“Não sei o presidente em 2019, mas imagino que pelo fracasso da política populista, vai querer manter políticas atuais”, diz Mário Mesquita
São Paulo – O Itaú projeta que a reforma da Previdência será aprovada no 2º trimestre, “modificada sem ser desfigurada”, com impacto de economia de 1,9% do PIB em 2025.
“O governo tem mostrado competência no relacionamento com o
Congresso, tem um viés parlamentar muito forte e tem utilizado isso
efetivamente. Mas a Previdência suscita mais oposição e mexe com mais
interesses”, disse Mário Mesquita, economista-chefe do banco, em reunião
com jornalistas hoje em São Paulo.
Ele nota que os analistas brasileiros estão mais preocupados
com o curto prazo, enquanto os investidores lá fora dão como certo que a
reforma da Previdência vai passar e já olham para o cenário eleitoral
de 2018.
Mesquita diz que a previsão é que a eleição seja a mais
fragmentada da pós-redemocratização, mas que o cenário-base do banco é
de continuidade de políticas econômicas, não importa o vencedor.
“Não sei quem vai ser o presidente a partir de 2019, mas a
gente imagina que pelo fracasso da política populista anterior, ele vai
querer manter as políticas atuais”.
Crescimento
A previsão do Itaú é que os números do PIB do 4º trimestre
de 2016, que serão divulgados no dia 07 de março, ainda mostrem queda.
No 1º trimestre de 2017, eles já mostrariam algo entre
estabilidade e alta de 0,5%. No balanço, o crescimento do PIB fecharia o
ano em 1%.
É cerca de o dobro do esperado pela média do mercado, de acordo com o Boletim Focus divulgado hoje. O Itaú é mais otimista porque vê melhora em todos os fundamentos.
Os preços de commodities estão mais altos, o juro real está
em queda, a desalavancagem das empresas já está em curso e na medida em
que os estoques se esgotam, cresce a necessidade de produção.
O banco apontou até para uma possível recuperação no ritmo de admissões, fator que responde mais rápido ao PIB e era esperado só na metade do ano. Resta saber se é um ponto fora da curva.
Para 2018 a previsão é de aceleração para 4%, impulsionada
por um afrouxamento sustentável da política monetária diante do controle
fiscal estabelecido pelo teto de gastos.
A reforma da Previdência, aliás, não bastará para cumprir o
teto. O banco prevê que novas medidas serão necessárias e bota na lista a
volta dos impostos sobre folha de pagamento (que é alta de receita, mas
entra na conta do governo como queda de despesa), reformas no
seguro-desemprego e até o fim do abono salarial.
Câmbio, juros e inflação
Segundo Mesquita, a valorização do real “não é tão
surpreendente assim” diante de commodities em alta e o risco-país em
baixa, mas eventualmente o câmbio vai se depreciar puxado por um aperto
monetário nos EUA e uma desaceleração da China.
A previsão para a taxa Selic no fim do ano é de 9,25%. A
partir daí ficaria estacionada em alguns meses, com novos cortes em
meados de 2018.
E isso considerando que quando o Conselho Monetário Nacional
se reunir em junho, vai definir a meta de inflação em 4% para 2019,
mais apertada do que hoje (4,5% com tolerância de dois pontos
percentuais para cima ou para baixo).
“Ninguém pode celebrar uma recessão desse tamanho, mas já
que está acontecendo, que pelo menos a gente tire disso uma redução da
inflação”, diz Mesquita.
A previsão é que a nova meta não exigiria sacrifício
adicional de política monetária porque o fiscal está ajudando e as
expectativas andam junto. Em resumo: se a meta hoje fosse menor, as
expectativas do mercado também seriam.
“A recessão é tão intensa que você consegue abaixar a meta e reduzir a taxa de juros”, diz Felipe Salles, economista do banco.
Em relação à meta de déficit primário, a previsão do banco é
que ela seja atingida com uma combinação de contingenciamento de
despesas e alta da receita com venda de ativos e o novo programa de
repatriação.
Não há previsão de volta do grau de investimento em um
futuro próximo e a dívida continuaria crescendo até estabilizar em 80%
do PIB em 2020 para depois voltar a cair.
Mundo
Nos Estados Unidos, o cenário-base é que o Congresso vai
mitigar os excessos de Donald Trump e que haverá mudanças apenas
moderadas nas políticas de comércio exterior.
“Protecionismo custa caro, e o brasileiro sabe disso”, diz Mesquita.
Fechar a economia americana causaria problemas diretos (alta
de custos para o consumidor americano) e indiretos (reação dos outros
países).
Já uma expansão fiscal, com cortes de impostos e mais gastos
em infraestrutura, tem mais chance de sair. Em uma economia já robusta,
isso deve pressionar para cima os salários e a inflação.
O Federal Reserve deve aumentar os juros novamente em maio,
ainda que uma alta em março não esteja descartada. No segundo semestre,
seriam duas novas altas.
Mas há dúvidas de como Trump vai lidar com o Fed, que terá
vagas abertas no colegiado e que foi atacado durante a campanha por
supostamente manter taxas de juros muito baixas.
“Mas o Trump no poder vai querer juros mais baixos do que o Trump candidato”, diz Mesquita.
Na China, o aperto recente na política econômica deve surtir
efeito mais para a segunda metade do ano, mas por enquanto o
crescimento permanece robusto.
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