segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Mercosul aguarda proposta da UE sobre bens agrícolas para acordo




Mercosul aguarda proposta da UE sobre bens agrícolas para acordo
O presidente Michel Temer e o presidente argentino Mauricio Macri, em Brasília


As negociações entre Mercosul e União Europeia para um acordo de livre-comércio seguem em ritmo acelerado, mas os europeus vêm relutando em melhorar sua proposta de abertura do mercado de bens agrícolas.

A atitude europeia gera preocupação no Brasil, que teme que a UE esteja adotando a estratégia de deixar o tema para a última hora a fim de convencer o Mercosul de que é "pegar ou largar".

Pessoas que acompanham o processo de perto dizem que os europeus argumentam que só será possível melhorar sua proposta após as eleições da Alemanha, previstas para o mês que vem.

Eles já haviam pedido para aguardar o pleito da França, mas causou estranheza o pedido sobre a Alemanha, um dos países mais pró-livre mercado da UE e onde o movimento nacionalista, que atingiu os EUA e o Reino Unido, ainda não ganhou força.

Se as novas ofertas só forem trocadas em outubro, como querem os europeus, restarão apenas dois meses até a reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Buenos Aires, em dezembro.

Os dois lados já declararam publicamente que gostariam de assinar um pré-acordo no encontro, incluindo os temas mais sensíveis e deixando para depois só detalhes como revisões jurídicas e traduções.

Por causa desse comprometimento, os diplomatas relatam que as negociações entre os blocos seguem em "quinta marcha" com encontros mensais sobre temas como propriedade intelectual e compras governamentais.


INSUFICIENTES


As ofertas de redução de tarifas para bens agrícolas e industriais, no entanto, são as mesmas desde maio de 2016, quando os dois blocos finalmente voltaram à mesa após uma interrupção de 12 anos na negociação.

Na área agrícola, os europeus ainda não apresentaram cotas para carne bovina, açúcar e etanol, produtos muito importantes para o Brasil, segundo apurou a Folha. As cotas de 78 mil toneladas para carne de frango e 9.300 toneladas para carne suína também estão muito abaixo das expectativas do setor.

Outro problema é que a UE mantém a proteção aos produtos processados do agronegócio, que geram mais lucro. Enquanto a entrada de soja em grão e café verde é liberada assim que o acordo entra em vigor, a exportação de óleo de soja e de café solúvel só acontece após quatro e sete anos, respectivamente.

"Estamos felizes que a negociação finalmente está andando depois de tanto tempo, porque a Europa é um parceiro prioritário, mas precisamos incluir os produtos que interessam ao Brasil", diz Ligia Dutra, superintendente de relações internacionais da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Ela se recusou a comentar produtos específicos.

As negociações entre Mercosul e União Europeia já duram 18 anos. Segundo pessoas consultadas pela reportagem, o acordo nunca esteve tão perto de fechar graças ao alinhamento recente dos governos do Mercosul a favor do livre-comércio.

Para a União Europeia, fechar um acordo com o Mercosul até dezembro também enviaria uma forte mensagem aos Estados Unidos, que se tornaram mais protecionistas após a vitória de Donald Trump e praticamente abandonaram as negociações para uma área de livre-comércio entre o país e a UE.
Procurados, o Itamaraty e a Embaixada da União Europeia no Brasil não deram entrevista.

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