O enredo muda, mas a história se
repete entre muitas mulheres que estão saindo da licença-maternidade e
percebem que será difícil conciliar a carreira e a criação dos filhos.
Uma é demitida e acaba ficando feliz por não ter
de deixar o filho o dia inteiro no berçário. Outra decide transformar
um dom em negócio. Algumas optam ainda por mudar totalmente de carreira
para se adaptarem melhor aos horários e às necessidades das crianças.
Assim, acompanhando a tendência de
crescimento do número de mulheres empreendedoras no país, também vêm
aumentando no Brasil a quantidade de mulheres que decidem apostar em uma
mudança e se transformam em mães empreendedoras.
De acordo com dados do Sebrae, hoje há cerca de 7
milhões de mulheres com seu próprio negócio no país, um número 21,4%
maior do que há dez anos. Desse total, 70% têm filhos (ver box abaixo).
Em outros países porém, como nos Estados Unidos,
as mães empreendedoras se tornaram uma realidade há mais tempo, e o
fenômeno está mais sedimentado.
Tanto que lá foi criado o termo mompreneurs, um neologismo com as palavras mom (mãe) e entrepreneurs
(empreendedor). Esse tipo de negócio foi apontado há alguns anos como a
grande tendência dentro do empreendedorismo, sendo alavancado pela
popularização da internet.
Ao perceberam que empreender pode ser uma
alternativa para a nova vida, muitas mães buscam, como segundo passo na
empreitada, cursos para tentar transformar a paixão por alguma área em
um negócio profissional.
Só amor basta?
"No começo, muitas mães empreendedoras são
movidas por sentimentos bem irracionais, como intuição e um envolvimento
muito visceral", diz Michelle Prazeres, que dá consultoria e oficinas
sobre o tema e comanda o blog Empreendedorismo Materno.
"Não que isso deva ser deixado de lado, mas também é preciso buscar orientação. Só de amor o negócio não vai se sustentar."
Michelle é, ela própria, uma mãe empreendedora.
Consultora de comunicação para empresas, ela decidiu mudar seu foco de
atuação depois que seu filho nasceu, há dois anos e meio, quando
percebeu que o ritmo de trabalho que tinha não seria compatível com um
bebê.
Como não sabia exatamente que caminho seguir,
ela então montou o blog para se inspirar - e acabou achando um filão.
Além de agregar contatos de mães que têm seu próprio negócio, ela
oferece consultoria sob demanda e cursos para mães empreendedoras, como o
que acontece em novembro no espaço Mamusca, em São Paulo.
"Dependendo das necessidades do cliente, também
indico outras mães que cuidam de áreas mais específicas, como uma que é
webdesigner e outra que tem um escritório de contabilidade", diz
Michelle, que analisa setores como finanças, marketing e comunicação.
Aulas com o filho a tiracolo
Uma rede de mães colaboradoras também é um dos
segredos do Maternarum, um projeto de Curitiba que busca fortalecer o
empreendedorismo materno.
O projeto, lançado há 14 meses, oferece cursos a
mães que têm o próprio negócio, com temas como microcrédito (com um
especialista da Caixa Econômica Federal), marketing e elaboração de
planos de negócios, mídias sociais e fotografia de produtos.
"Qualquer um pode participar, mas aqui a gente
entende as necessidades das mães", explica Isabella Isolani, uma das
integrantes do Maternarum. "Elas podem trazer os filhos, por exemplo. Às
vezes um bebê chora e ninguém estranha."
A consultora Michelle Prazeres aponta esse
justamente como um dos empecilhos aos cursos de empreendedorismo
tradicionais. "Percebo um crescimento no número de mães que querem
empreender, mas ao mesmo tempo muitas não têm verba para se
especializar. E o dilema às vezes nem é só financeiro, muitas também não
têm com quem deixar o filho."
"Fora que cursos tradicionais para
empreendedores por vezes assustam essas mães, já que elas estão entrando
agora nessa área. E elas querem algo mais pé no chão, com um conteúdo
mais prático."
O sucesso sob a ótica materna
Esses cursos específicos para mães também
revelam que seus perfis e seus objetivos muitas vezes diferem de uma
empreendedora sem filhos.
"Uma das principais diferenças diz respeito à
ideia de realização e sucesso, que se traduz muitas vezes em qualidade
de vida e não apenas em lucro", diz Patricia Travassos, coautora do
livro Minha Mãe é um Negócio, que traz histórias reais de mulheres que abriram a própria empresa para ficar mais perto dos filhos.
Empreendedorismo feminino e materno
-
Há mais de 7 milhões de mulheres empreendedoras no Brasil
-
Dentre elas, cerca 70% têm ao menos um filho
-
O número de empreendedoras cresceu 21,4% no período de dez anos
-
Participação dos homens nesse setor, por sua vez, subiu 9,8% no mesmo período*
Fonte: Sebrae
A maioria delas trabalha mais do que quando era
empregada, mas apontam que faz toda a diferença poder ter flexibilidade,
poder levar e buscar o filho na escola, poder ficar com ele em casa
quando estiver doente, acompalhar a lição de casa, almoçar junto, entre
outros exemplos.
Para americana Jennie Wong, autora do livro Ask the Mompreneur: Small Business Advice on Starting and Growing Your Own Company
(“Pergunte à Mãe Empreendedora: Conselhos de Pequena Empresa para
Iniciar e Ampliar sua Própria Companhia”, em tradução livre), o que mais
caracteriza uma mãe empreendedora é que elas podem "determinar o
tamanho de seu sonho".
"Para algumas, filhos significam trabalhar menos
horas, mas para outras é hora de colocar o pé no acelerador, para
deixar uma boa situação financeira para eles e para mostrar como é se
dedicar 100% a um projeto", diz Jennie.
Principais erros das mães empreendedoras
Patricia Travassos, coautora do livro Minha mãe é um negócio | Não fazer um planejamento. Muitas não fazem plano de negócios, que é como um pré-natal. | |
Ana Claudia Konichi, coautora do livro Minha mãe é um negócio | Segurar o negócio como um bebê, às vezes não querer que ele cresça, por medo de perder qualidade de vida. Mas se ela não inovar, pode sair perdendo. É preciso querer crescer. | |
Michelle Prazeres, consultora e autora do blog Empreendedorismo Materno |
No começo, muitas são
movidas por sentimentos bem irracionais, como intuição e um envolvimento
visceral. Não é preciso deixar isso de lado, mas é preciso buscar
orientação. Outro problema é que muitas não se formalizam, não têm CNPJ e
isso depois acaba gerando mais custos. |
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Tales Andreassi, coordenador do projeto 10.000 Mulheres, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) | Não planejar e não se preparar. Falta conhecimento de gestão. Marketing pode ser algo intuitivo, mas finanças não. Você tem que estudar, tem que aprender contabilidade. | |
Jennie Wong, americana, autora do livro Ask the Mompreneur e editora do site de compras online CartCentric | O principal talvez seja começar um negócio sem entender seu cliente. Saber quem ele é e qual problema você vai resolver para ele é vital. Convencer alguém de que ele precisa do seu serviço é bastante difícil. É muito mais fácil descobrir antes o que essa pessoa precisa e só então direcionar seu negócio para essa demanda. |
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