O boicote veio depois que o CEO Trevis Kalanick aceitou um convite do presidente para integrar sua equipe de conselheiros econômicos
Se você não pode vencê-los, junte-se a eles. É isso que diz a máxima popular, e foi isso que o CEO da Uber,
Trevis Kalanick, disse ao aceitar um convite do novo presidente Donald
Trump para ser parte de um conselho de assessores econômicos da Casa
Branca.
“Desde a fundação do Uber nós precisamos trabalhar com
governos e políticos de várias orientações em dezenas de países “, disse
Kalanick, justificando a medida em seu blog.
“Em alguns casos, nós tivemos que nos erguer e lutar para
progredir, em outros, nós mudamos as coisas com persuasão e
argumentação.”
A opinião pública do Vale do Silício, porém, não está em
clima de conversa diplomática depois das medidas anti-imigração
anunciadas por Trump na última semana — que incluem a suspensão
temporária da entrada de pessoas de sete países árabes de maioria
muçulmana nos EUA. Funcionários do Facebook, do Google e do Twitter, que
dependem de mão de obra qualificada de outros nacionalidades, já
organizaram protestos contra a política de segurança do novo morador da
Casa Branca.
E no último domingo (5), Microsoft, Apple e outras 100
empresas de tecnologia — inclusive o próprio Uber — assinaram um
documento oficial afirmando que o decreto presidencial “inflige um dano
significativo aos negócios, à inovação e ao crescimento
norte-americanos.”
A pressão sobre Kalanick, cujo meio de campo não agrada seus
colegas mais radicais, aumentou ainda mais após um grande protesto
surgir sem organização prévia no aeroporto internacional J.F. Kennedy,
em Nova York, durante a libertação de dois refugiados iraquianos que
haviam sido detidos ao tentar entrar no país.
Em solidariedade aos manifestantes, que segundo o New York
Times chegaram às centenas ao longo dia, o sindicato dos taxistas da
cidade autorizou a interrupção dos serviços no aeroporto entre as 6:00 e
7:o0 da noite do dia 28 de janeiro, um sábado.
O Uber teria aproveitado a deixa para subir as próprias
tarifas e se aproveitar da situação, dizem alguns — citando um tweet
publicado às 7:30, meia hora após o fim do protesto dos taxistas, em que
o aplicativo afirmava ter desligado a função “surge pricing”, que
aumenta as tarifas em locais de alta demanda.
Outros afirmam que, na verdade, a função foi desligada
justamente para a empresa parecer “boazinha” e ganhar publicidade
gratuita com a manifestação — mas que na hora em que as tarifas
baixaram, já era tarde demais e os taxistas haviam voltado ao trabalho, o
que escancarou a farsa.
Qualquer que seja a linha de raciocínio, o fato é que a
medida foi considerada oportunista por opositores de Trump, e foi o
gatilho para a campanha #DeleteUber, que, segundo o New York Times, já
fez com que 200 mil pessoas abandonassem o aplicativo.
Diante da polêmica, na última quinta Kalanick desistiu de
sua posição de conselheiro de Trump, confirmada desde dezembro do ano
passado, mas que não tinha vindo à tona antes do caso de Nova York.
“Há muitas maneiras de lutar por mudanças nos decretos de
imigração, e minha presença no conselho ficaria no caminho disso”,
afirmou o CEO aos seus funcionários.
A medida, que deve melhorar a reputação do Uber no Vale do
Silício, veio acompanhada do anúncio da criação de um fundo de 3 milhões
de dólares para ajudar imigrantes e refugiados que dirigem para o
aplicativo.
Este conteúdo foi originalmente publicado na Superinteressante.
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