terça-feira, 24 de maio de 2016

"Rei da carne" explica mudança de estrutura da JBS






Bloomberg/Paulo Fridman
Wesley Batista
Wesley Batista: "depois que nós nos internacionalizamos, eu sei exatamente o que é o Custo Brasil"
 
Gerson Freitas Jr., da Bloomberg

Para a JBS SA, localização é tudo. A empresa, que começou como um matadouro e hoje é a maior produtora mundial de carne bovina e de frango, espera que uma mudança de endereço ajude a reduzir os custos de financiamento.

Em uma entrevista essa semana, o CEO Wesley Batista afirmou que o custo de crédito – e não o desejo de economizar em impostos ou outros tipos de despesa – foi o principal motivo para a reestruturação societária anunciada no dia 11.
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“A JBS não tem o mesmo acesso ao mercado de capitais que os nossos concorrentes lá fora,” afirmou Wesley em entrevista em São Paulo. "A gente está buscando ter uma estrutura que reflita melhor aquilo que a companhia é hoje."

Essa nova estrutura inclui ter ações negociadas nos EUA, transformar a unidade brasileira em uma subsidiaria e mudar a sede formal da JBS para a Europa (provavelmente para a Irlanda, segundo Wesley).

Todo o resto – incluindo a diretoria e pagamento de impostos – deve ficar mais ou menos igual, disse o CEO.

O fato de uma empresa que, na mídia local, é conhecida como um “campeão nacional” estar essencialmente se tornando uma entidade internacional ilustra as desvantagens que as companhias nacionais tem em competir com pares globais.

A JBS se tornou a maior produtora de frangos em 2014, superando a americana Tyson Foods Inc., depois de uma série de aquisições, somando mais de 20 bilhões de dólares, ajudada por financiamentos do banco nacional de desenvolvimento brasileiro, o BNDES.

O banco ainda detém uma fatia de cerca de 24 por cento da empresa.

Mesmo com mais de dois terços das receitas vindo dos EUA, a JBS ainda é classificada como um emissor ‘high yield’ (de grau especulativo) brasileiro quando acessa mercados de crédito internacionais, disse o CEO.

Em 2009, a empresa havia anunciado a intenção de fazer um IPO de suas operações nos Estados Unidos, mas o negócio foi sucessivamente adiado e finalmente abortado devido à crise financeira internacional.

Os 750 milhões de dólares de títulos de dívida da JBS com vencimento em 2024 tem yield de 6,99 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Apesar de o custo ser 1 ponto percentual abaixo do visto antes do anúncio da reestruturação, é mais de duas vezes o yield de notas semelhantes da Tyson.

“Respeitando as diferenças de rating e prazos, o custo deveria ser o mesmo que o a Tyson,” disse Batista.

A JBS vai analisar o perfil da dívida, incluindo um possível alongamento de vencimentos ou emissão de novos títulos, depois que a reestruturação for completada, segundo ele.

A JBS tem um rating BB+ pela Fitch Ratings, um degrau abaixo do grau de investimento e dois abaixo da Tyson.

A Fitch disse em um relatório este mês que a reorganização deve diminuir a volatilidade do resultado ao limitar a exposição da JBS a variações cambiais, contanto que a empresa faça menos hedges cambiais.

A JBS ganhou bilhões apostando na desvalorização do real em 2015, e perdeu grande parte desse lucro no primeiro trimestre, com o avanço da moeda brasileira.

“O movimento faz todo sentido” afirma Thiago Kapulskis, analista da Brasil Plural SA, uma corretora em Sao Paulo.

Segundo ele, a listagem em Nova York também deve ajudar a JBS a ser comparada com a Tyson, que é negociada a 15 vezes seu lucro estimado. A JBS é negociada a 8 vezes.

“A JBS passa a ser percebida como a empresa americana que ela é na prática”

A JBS não acompanhou o rali do mercado brasileiro esse ano, em parte por acusações do Tribunal de Contas da União de que a empresa recebeu tratamento preferencial do BNDES.

As ações recuaram ao menor valor em três meses depois que um jornal local reportou que a empresa teria feito doações eleitorais ilegais, o que a JBS nega.

O Ibovespa acumula alta de 26 porcento em dólares esse ano, um dos melhores desempenhos entre índices de ações globais, em meio a apostas de investidores de que o Presidente em Exercício Michel Temer terá mais sucesso em melhorar a confiança no País, impulsionar o crescimento e conter um crescente déficit.

E a reestruturação da JBS foi motivada pela instabilidade no Brasil?

“Sim e não,” disse Wesley. Apesar de o CEO estar otimista com as perspectivas para o Brasil, empresas nacionais continuam lidando com burocracias e complicadas legislações trabalhistas e fiscais – parte do porque o mercado coloca um prêmio para investir em ativos brasileiros.

Esse custo – conhecido como “Custo Brasil” – é claro nos números da JBS, disse Wesley. A empresa tem 150 pessoas em São Paulo para lidar com impostos, comparado com 15 pessoas para fazer o mesmo nos EUA.

No Brasil, a empresa tem mais de 80 pessoas em seu departamento jurídico, 16 vezes o número de funcionários nos EUA para cuidar dos mesmos assuntos.

A reorganização não vai resolver esses desafios já que a JBS vai manter as operações basicamente inalteradas, disse Wesley.

"Eu ouvia falar do Custo Brasil, mas não tinha exatamente a noção do que isso significava. Hoje, depois que nós nos internacionalizamos, eu sei exatamente o que é o Custo Brasil."

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