Germano Lüders/EXAME
Kroton: sinergias com a Estácio podem chegar aos 4 bilhões de reais, segundo analista do Santander
São Paulo - Depois de um mês, as conversas para combinar os negócios das
duas maiores empresas de educação do país podem ter chegado ao fim.
O conselho de administração da Estácio aprovou nesta sexta-feira (1) as bases financeiras da última proposta feita pela Kroton para comprá-la, ou seja, concordou com o valor que a rival está disposta a desembolsar.
A informação foi antecipada pelo blog Primeiro Lugar, da Revista EXAME.
Outros termos do acordo ainda serão discutidos e uma decisão final não
foi tomada. A operação ainda precisaria ser aprovada pela administração
de ambas as companhias e por órgãos reguladores.
Pela proposta, a Kroton passaria a deter toda as ações da Estácio, cujos
investidores receberiam em troca 1,281 ação ordinárias da compradora,
além de dividendos extraordinários no valor de 170 milhões de reais.
Com os bônus, a relação de permuta subiria para 1,322 ação da Kroton por cada papel da Estácio.
É extremamente improvável que a transação seja aprovada sem restrições
pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), por conta do
potencial de formação de monopólio.
Mas, apenas para dimensionar o tamanho do negócio, se isso acontecesse,
as universidades, juntas, teriam cerca de 1,5 milhões de alunos, 1.080
polos de ensino à distância e 213 campi.
As receitas das duas no ano passado, somadas, passam de 8 bilhões de reais e, os lucros, chegam a quase 2,5 bilhões de reais.
Inalcançável
Com a aquisição,
a Kroton, que já é a maior companhia do setor no Brasil e no mundo, se
torna "praticamente inalcançável" pelos competidores locais, nas
palavras Alexandre Montes, analista da consultoria de investimentos
Lopes Filho.
"A compra é estratégica e cara e, por isso, destrói valor no curto
prazo, mas agrega muito no longo. Ela ganha escala, se torna ainda mais
gigante, elimina estruturas em duplicidade e passa a não ser ameaçada
por mais ninguém", disse.
Bruno Giardino, do Santander, concorda, mas faz ressalvas.
"A Kroton vai usar a escala a seu favor, ter mais eficiência, oferecer
preços melhores. É muito difícil que alguém consiga replicar o seu
tamanho, mas o mercado de ensino é muito regional, nada garante que ela
vai ter as marcas de melhor reputação em todas as cidades que opera",
pondera.
A capacidade de agregar valor da operação é confirmada pelo movimento do
mercado. Desde o início de junho, quando as negociações começaram, as
ações da Estácio subiram 56,17% e, as da Kroton, 22,74%.
Nos cálculos do analista do Santander as sinergias seriam da ordem de
350 milhões de reais por ano, um montante total de cerca 4 bilhões de
reais trazido a valor presente.
Segundo ele, para dar sinal verde ao negócio, o Cade pode exigir,
principalmente, que as companhias se desfaçam de ativos de ensino à
distância.
Juntas, elas concentram 48% das matrículas nessa modalidade, segundo os últimos dados do MEC, de 2014, cedidos por Giardino.
A Ser Educacional, que está na disputa para levar a Estácio com uma proposta no valor de 1 bilhão de reais, poderia vir a comprar os ativos que precisarão ser vendidos.
No campo de educação presencial, os problemas serão mais pontuais e,
portanto, mais fáceis de serem solucionados, de acordo com Giardino.
Há 14 cidades em que tanto a Estácio quanto a Kroton têm campi. Em seis
delas, conforme as contas do analista, a fatia de mercado de ambas
ultrapassa 40%: Santo André (SP), Niterói (RJ), São José (SC), Campo
Grande (MS), Macapá (AP) e São Luís (MA).
A análise do Cade, porém, pode considerar a concentração das duas em
cada curso, isoladamente. Foi o que aconteceu quando a Kroton comprou a
Anhanguera, em 2013.
Consolidação
A crise econômica e a consequente queda dos investimentos do país em
programas de financiamento, como FIES, tornaram o crescimento das
companhias de educação mais difícil.
Com fusões e aquisições, fica mais fácil gerar receita – e lucros. Não à toa, o setor vive uma consolidação.
"A compra da Estácio pode ser um gatilho para que outras transações
ocorram no segmento, as empresas tendem a ficar inclinadas a se combinar
para se manterem competitivas", diz Giordino, do Santander.
Também não é por acaso que a Kroton fechou o primeiro trimestre com um caixa de 574,4 milhões de reais.
"Ela é capitalizada demais. Se não houvesse esse processo de
consolidação do setor, estaria na hora de distribuir dividendos polpudos
aos acionistas", diz Montes, da Lopes Filho.
Para os analistas, a possibilidade de a Estácio fechar acordo com a Ser
Educacional, que já era pequena porque as sinergias com a Kroton são
maiores, diminuiu ainda mais.
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