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Dilma Rousseff: primeira entrevista depois de seu afastamento no processo de impeachment a Glenn Greenwald, do Intercept
São Paulo – O site The Intercept publicou nesta quinta-feira (19) a primeira entrevista da presidente Dilma Rousseff (PT) desde seu afastamento no processo de impeachment.
A petista concedeu entrevista ao jornalista americano Glenn Greenwald,
responsável pela divulgação dos documentos secretos da inteligência
americana colhidos por Edward Snowden que revelaram o esquema de
espionagem massiva da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos.
A conversa começa com questionamentos de Greenwald sobre a atuação do
STF, ora no processo de impeachment, ora na Operação Lava Jato. Deixando
claro que acredita que o tribunal advoga corretamente a respeito do seu
impedimento, Dilma ataca a atitude do ministro Gilmar Mendes em pedir
arquivamento de investigações contra Aécio Neves, fazendo ressalva
quanto a conduta dos demais.
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“Nem todos [os ministros] têm a mesma posição um tanto quanto
efetivamente militante, visivelmente militante, eu diria”, afirma a
presidente afastada. “Acho que no Brasil nós não podemos ter dois pesos e
duas medidas. Quando se investigar, que se investiguem todos. Ninguém
pode ser poupado da investigação.”
O segundo assunto são as pedaladas fiscais: Greenwald pergunta se a
presidente não considera o ato proibido pela lei de responsabilidade
fiscal. A presidente afastada argumenta que não só o ato não é crime de
responsabilidade, como é atividade prevista pelo regimento.
“Chama-se de pedalada um processo chamado Crédito Suplementar. Esse
Crédito Suplementar está previsto na Lei Orçamentária, ele é autorizado
pela Lei Orçamentária”, diz Dilma. “Se você tiver um excesso de
arrecadação específico numa ação de governo, você tem direito de
utilizar esse excesso para ampliação deste governo.”
Para Dilma, os decretos pedidos pelo Tribunal Superior Eleitoral foram
autorizados, pois partiam de excesso dentro da rubrica. “É algo
extremamente técnico. Não foi nada feito às escondidas”, afirma.
Dilma Rousseff: entrevista a Glenn Greenwald no Palácio do Planalto
Sobre o novo governo, a qual se refere como “interino e ilegítimo”,
Dilma acredita que a gestão será marcada por condução conservadora — um
governo de homens brancos e sem negros, como ela define.
“Não ter uma mulher e não ter negros no governo, eu acho que mostra um
certo descuidado com que país que você está governando”, afirma.
Assunto muito comentado, Greenwald aproveita o ensejo para questionar a
força da democracia. Dilma diz não acreditar em seu fim, por conta de um
fortalecimento das instituições no Brasil, mas diz que um governo
ilegítimo tenta disfarçar repressão através de uma “pseudo-ordem”.
Dali partiriam ações como “impedimento da manifestação, do direito de
expressão” e “um grande apetite por cortar programas sociais”. "Eu acho
que o que tem que se fazer aqui no Brasil é lutar contra, protestar e,
inclusive, exercer uma pressão sobre os congressistas", diz.
Greenwald cita a restrição do Bolsa Família para os 5% mais pobres,
citando ação estudada por Temer para corte de gastos. Dilma define a
possibilidade como característica de "retrocesso" e "conservadorismo".
"Toda a condicionalidade desse programa é: levar criança para a escola,
vacinar e acompanhar a saúde infantil. Com isso, nós reduzimos
mortalidade infantil, com isso nós colocamos na escola crianças que não
iam para a escola, porque não tem como fazer política para as crianças,
se não fizer para os adultos, para as famílias, para as mães."
Gleen Greenwald: jornalista americano realiza a primeira entrevista desde o afastamento para The Intercept
Dilma não responde sobre preferência entre Temer ou novas eleições. Por
"estar lutando até o fim" no processo, prefere se isentar na questão. Ao
ser confrontada com o fato de que o atual presidente em exercício e
Eduardo Cunha (PMDB) serem seus antigos aliados, Dilma afirma que "desse
partido convivem as mais diferentes características", o que gerou
intensos atritos desde o primeiro dia de seu segundo mandato.
Por fim, Dilma comenta o sentimento de passar pelo processo de
impeachment. Assim como em seu discurso final no Planalto, ela cita a
injustiça como ponto crucial de sacrifício.
"Talvez a coisa mais difícil pra uma pessoa suportar além da dor, da
doença e da tortura, seja a injustiça. Por quê? Porque você fica como se
estivesse preso numa armadilha", diz.
"Por que eles queriam que eu renunciasse? Porque a minha presença é
incômoda. Como eu não tenho conta no exterior, já me viraram dos lados
avessos, eu nunca recebi propina, eu não aceito conviver com a
corrupção. Uma das coisas que dizem que eu sou dura é porque é muito
difícil chegar a mim pra propor qualquer coisa incorreta. (...) Eu sou
vítima da injustiça."
Veja a íntegra da entrevista no Intercept.
* Atualizado às 17h25.
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