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Energia eólica: situação colocaria mais pressão nas fábricas de equipamentos para o setor
São Paulo - A indústria de energia eólica do Brasil teme que um recuo nos generosos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
ao setor e a redução no ritmo de contratação de novas usinas devido à
menor demanda por eletricidade resultem em fábricas paradas para
diversos fabricantes que se instalaram no país nos últimos anos.
A situação colocaria mais pressão nas fábricas de equipamentos para o
setor --que viu a capacidade instalada crescer quase mil por cento nos
últimos anos, de cerca de 900 megawatts em 2010 para atuais 9,8
gigawatts--, mas que está sofrendo com menores contratações
recentemente, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica
(Abeeólica).
Desde o início da década, fabricantes como a norte-americana GE, as
espanholas Gamesa e Acciona e a dinamarquesa Vestas abriram fábricas no
Brasil para poder vender equipamentos aos clientes locais com
financiamento do BNDES, que exige um elevado nível de conteúdo local nas
máquinas para conceder os empréstimos.
Mas há uma tensão entre os fabricantes, que já temiam uma menor demanda
devido à queda no consumo de eletricidade com a crise econômica e agora
estão mais preocupados com a recente sinalização de que o BNDES poderá
reduzir financiamentos à área de energia, afirmou à Reuters a presidente
da Abeeólica, Elbia Gannoum.
"Parece bastante controverso, bastante fora de rumo, o Brasil ao mesmo
tempo querer providenciar investimento em infraestrutura e tirar o BNDES
de seu papel. Porque no curto e no médio prazo o mercado não tem opção.
Os bancos privados não emprestam a longo prazo e as taxas são
proibitivas", disse.
O vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na
sigla em inglês), Everaldo Feitosa, também considera o BNDES o único
financiamento viável ao setor no atual cenário e prevê problemas no caso
de redução nos recursos do banco.
"A indústria que fez o dever de casa, toda a cadeia produtiva de
geradores, pás, vai ser fortemente prejudicada. Vai na contramão de tudo
que tem sido feito no contexto de ter uma fabricação local e geração de
empregos."
POUCAS ALTERNATIVAS
Ele disse que uma alternativa para os investidores seria a busca por
financiamentos no exterior, mas ressaltou que seria preciso mitigar
riscos cambiais.
"Existem recursos abundantes, mas se qualquer empresa pegar recurso em
dólar ou euro fica exposta à mudança cambial, já que os contratos de
venda de energia são em reais." Há duas semanas, a nova presidente do
BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, disse que a participação do banco
nos financiamentos a projetos de energia em geral deve ser revista para
baixo, o que já foi feito para o setor de transmissão de eletricidade.
Procurado, o BNDES disse que ainda não tem informações sobre eventual
mudança, mas ressaltou que "a nova administração está revisitando todas
as políticas operacionais do banco". Os desembolsos do banco estatal
para usinas eólicas somaram 6 bilhões de reais em 2015 e 3,3 bilhões de
reais em 2014.
Para Feitosa, uma saída seria o BNDES criar um mecanismo de hedge
cambial e incentivar as empresas a buscar recursos no exterior.
"Existe um apetite muito grande de setores internacionais em financiar o
Brasil... o que não pode acontecer é cortar financiamento do BNDES,
cortar os leilões... o Brasil avançou de forma surpreendente em energia
eólica, saiu lá de trás e está hoje entre os maiores do mundo, é um
esforço que não pode ser jogado fora", disse.
DEMANDA EM XEQUE
Capitaneada pela Abeeólica, a indústria tem mantido conversas com o
governo com o objetivo de convencer as autoridades sobre a importância
de se contratar um volume mínimo de usinas eólicas por ano.
A entidade estima que sejam necessários cerca de 2 gigawatts em negócios
anuais para manter as fábricas ocupadas. Em 2015 o segmento teve uma
contratação de 1 gigawatt, ante 2,2 gigawatts em 2014 e um recorde de
4,7 gigawatts em 2013.
Nesta quinta-feira, o governo agendou para 16 de dezembro um leilão para
viabilizar novas usinas eólicas e solares, embora ainda não seja
possível prever quanto será contratado.
"A gente já está com defasagem do ano passado... essa contratação é
fundamental", disse Elbia. "É um momento de choque de demanda para baixo
e a indústria está vendo isso com preocupação... corremos o risco de
destruir cadeias produtivas importantes... essa indústria investiu muito
para estar aqui".
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