REUTERS/Thomas Mukoya
Batalha: país queimou maior estoque de marfim apreendido no mundo para mostrar compromisso de combate à caça ilegal.
São Paulo - Uma fogueira de valor estimado em 105 milhões de dólares (cerca de 367 milhões de reais). Quem deliberadamente queimaria tanto dinheiro assim? O Quênia fez isso — e por uma boa razão.
No último sábado (30), o país colocou fogo em mais de 105 toneladas de presas de elefantes e chifres de rinocerontes, o maior estoque ilegal de marfim apreendido já queimado no mundo.
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REUTERS/Thomas Mukoya
A prática de abate de elefantes tem como único fim a retirada das
presas. Estimativas falam numa média de 30 000 animais mortos todos os
anos para este fim.
Mais da metade do material furtado vai para China, onde o marfim
alimenta um mercado negro de esculturas, armações de óculos e até
pauzinhos usados para comer entre outros produtos ilegais. Conhecido
como "ouro branco", o quilo do marfim varia de mil a três mil dólares.
No caso dos rinocerontes, só no ano passado, mais de 1 300 animais foram mortos
por caçadores para abastecer um mercado ilegal que movimenta cerca de
70 bilhões de dólares por ano. Moído, o chifre do rinoceronte é vendido a
centenas de dólares por grama no mercado negro para ser usado na
medicina asiática.
REUTERS/Thomas Mukoya
A queima das piras gigantes de marfim no Quênia coincide com o encontro
do The Giants Club (ou Clube dos Gigantes), um fórum que reúne líderes
de nações que servem de lar para elefantes e rinocerontes. Junto com
ONGs, especialistas e grupos ambientalistas, eles discutem soluções e
mecanismos para reduzir o massacre sanguinário de animais.
"Ninguém, repito, ninguém, irá comercializar marfim, se esse comércio
for sinônimo de morte dos nossos elefantes e morte para o nosso
patrimônio natural", disse o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta,
durante a cerimônia.
Há quem considere a medida "um tiro no pé".
A fogueira histórica representa 5% do estoque global de marfim, e
quando se tira uma grande quantidade dessa do mercado, corre-se o risco
de gerar o efeito contrário e indesejado: aumento do valor do marfim e,
consequentemente, da caça furtiva.
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Diante deste impasse, há uma linha de ação que defende o comércio legal de marfim, mas esta também não é uma ideia popular, a julgar pelas experiências fracassadas do passado. Durante muito tempo, a caça furtiva não encontrou obstáculos no mundo, até que as populações de elefantes e rinocerontes começaram a despencar.
Quando ficou claro para a comunidade internacional que os esforços de
regulamentar esse comércio haviam fracassado, criou-se em 1989 a
proibição internacional do comércio de marfim sob a Convenção das Nações
Unidas sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Fauna e
Flora Silvestres (CITES).
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