“Clientes suportam a soberba dos seus fornecedores enquanto precisam deles. Mas, na primeira oportunidade, dão o merecido troco”
Por Eloi Zanetti*
Na hora do almoço, ao passar em frente a um restaurante outrora famoso, fiquei triste ao constatar que quase não havia movimento algum. Havia poucos carros no estacionamento, o salão estava vazio e os garçons, encostados. Por instantes, tive pena em ver aquele estabelecimento, antes tão conceituado e bem frequentado, em tal estado de abandono. Outros congêneres na mesma região estavam lotados.
Clientes suportam a soberba dos seus fornecedores enquanto precisam deles por uma dependência qualquer. Mas, na primeira oportunidade, dão o merecido troco. Aconteceu com esse restaurante e acontecerá com tantas outras empresas que, quando estão vendendo bem, começam a atender com desprezo e desatenção e a fazer exigências absurdas àqueles que as ajudaram a subir.
Manter clientes vinculados a suas empresas por meio de processos, sistemas de vendas, produtos, máquinas, equipamentos e serviços exclusivos pelo maior tempo possível é o sonho de todos os empresários. Justamente por isso, tratar mal e de forma arrogante os clientes não é uma boa política comercial. Hoje, o acesso a novos fornecedores está mais fácil. Substituições podem ser feitas a qualquer hora e em qualquer lugar do mundo.
A história geralmente começa assim: com a casa lotada ou com a carteira cheia de pedidos, o pessoal do atendimento começa a fazer corpo mole e a colocar os clientes em filas e esperas sem necessidade. Muitos assumem ares e comportamentos prepotentes e mal-educados. Não dão atenção às reclamações, não querem conversa, não respondem a pedidos de informações, desprezam com empáfia os clientes e subestimam os concorrentes.
É só fazer um pouco de sucesso que algumas empresas aproveitam a oportunidade para aumentar preços e a impor condições draconianas. “Quer ou não quer? Se não, procure outro lugar”, dizem, do alto das suas vaidades, sabendo que o pobre cliente, naquela ocasião, não tem mais opções de escolha. O sucesso cega qualquer um.
O tempo passa e o velho slogan de uma transportadora paulista – “O mundo gira. A Lusitana roda” – ainda é válido para explicar as muitas mudanças da vida: novas opções aparecem, concorrentes se instalam oferecendo produtos e serviços melhores e mais baratos. O cliente maltratado vê a oportunidade da desforra e migra para outros lugares. O orgulhoso só perceberá a perda com o correr do tempo. A decadência se instala de forma lenta e gradual.
Por isso, cuidado: quando sua empresa estiver por cima, vendendo bem e com a casa cheia, faça um exercício de humildade. Fique atento em como o seu pessoal anda tratando a freguesia. Observe você mesmo como os seus compradores estão se comportando, converse com eles, pergunte suas opiniões sobre o atendimento e tente descobrir o que o seu pessoal está fazendo de errado. Bom restaurante é aquele em que o dono anda por entre as mesas conversando com seus clientes, os garçons ficam mais atentos e o pessoal da cozinha capricha mais.
Até o papa tem um assistente para ajudá-lo a se lembrar de sua condição mortal. Com frequência, ele sussurra ao ouvido do pontífice: Sic transit gloria mundi – ou seja, “a glória é passageira”. Por que, então, nós não refletimos sobre o nosso comportamento? A arrogância, a soberba e a vaidade são pecados capitais da mesma categoria. Uma das características do arrogante é não querer ouvir o que os outros têm a dizer. É, também, o primeiro passo para a derrocada.
* Consultor na área de marketing e comunicação
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