segunda-feira, 2 de maio de 2016

Você queimaria US$105 milhões? Quênia fez isso por boa razão




REUTERS/Thomas Mukoya
Soldado do Quênia em frente à fogueira de marfim em 30.04.2016
Batalha: país queimou maior estoque de marfim apreendido no mundo para mostrar compromisso de combate à caça ilegal.

São Paulo - Uma fogueira de valor estimado em 105 milhões de dólares (cerca de 367 milhões de reais). Quem deliberadamente queimaria tanto dinheiro assim? O Quênia fez isso — e por uma boa razão.

No último sábado (30), o país colocou fogo em mais de 105 toneladas de presas de elefantes e chifres de rinocerontes, o maior estoque ilegal de marfim apreendido já queimado no mundo.
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A investida teve um objetivo claro: chamar a atenção da comunidade internacional para demonstrar o compromisso do Quênia com o combate à caça furtiva, que ameaça levar à extinção os elefantes e rinocerontes na África.

REUTERS/Thomas Mukoya
Pilhas de marfim são queimadas no Quênia em 30 de abril de 2016.

A prática de abate de elefantes tem como único fim a retirada das presas. Estimativas falam numa média de 30 000 animais mortos todos os anos para este fim.
 
Mais da metade do material furtado vai para China, onde o marfim alimenta um mercado negro de esculturas, armações de óculos e até pauzinhos usados para comer entre outros produtos ilegais. Conhecido como "ouro branco", o quilo do marfim varia de mil a três mil dólares.
 
No caso dos rinocerontes, só no ano passado, mais de 1 300 animais foram mortos por caçadores para abastecer um mercado ilegal  que movimenta cerca de 70 bilhões de dólares por ano. Moído, o chifre do rinoceronte é vendido a centenas de dólares por grama no mercado negro para ser usado na medicina asiática.
 
REUTERS/Thomas Mukoya
Queima de marfim no Quênia em 30.04.2016

A queima das piras gigantes de marfim no Quênia coincide com o encontro do The Giants Club (ou Clube dos Gigantes), um fórum que reúne líderes de nações que servem de lar para elefantes e rinocerontes. Junto com ONGs, especialistas e grupos ambientalistas, eles discutem soluções e mecanismos para reduzir o massacre sanguinário de animais. 

"Ninguém, repito, ninguém, irá comercializar marfim, se esse comércio for sinônimo de morte dos nossos elefantes e morte para o nosso patrimônio natural", disse o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, durante a cerimônia.

Há quem considere a medida "um tiro no pé". A fogueira histórica representa 5% do estoque global de marfim, e quando se tira uma grande quantidade dessa do mercado, corre-se o risco de gerar o efeito contrário e indesejado: aumento do valor do marfim e, consequentemente, da caça furtiva. 
 
REUTERS/Thomas Mukoya
Pilhas de marfins são queimadas no Quênia em 30 de abril de 2016.
Diante deste impasse, há uma linha de ação que defende o comércio legal de marfim, mas esta também não é uma ideia popular, a julgar pelas experiências fracassadas do passado. Durante muito tempo, a caça furtiva não encontrou obstáculos no mundo, até que as populações de elefantes e rinocerontes começaram a despencar.

Quando ficou claro para a comunidade internacional que os esforços de regulamentar esse comércio haviam fracassado, criou-se em 1989 a proibição internacional do comércio de marfim sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES).

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