Ueslei Marcelino/ Reuters
Michel Temer e Dilma Rousseff: analistas do mercado estão atentos para efeitos da Lava Jato na política de curto prazo
Josué Leonel e Paula Sambo, da Bloomberg
Os problemas políticos do presidente interino Michel Temer preocupam o mercado. Por ora, o receio é maior com eventuais dificuldades do governo em aprovar as reformas no Congresso do que com o risco de reversão do afastamento de Dilma Rousseff.
Mas as perdas de dois ministros em 19 dias do novo governo foram um alerta sobre as turbulências que a Lava Jato deve continuar gerando no cenário político.
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A consultoria Arko Advice, de Brasília, mantém como “muito provável” o
cenário de confirmação do impeachment de Dilma na votação final do
Senado, prevista para agosto.
“Os senadores sofreram muito com a falta de capacidade do governo
anterior e não querem a Dilma de volta”, diz Lucas de Aragão, sócio da
Arko.
O consultor também relativiza o impacto da notícia veiculada pelo Globo
de que dois senadores, Romário e Acir Gurgacz, estariam considerando, na
votação final, mudar os seus votos, que foram pró-impeachment na
votação da admissibilidade.
Mesmo que eles realmente mudem seus votos, isso não necessariamente reverterá o placar, diz Aragão.
Isso porque também devem ocorrer reversões a favor do impeachment, pois
alguns senadores que votaram contra a abertura do processo de
afastamento de Dilma hoje fazem parte da base de apoio a Temer.
O mercado parece não ter dúvidas de que um eventual retorno de Dilma teria consequências negativas para os negócios.
O risco Brasil, que atingiu pico de 533 pontos no pior momento do
governo Dilma em setembro de 2015, entrou em rota de baixa a partir de
fevereiro com as apostas em impeachment.
Após mínima de 326 pontos no dia em que a presidente foi afastada,
passou a mostrar maior sustentação nas últimas duas semanas com as
dificuldades do presidente interino.
“Se a Dilma retomar o seu posto, os mercados vão reagir muito, muito
mal”, diz Sacha Tihanyi, estrategista-sênior para mercados emergentes da
TD Securities, em Nova York.
“Isso indicaria provavelmente um retorno à trajetória fiscal anterior e
eliminação dos esforços do governo interino de Temer para, pelo menos,
tentar estabilizar as condições fiscais. Provavelmente veríamos alta no
CDS e no rendimento dos títulos do governo e desvalorização do real.”
Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, considera
“prematuro“ um cenário de volta de Dilma, mas admite que as notícias
sobre senadores mudando os votos aumentam as incertezas.
“O quadro político traz ruído, ainda mais com as medidas de Temer precisando de aprovação do Congresso."
Aragão, da Arko, relata que, em seus contatos com senadores, não sente
qualquer clima para a volta da presidente afastada. O consultor
reconhece que a Lava Jato deve continuar representando riscos para o
governo, mas lembra que isso também ocorreu no governo Dilma.
“Para os senadores, a Lava Jato é um risco tanto para os ministros de
Temer quanto foi para os de Dilma, mas o governo Temer tem maior
capacidade de diálogo.”
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