da oferta de etanol atingirão US$
40 bilhões de dólares. Surgirão 250 000 empregos diretos e 500 000
empregos indiretos.
O Brasil revolucionou a agricultura tropical. Uma das melhores
análises desse feito é de Fabio Chaddad (1969-2016) no livro ‘The
Economics and Organization of Brazilian Atriculture’ (Elsevier, 2016),
do qual extraí muitas das informações deste artigo.
O agronegócio ainda enfrenta muitas dificuldades: logística
deficiente, sistema tributário caótico, restrições infantis à
terceirização e custos de uma política de reforma agrária do século XIX.
Superar tudo isso é essencial. O setor poderá, assim, ampliar sua
contribuição para prosperidade do país (Maílson da Nóbrega foi ministro
da Fazenda; Digitalizado pelo BrasilAgro; Veja edição nº 2017)
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