Investigadores
que integram a força-tarefa da operação Lava-Jato embarcaram ontem para
a Suíça com a missão de auxiliar autoridades financeiras daquele país a
rastrear ativos supostamente remetidos ilegalmente ao exterior por
Fernando Soares, o "Fernando Baiano", apontado por delatores como
operador do PMDB na Petrobras. Soares está em regime de prisão
preventiva na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba.
Os procuradores da República Deltan Martinazzo Dallagnol e Orlando
Martello devem retornar ao Brasil na sexta-feira. "Temos indícios
consistentes da existência de contas na Suíça destinatárias do dinheiro
de Baiano e de [Renato] Duque [ex-diretor de Serviços da Petrobras preso
preventivamente por suspeita de corrupção]", disse Dallagnol ao Valor PRO. "Há também informações sobre outras contas que restam a ser identificadas."
Os procuradores terão três dias para seguir orientações do delator
Paulo Roberto Costa e encontrar documentos das contas mantidas pelo
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras naquele país. Há US$ 23 milhões
identificados como dinheiro de origem ilícita e congelados por
autoridades suíças.
Os recursos estão em contas no Credit Suisse. Outros
US$ 2,8 milhões também já foram identificados em contas do Royal
Canadian Bank, no paraíso fiscal das Ilhas Cayman.
Costa disse em sua delação premiada que os recursos seriam propina
paga pela Odebrecht no exterior entre 2010 e 2011. A empreiteira é
investigada em inquérito à parte da PF, pois não aparece na
contabilidade paralela do doleiro Alberto Youssef.
"Queremos buscar os recursos expatriados e recuperá-los. Eles serão
depositados em uma conta judicial", disse Dallagnol. Como o dinheiro
está na Suíça, a abertura de conta judicial ficará a cargo da 13ª Vara
Criminal Federal de Curitiba. Mas, se o caso envolver valores
expatriados por parlamentares, a conta será aberta pelo Supremo Tribunal
Federal.
O Ministério Público Federal (MPF) também tem a meta de identificar
outras contas do suposto esquema de cartel, corrupção e lavagem de
dinheiro na Petrobras.
Paulo Roberto Costa e os executivos da Setal, Júlio Camargo e Augusto
Ribeiro, afirmam haver US$ 160 milhões e ainda o equivalente a R$ 50
milhões ou R$ 60 milhões escondidos fora do país.
Camargo também mantém dinheiro na Suíça, conforme contou aos procuradores em sua delação.
A Odebrecht negou "veementemente as alegações caluniosas" e "em
especial, ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de
qualquer executivo ou ex-executivo da estatal, seja no Brasil ou no
exterior". Disse que seus contratos com a estatal estão dentro da lei e
que está à disposição das autoridades.
Por sua meio de assessoria de imprensa, Renato Duque negou a
participação em práticas criminosas envolvendo fornecedores da Petrobras
ou ter recebido vantagens indevidas em contas no Brasil ou no exterior.
A defesa de Fernando Soares nega que ele seja operador do PMDB.
Apontado como um dos "portadores" do doleiro Alberto Youssef, Adarico
Negromonte se entregou à PF de Curitiba na manhã de ontem. Ele era o
último procurado entre os investigados na sétima fase da operação
Lava-Jato e estava foragido desde o último dia 14, quando sua prisão foi
determinada.
Joyce Rosen, sua advogada disse que, em depoimento, Negromonte negou
ter entregado dinheiro a agentes públicos a mando de Youssef.
Negromonte chegou de táxi à Polícia Federal acompanhado por Joyce
Rosen. Os dois entraram no prédio da Superintendência da PF sem dar
entrevista.
De acordo com as investigações, ele levava dinheiro do escritório do
doleiro em São Paulo até os agentes públicos e partidos políticos
supostamente envolvidos em esquema de cartel, corrupção e
superfaturamento na Petrobras.
Adarico é irmão de Mário Negromonte, que foi ministro das Cidades na primeira gestão da presidente Dilma Rousseff.
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