quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A fantástica fábrica de aço





Como a inteligência artificial, os aplicativos e os drones foram incorporados às práticas industriais da Gerdau


Por Marcos Graciani
graciani@amanha.com.br

 Como a inteligência artificial, os aplicativos e os drones foram incorporados às práticas industriais da Gerdau


Quem se aventurar a conhecer a fábrica da Gerdau em Araçariguama, em São Paulo, poderá se ver transportado para as cenas de Star Wars. O visitante não vai se deparar com os robôs R2-D2 e C-3PO, é claro, mas poderá ser surpreendido pela ronda diária de segurança feita por drones. Caso o operador identifique alguma irregularidade em uma área, por exemplo, pode deslocar o vigia para atender a ocorrência. Os equipamentos foram implantados em usinas da fabricante de aço permitindo fazer inspeção em torres e equipamentos elevados sem utilizar andaimes e ajudando no inventário de matérias-primas. 

A maior empresa da região Sul, segundo o ranking GRANDES & LÍDERES – 500 MAIORES DO SUL, também realiza treinamentos de segurança por meio de realidade virtual. Na usina produtora de aços especiais em Charqueadas (RS), foi implantado um projeto-piloto cujo treinamento tem um formato de game. O funcionário usa óculos 3D e joystick, sendo estimulado, como em um videogame, a passar de fases com o menor número de erros possível – de preferência, sem nenhum. A inovação surgiu para modernizar os treinamentos de uma certificação obrigatória e tem como foco a eficiência e a facilidade de assimilação dos conteúdos pelos operadores das usinas. “Os exercícios, que demoravam uma hora e meia para serem aplicados da maneira tradicional, em sala com papel e caneta, agora são realizados em 18 minutos por um jogo de realidade virtual que permite serem repetidos inúmeras vezes, ampliando a assimilação do conhecimento. A ideia é expandir esse treinamento para outras unidades do Brasil”, projeta o CEO André Gerdau Johannpeter.

Essas inovações começaram a ser desenhadas há cerca de três anos, quando um grupo multidisciplinar de profissionais da Gerdau identificou a oportunidade de maior inserção da empresa no universo tecnológico para otimizar processos e gerar melhores resultados. A partir disso, a equipe realizou visitas de benchmarking, inclusive no Vale do Silício, e mapeou como seria possível inovar no setor do aço, seguindo a tendência da indústria 4.0. A partir do estudo, ganhou forma o que a Gerdau nomeou de Usina Digital, um projeto voltado para otimização dos processos industriais por meio do uso de mobilidade e de aplicativos. O plano já foi implantado em quase todas as unidades no Brasil e nas minas em Miguel Burnier e Várzea do Lopes, em Minas Gerais. Agora, essa mesma estratégia está em fase de piloto nas unidades da América do Norte. “Essa iniciativa está trazendo inovação para o dia-a-dia das operações, agilidade na entrega das demandas, ganhos importantes em produtividade, redução de custos e melhoria do atendimento ao mercado e, no caso da mineração, também nos ajudou a aprimorar os controles ambientais”, comemora André. 

Outra novidade é o Sistema de Monitoramento e Diagnóstico Online (SMDO). Antes de implantá-lo, a Gerdau realizou um projeto-piloto com 50 equipamentos da companhia, experiência que permitiu identificar dois problemas em potencial, solucionados com manutenção antecipada. Apenas a economia com essas ações preventivas já pagou o projeto, cujo custo foi de aproximadamente R$ 3 milhões. Esse software, desenvolvido em parceria com a GE permite, por meio de sensores instalados nas máquinas, controlar o desempenho de mil equipamentos em 11 plantas no Brasil em tempo real.

O sistema instalado na Usina de Ouro Branco (MG) está recebendo um aporte de R$ 70 milhões. O SmartSignal é capaz de antecipar em semanas ou meses a ocorrência de falhas no funcionamento dos equipamentos. Com essa possibilidade de antever problemas, a empresa pode fazer a transição de uma manutenção reativa para uma modalidade preventiva – e assim evitar paradas inesperadas no chão de fábrica. Esse programa trabalha com os dados existentes, que são armazenados e coletados pelo Historian, software de dados de séries históricas, para fornecer avisos antecipados para problemas que possam causar a interrupção de equipamentos e processos, permitindo que os operadores se concentrem em corrigir os problemas e não em encontrá-los. O monitoramento dos equipamentos será feito inicialmente nas plantas de aços longos do Brasil, mas a intenção é ampliar o uso desse sistema para as usinas de aços especiais e mineração no país.  

A Gerdau investiu ainda na digitalização de seus sistemas comerciais. Foram desenvolvidos aplicativos e plataformas que dão agilidade ao atendimento dos clientes. “A mobilidade da Indústria 4.0 e a Internet das Coisas permitem a conexão e a interação nas operações em tempo real”, destaca André Gerdau Johannpeter. Tanto é que um dos grandes resultados dessa união está no processo logístico de gerenciamento de filas e agendamento de carga e descarga nas usinas do grupo. O processo dobrou a produtividade dos caminhoneiros, que antes da implantação do sistema cumpriam apenas uma viagem por dia. Agora, as viagens diárias são de duas a três. 

Em busca de outras novidades, a maior companhia da região Sul tem realizado parcerias com startups. O objetivo é desenvolver soluções mais rápidas e com custos menores para as demandas da empresa. Recentemente, a Gerdau passou a ter uma sala no CUBO, em São Paulo, referência no desenvolvimento de novos empreendedores e startups no Brasil. “A Gerdau está atenta e aprendendo com as operações mais jovens para encontrar soluções disruptivas nas áreas de atuação da empresa”, revela André que também atuou fortemente nos últimos anos em um longo processo de descentralização da gestão do grupo. 

Atualmente, a Gerdau se uniu a Intercement, Tigre e Vedacit em um programa inédito de aceleração de startups do setor de construção civil, coordenado pela ACE. O WIP – Work In Progress, como é chamado, pretende acelerar até 12 startups por ano, mas esse volume pode aumentar com o decorrer dos processos de aceleração, que não tem duração específica. A ideia de criar o WIP surgiu dos contatos que essas empresas já faziam isoladamente com a aceleradora para criação de programas. O WIP surge também para integrar e aprimorar os programas de inovação já existentes no setor, como é o caso da Gerdau. O processo de aceleração de startups integra a estratégia de Open Innovation da Gerdau. Um dos pontos mais críticos do cenário atual desse mercado é o crescimento na demanda por energia, agilidade de construção e custos com infraestrutura.

Em 2016, a Gerdau realizou seu primeiro Hackathon, evento que reúne profissionais ligados ao desenvolvimento de software para uma maratona de programação, cujo objetivo é desenvolver um programa que atenda a um fim específico. Inédito no setor do aço no Brasil, o evento reuniu cerca de 50 estudantes das áreas de engenharia, design, marketing e desenvolvimento de sistemas. Especializada no desenvolvimento de Hackathons. a Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP) deu suporte para a Gerdau. Os projetos envolveram os conceitos de Big Data, Analytics, gamificação e Internet das Coisas (IoT) para o desenvolvimento de uma solução de marketing e vendas. A ferramenta desenvolvida tem como fundamento a otimização do tempo dos clientes e dos funcionários da Gerdau no processo de rastreamento de produtos, controle de estoque e otimização de tempo de trabalho. O aplicativo é um chatbot, conceito que funciona como uma máquina virtual que utiliza inteligência artificial por meio de códigos de programação. Com isso, ao receber uma mensagem de um determinado cliente, o aplicativo já pode consultar se o freguês ainda possui produtos em estoque – caso esteja acabando, o software informa automaticamente o vendedor, que entrará em contato para oferecer um novo pedido. O projeto vencedor está recebendo um investimento de R$ 100 mil e sendo incubado pela Gerdau.


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