Dado Galdieri/Bloomberg
Crianças brincam com estilingues em lago nos subúrbios de Teresina, no Piauí
São Paulo - A renda per capita
do brasileiro deve acumular uma queda de 9,4% no período entre 2014 e
2016, de acordo com cálculo do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
É o segundo pior resultado desde o início do século passado. A última
queda sustentada da renda havia sido em 1998 e 1999, de 3% acumulados.
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"Assusta a magnitude dessa queda. Precisamos crescer ‘devagar e sempre',
continuamente, e nossa dificuldade é que damos passos pra frente e pra
trás. Ainda somos um país jovem e para ter um PIB per capita comparável
ao de países ricos precisaria continuar no ritmo, mas essa década tem se
mostrado um retrocesso", diz Silvia Matos, economista responsável pelo
estudo.
A queda atual só perde para o período entre 1981 e 1983, quando o PIB
per capita caiu 12,4%. Também houveram quedas fortes entre 1987 e 1992 e
nos anos 30:
Veja na tabela (os números pré-1947 são das estimativas mais usadas):
Período | Queda acumulada do PIB per capita |
---|---|
1907-1908 | -7,5% |
1914-1916 | -7,6% |
1929-1931 | -7,9% |
1981-1983 | -12,4% |
1987-1992 | -7,7% |
1998-1999 | -3% |
2014-2016 | -9,4% |
A vantagem é que hoje o país conta com proteção social muito maior do
que naquelas épocas, o que ameniza o impacto sobre os mais pobres:
"Não havia os beneficios sociais e programas de transferência de renda
que vieram com a Constituição de 1988. Hoje nós temos uma rede muito
mais ampla do que no passado", diz Silvia.
Mercado de trabalho e desigualdade
Essa rede é importante, mas não suficiente, já que o mercado de trabalho
foi o maior responsável pelos ganhos fortes experimentados pelo
brasileiro no boom anterior.
Uma análise do período entre 2001 e 2012 pelo Banco Mundial mostra
que o crescimento econômico foi responsável por dois terços da queda da
pobreza, e que a renda do trabalho, especialmente nos estratos mais
baixos, foi a principal força.
Essa dinâmica acabou. De acordo com um relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil terá o pior resultado de emprego em 2016 entre 43 países.
A previsão é que nossa taxa de desemprego, que estava em 8,5% no final de 2015, salte para 11,3% no final de 2016.
Isso vem piorando a a distribuição de renda, segundo estudo de Rodolfo Hoffmann, professor da Universidade de São Paulo (USP).
Com base na Pnad Contínua do IBGE, ele viu que a proporção de pessoas
com renda de até R$ 600,00 aumentou de 22,5% para 26,3% e o índice de
Gini, que mede a desigualdade, subiu 3,5% interrompendo a tendência de
queda desde 1995.
Um outro estudo também com base na PNAD, feito pelo Bradesco, verificou que a crise empurrou 3,7 milhões de brasileiros de volta para fora da classe C só entre janeiro e novembro de 2015.
Não está descartado que a classe C volte a representar menos de metade da população brasileira, o que aconteceu em 2010.
Perspectivas
Silvia diz que como a população cresce cerca de 0,8% por ano, o PIB
precisaria crescer pelo menos nessa taxa em 2017 apenas para interromper
a queda na renda per capita. O último Boletim Focus prevê 1% para o ano
que vem.
"Não quisemos fazer os ajustes necessários dos excessos depois da crise
financeira, e quando se adia fica muito mais custoso. Foi muito crédito a
custo elevado que virou endividamento e agora estamos pagando a conta",
diz ela.
Mesmo que a recessão seja interrompida,
poucos esperam uma recuperação vigorosa como aconteceu depois de várias
quedas no passado. Dessa vez, houve muita destruição de capital e tanto
famílias quanto governos estão muito alavancados.
"Havia no passado formas de acomodar esse aumento de gastos, mas todos
os atalhos foram utilizados. Agora, a sociedade não quer nem mais
impostos nem mais inflação, então tem que cortar despesas, o que é mais
difícil, porque muitas são constitucionais", diz Silvia.
Sem aprovação do teto de gastos proposto pelo governo, o rombo fiscal pode dobrar em 4 anos, segundo estimativa do Senado. Mas como os 40% mais pobres tem apenas 10% do PIB, dá para mexer em muitas despesas sem prejudicá-los.
"Queremos um estado de bem estar social mas temos que focar em quem
precisa. Hoje, temos pessoas de renda média e alta recebendo benefícios
sociais", diz Silvia.
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