Na esteira das investigações, que atingiram grandes empresas do país, o banco achou por bem reforçar o seu time de compliance
São Paulo – Na esteira da Operação Lava Jato,
que culminou na prisão dos comandantes de algumas das maiores empresas
do país – e em perdas reconhecidas pelos bancos em seus balanços, por
conta da inadimplência dessas mesmas companhias – o Itaú achou por bem ampliar o seu time de compliance.
A área, dedicada a identificar e investigar possíveis condutas irregulares, foi a única que cresceu dentro do banco em 2016.
“O que aconteceu com isso tudo é que a gente ficou ainda
mais rigoroso (na concessão de crédito)”, disse Roberto Setubal,
presidente do Itaú-Unibanco, em entrevista a jornalistas nesta
terça-feira em São Paulo.
De acordo com ele, o objetivo é prevenir que a instituição
acabe sendo usada para lavagem de dinheiro, apesar de nenhum problema
desse tipo ter sido identificado internamente. O executivo creditou o
reforço não apenas à Lava Jato, mas “ao ambiente mais complexo que a
gente está vivendo”.
Lucro em queda e retomada
O Itaú teve um lucro líquido de 21,6 bilhões de reais no ano
passado, queda de 7,4% ante 2015. No último trimestre, os ganhos
líquidos foram de 5,5 bilhões, recuo de 2,7% na comparação anual.
Porém, o resultado líquido recorrente, que exclui eventos extraordinários, chegou a 5,81 bilhões, número 1,7% maior do que o registrado 12 meses antes.
O lucro
anual do Itaú não encolhia desde 2012. A retração já era esperada e foi
atribuída, principalmente, ao aumento das despesas de provisão para
devedores duvidosos (PDDs).
As reservas para cobrir calotes somaram 26,15 bilhões de reais em 2016, um aumento de 9,7% frente a 2015.
Ao longo de 2017, essas provisões devem ser reduzidas, de acordo com Setubal, já que a inadimplência está em queda.
O índice de atrasos para dívidas vencidas acima de 90 dias
fechou em 3,4% em dezembro, ante 3,9% em setembro. Os calotes diminuíram
em todos os segmentos, tanto para pessoas físicas quanto para grandes e
pequenas empresas.
“A notícia boa é exatamente essa”, frisou o executivo.
A tendência é que os números continuem a melhorar, no embalo
do ambiente macroeconômico. O Itaú prevê um crescimento de 1% no PIB
neste ano, ante uma expectativa de retração de 3,4% em 2016.
“A gente está cautelosamente otimista como o ano de 2017”,
disse Setubal. Ele aposta num cenário externo favorável, vê os cortes na
taxa Selic com bons olhos e acredita que as pessoas e empresas vão
reduzir suas dívidas durante este ano.
Também diz que o banco “com certeza” vai acompanhar a queda taxa básica e reduzir os juros cobrados dos clientes.
Conservador
Os empréstimos concedidos pelo Itaú (incluindo avais,
fianças e títulos privados como debêntures) chegaram a 598,4 bilhões de
reais em 2016, um recuo de 11% frente ao ano anterior. É o resultado
mais conservador dentre os apresentados até agora.
No Santander, a carteira de crédito expandida encolheu 2,5%
em 12 meses, atingindo 322,78 bilhões de reais. No Bradesco, os
financiamentos aumentaram 8,6%, para 515,0 bilhões, considerando a
consolidação do recém-adquirido HSBC.
Nas projeções oficiais, o Itaú considera a possibilidade de
que sua carteira diminua ou cresça 2% em 2017, mas Setubal disse que
espera que os empréstimos comecem a se expandir em função do provável
aumento da demanda.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido do Itaú,
indicador que mede como um banco remunera seus acionistas, foi de 19,8%
em 2016. No Santander, o retorno ficou em 17,6% e, no Bradesco, em
13,3%.
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