Plano divide opiniões, mas economistas concordam
que há sinalização para ajuste fiscal de longo prazo
Por Infomoney
O plano
econômico anunciado pelo governo Temer dividiu as opiniões dos economistas
ouvidos pelo Infomoney, mas quase todos concordam que a sinalização foi boa,
principalmente por mostrar mudanças estruturais no quadro fiscal. “As medidas
iniciais não têm nada de irrealistas, a não ser talvez a reforma da
Previdência, que é algo politicamente muito complicado para emplacar em dois
anos por um governo interino”, opina Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto
Peterson de Economia Internacional em Washington DC e professora da Johns
Hopkins University.
Na visão dela, o conjunto de propostas constrói um caminho
e começa a resolver algumas coisas, como a questão dos gastos. “O mais
importante é o pano de fundo de que dinheiro não pertence ao governo, mas ao
povo, que paga impostos. Essa foi a tônica da mensagem de Temer, com o
compromisso do governo de proteger esses recursos e usá-los da melhor maneira
possível", afirma. As medidas que mais ilustram isso, segundo Monica, são
a não-permissão para que governo gaste em excesso, a reafirmação da necessidade
de governança de fundos e estatais, a exigência de que BNDES pague uma parte da
dívida com Tesouro, o limite aos subsídios. Na opinião de Marcelo Carvalho,
economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, a transferência de
recursos do BNDES para o Tesouro medida pode indiretamente permitir uma maior
queda na taxa de juros pelo Banco Central.
A série
de providências foi elogiada também pelo economista especializado em contas
públicas, Raul Velloso. "Foram na direção certa. Era preciso mostrar que
se fará um ajuste sério sem ser detalhado o suficiente para gerar resistência
em alguns setores", constatou. Na sua avaliação, a decisão mais importante
é a fixação de um teto para o gasto público, pois coíbe a irresponsabilidade
fiscal e o avanço do endividamento. Sobre outros pontos, como o do pagamento de
R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional pelo BNDES, Velloso avaliou como uma atitude
óbvia. Velloso reiterou que o mesmo vale para a extinção do Fundo Soberano.
"Para quê deixar esse dinheiro lá dormindo à espera que alguém vá lá e
gaste? É melhor usá-lo para abater a dívida sem passar pelo Orçamento do
governo", explicou.
Em
relatório, a Capital Economics avaliou que o plano divulgado por Meirelles é
ambicioso, mas faltam detalhes. O documento lembra que a maioria das medidas
mais importantes requer mudanças substanciais na Constituição e que a devolução
de recursos do BNDES ajudará o fluxo de caixa sem alterar fundamentalmente a
posição da dívida pública. "Meirelles evitou tendência do governo anterior
de ir para reparos rápidos e, em vez disso, parece estar optando por reformas
estruturais mais profundas", analisa a Capital Economics.
Também em
relatório, o Goldman Sachs entende que o foco em medidas estruturais de cunho
fiscal é positivo, já que poderia melhorar a baixa eficiência do gasto público
e contribuir para impedir uma deterioração ainda maior do quadro fiscal.
"É inquestionável que a nova equipe econômica gerou um choque de confiança
e credibilidade, mas isso não é o bastante para entregar um ajuste fiscal da
magnitude necessária e estabilizar a economia", escreve a equipe de
análise do banco norte-americano. O que vai garantir a efetividade dessas
medidas, segundo o Goldman, é o grau de apoio político e capacidade do governo
Temer para angariar apoio no Congresso. Para o banco, além das medidas
anunciadas, o aprofundamento do ajuste fiscal e a redução do déficit público só
serão obtidos em uma longa jornada, de vários anos, na qual a sociedade e o
Congresso terão de enfrentar escolhas difíceis.
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