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Peças são soldadas por robôs em linha de montagem
de automóveis: indústria 4.0 é caracterizada por processos de produção
totalmente digitalizados
O que é indústria do futuro para você? Esqueça todas as ideias de um
ambiente cibernético distante da realidade atual. Em países como Estados
Unidos e Alemanha, todas as decisões no chão de fábrica já são tomadas
pelas próprias máquinas, a partir de informações fornecidas em tempo
real. A quarta revolução industrial já começou e empresas de todo o
mundo começam uma corrida contra o tempo para entrar na era da chamada
indústria 4.0.
Estamos falando aqui de uma nova lógica de produção que nasceu na
Alemanha, em 2011, e deu início ao processo de digitalização da operação
industrial. A união do conceito de internet das coisas com a
automatização industrial gera inteligência à manufatura e um universo de
possibilidades para diferentes fabricantes. Máquinas interconectadas
conversam e trocam comandos entre si, armazenam dados na nuvem,
identificam defeitos e fazem correções sem precisar de ajuda.
E o Brasil? Em que estágio está nesse movimento? Muitas indústrias
brasileiras já automatizaram seus processos, mas ainda não alcançamos a
manufatura digital. “A indústria 4.0 é composta por duas vertentes:
processos integrados que garantem a produção customizada e produtos
inovadores. O Brasil precisa ainda andar muito nesses dois sentidos.
Temos poucos setores competitivos em escala global”, afirma o professor
Eduardo de Senzi Zancul, da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (Poli-USP).
Algumas indústrias brasileiras saíram na frente, com projetos que podem
ser considerados 4.0. Veja o caso da Ambev. Em 2015, a multinacional de
bebidas adotou um sistema de automação para melhorar o controle do
processo de resfriamento da cerveja e reduzir as variações de
temperatura, evitando, assim, o desperdício de energia. A tecnologia já
está em oito cervejarias da empresa e a previsão é expandir o uso para
outras unidades ao longo deste ano.
Na Volkswagen Brasil, todos os projetos nascem a partir de um modelo
digital. Os produtos são simulados em ambiente 3D, o que acelera o
processo, garante flexibilidade, otimiza o tempo de produção e ainda
abre postos de trabalho altamente qualificados. A Volkswagen tem
investido em software, hardware e treinamento para que os funcionários
passem a lidar com essa nova realidade.
Cinco novas iniciativas nas
fábricas brasileiras já permitiram uma economia para a empresa de 93
milhões de reais em dois anos.
“A indústria 4.0 cria uma produção em rede mais precisa, de baixo custo,
e permite personalizações em massa com velocidade”, afirma Rosane
Prado, diretora da área de digital da consultoria Innovative. As
máquinas podem reproduzir diferentes modelos de um produto em sequência,
sem qualquer necessidade de parada para reconfiguração.
A intenção é que o consumidor possa escolher um carro de cor diferente,
por exemplo. Ainda na linha de montagem, aquele automóvel já teria um
dono, pois as máquinas podem receber o pedido e fazer as customizações
necessárias. “Tradicionalmente, a produção industrial acontece em lotes
muito grandes. Mas, com a digitalização, cada produto é único na linha
de produção”, diz Zancul.
Essa é uma realidade possível em países como Alemanha e Estados Unidos,
porque existem grandes projetos e iniciativas com participação do
governo e da iniciativa privada. Nos Estados Unidos, foi criada a
organização sem fins lucrativos Smart Manufacturing Leadership Coalition
(coalização para a liderança em indústria inteligente, em tradução
livre) para mostrar, com a ajuda de pesquisas, os benefícios da
manufatura avançada e facilitar sua adoção.
Investir em inovação e em educação é uma das principais formas de
reverter o cenário brasileiro, até mesmo para aumentar a compreensão do
que é digitalização. “Já existem instituições, empresas e universidades
trabalhando em torno da indústria 4.0. Mas o movimento ainda está
disperso. Não temos um grande projeto para agregar esforços e gerar
massa crítica de mão de obra, de qualificação e de mercado”, afirma
Zancul.
Para competir globalmente, a indústria nacional deve aumentar sua
produtividade e sua participação na economia brasileira. “As empresas
precisam fazer uma transformação digital tanto em hardware quanto em
software para ter uma integração completa de todos os processos”, diz
Rosane, da Innovative. Disposição e vontade não faltam, mas o Brasil
precisa ousar para dar um salto de desenvolvimento e entrar para valer
na nova era da indústria 4.0.
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