quarta-feira, 25 de maio de 2016

Mercado avalia que medidas anunciadas pelo governo são ambiciosas



Plano divide opiniões, mas economistas concordam que há sinalização para ajuste fiscal de longo prazo

Por Infomoney

 Mercado avalia que medidas anunciadas pelo governo são ambiciosas


O plano econômico anunciado pelo governo Temer dividiu as opiniões dos economistas ouvidos pelo Infomoney, mas quase todos concordam que a sinalização foi boa, principalmente por mostrar mudanças estruturais no quadro fiscal. “As medidas iniciais não têm nada de irrealistas, a não ser talvez a reforma da Previdência, que é algo politicamente muito complicado para emplacar em dois anos por um governo interino”, opina Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional em Washington DC e professora da Johns Hopkins University.

Na visão dela, o conjunto de propostas constrói um caminho e começa a resolver algumas coisas, como a questão dos gastos. “O mais importante é o pano de fundo de que dinheiro não pertence ao governo, mas ao povo, que paga impostos. Essa foi a tônica da mensagem de Temer, com o compromisso do governo de proteger esses recursos e usá-los da melhor maneira possível", afirma. As medidas que mais ilustram isso, segundo Monica, são a não-permissão para que governo gaste em excesso, a reafirmação da necessidade de governança de fundos e estatais, a exigência de que BNDES pague uma parte da dívida com Tesouro, o limite aos subsídios. Na opinião de Marcelo Carvalho, economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, a transferência de recursos do BNDES para o Tesouro medida pode indiretamente permitir uma maior queda na taxa de juros pelo Banco Central.
  
A série de providências foi elogiada também pelo economista especializado em contas públicas, Raul Velloso. "Foram na direção certa. Era preciso mostrar que se fará um ajuste sério sem ser detalhado o suficiente para gerar resistência em alguns setores", constatou. Na sua avaliação, a decisão mais importante é a fixação de um teto para o gasto público, pois coíbe a irresponsabilidade fiscal e o avanço do endividamento. Sobre outros pontos, como o do pagamento de R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional pelo BNDES, Velloso avaliou como uma atitude óbvia. Velloso reiterou que o mesmo vale para a extinção do Fundo Soberano. "Para quê deixar esse dinheiro lá dormindo à espera que alguém vá lá e gaste? É melhor usá-lo para abater a dívida sem passar pelo Orçamento do governo", explicou.

Em relatório, a Capital Economics avaliou que o plano divulgado por Meirelles é ambicioso, mas faltam detalhes. O documento lembra que a maioria das medidas mais importantes requer mudanças substanciais na Constituição e que a devolução de recursos do BNDES ajudará o fluxo de caixa sem alterar fundamentalmente a posição da dívida pública. "Meirelles evitou tendência do governo anterior de ir para reparos rápidos e, em vez disso, parece estar optando por reformas estruturais mais profundas", analisa a Capital Economics.  

Também em relatório, o Goldman Sachs entende que o foco em medidas estruturais de cunho fiscal é positivo, já que poderia melhorar a baixa eficiência do gasto público e contribuir para impedir uma deterioração ainda maior do quadro fiscal. "É inquestionável que a nova equipe econômica gerou um choque de confiança e credibilidade, mas isso não é o bastante para entregar um ajuste fiscal da magnitude necessária e estabilizar a economia", escreve a equipe de análise do banco norte-americano. O que vai garantir a efetividade dessas medidas, segundo o Goldman, é o grau de apoio político e capacidade do governo Temer para angariar apoio no Congresso. Para o banco, além das medidas anunciadas, o aprofundamento do ajuste fiscal e a redução do déficit público só serão obtidos em uma longa jornada, de vários anos, na qual a sociedade e o Congresso terão de enfrentar escolhas difíceis. 


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