terça-feira, 25 de novembro de 2014

Procuradores vão à Suíça rastrear contas


Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado | De Curitiba
Divulgação | Petrobras


Investigadores que integram a força-tarefa da operação Lava-Jato embarcaram ontem para a Suíça com a missão de auxiliar autoridades financeiras daquele país a rastrear ativos supostamente remetidos ilegalmente ao exterior por Fernando Soares, o "Fernando Baiano", apontado por delatores como operador do PMDB na Petrobras. Soares está em regime de prisão preventiva na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba.

Os procuradores da República Deltan Martinazzo Dallagnol e Orlando Martello devem retornar ao Brasil na sexta-feira. "Temos indícios consistentes da existência de contas na Suíça destinatárias do dinheiro de Baiano e de [Renato] Duque [ex-diretor de Serviços da Petrobras preso preventivamente por suspeita de corrupção]", disse Dallagnol ao Valor PRO. "Há também informações sobre outras contas que restam a ser identificadas."

Os procuradores terão três dias para seguir orientações do delator Paulo Roberto Costa e encontrar documentos das contas mantidas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras naquele país. Há US$ 23 milhões identificados como dinheiro de origem ilícita e congelados por autoridades suíças.

 Os recursos estão em contas no Credit Suisse. Outros US$ 2,8 milhões também já foram identificados em contas do Royal Canadian Bank, no paraíso fiscal das Ilhas Cayman.

Costa disse em sua delação premiada que os recursos seriam propina paga pela Odebrecht no exterior entre 2010 e 2011. A empreiteira é investigada em inquérito à parte da PF, pois não aparece na contabilidade paralela do doleiro Alberto Youssef.

"Queremos buscar os recursos expatriados e recuperá-los. Eles serão depositados em uma conta judicial", disse Dallagnol. Como o dinheiro está na Suíça, a abertura de conta judicial ficará a cargo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba. Mas, se o caso envolver valores expatriados por parlamentares, a conta será aberta pelo Supremo Tribunal Federal.

O Ministério Público Federal (MPF) também tem a meta de identificar outras contas do suposto esquema de cartel, corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras.

Paulo Roberto Costa e os executivos da Setal, Júlio Camargo e Augusto Ribeiro, afirmam haver US$ 160 milhões e ainda o equivalente a R$ 50 milhões ou R$ 60 milhões escondidos fora do país.

Camargo também mantém dinheiro na Suíça, conforme contou aos procuradores em sua delação.

A Odebrecht negou "veementemente as alegações caluniosas" e "em especial, ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer executivo ou ex-executivo da estatal, seja no Brasil ou no exterior". Disse que seus contratos com a estatal estão dentro da lei e que está à disposição das autoridades.

Por sua meio de assessoria de imprensa, Renato Duque negou a participação em práticas criminosas envolvendo fornecedores da Petrobras ou ter recebido vantagens indevidas em contas no Brasil ou no exterior. A defesa de Fernando Soares nega que ele seja operador do PMDB.

Apontado como um dos "portadores" do doleiro Alberto Youssef, Adarico Negromonte se entregou à PF de Curitiba na manhã de ontem. Ele era o último procurado entre os investigados na sétima fase da operação Lava-Jato e estava foragido desde o último dia 14, quando sua prisão foi determinada.

Joyce Rosen, sua advogada disse que, em depoimento, Negromonte negou ter entregado dinheiro a agentes públicos a mando de Youssef.

Negromonte chegou de táxi à Polícia Federal acompanhado por Joyce Rosen. Os dois entraram no prédio da Superintendência da PF sem dar entrevista.

De acordo com as investigações, ele levava dinheiro do escritório do doleiro em São Paulo até os agentes públicos e partidos políticos supostamente envolvidos em esquema de cartel, corrupção e superfaturamento na Petrobras.

Adarico é irmão de Mário Negromonte, que foi ministro das Cidades na primeira gestão da presidente Dilma Rousseff.

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