Embora a avidez por recursos não seja a melhor conselheira em um
processo de privatização, o governo dá sem sombra de dúvida um passo
correto ao anunciar o intento de se desfazer da Eletrobras.
À notícia seguiu-se uma alta vertiginosa, de quase 50%, de ações da estatal negociadas em Bolsa. Os benefícios em potencial para o país, todavia, devem ir além dos antecipados pela euforia especulativa.
Em um único
dia, o valor de mercado da empresa saltou para algo próximo de R$ 29
bilhões, semelhante ao que se pretende arrecadar com a desestatização.
Há pela frente um complexo processo de definição das regras de venda,
que precisa contemplar interesses de contribuintes e consumidores.
Sob o controle do governo, que conta com 63% do capital, a Eletrobras atua em geração, transmissão e distribuição. A empresa detém 32% da capacidade de geração de energia do país e mais de 70 mil quilômetros de linhas de transmissão. Opera também seis distribuidoras nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Toda essa base de ativos chegou a valer
meros R$ 8 bilhões no pior momento da gestão de Dilma Rousseff (PT), a
maior responsável pela ruína da companhia.
Na longa lista de
desmandos administrativos estão perdas ocasionadas por planejamento
deficiente nas usinas hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e
Jirau; estouros no orçamento da usina nuclear Angra 3; a tentativa
desatinada de baixar à força as tarifas de energia em 2012.
A
ineficiência da Eletrobras se mostra ainda em comparações com o
desempenho de empresas privadas, que precisam investir menos para gerar
resultados similares.
Nem poderia ser diferente, dado o histórico de
nomeações políticas para os postos de comando e o inchaço da folha de
pessoal, que só recentemente começou a ser atenuado por meio de planos
de demissão voluntária.
Se tudo isso recomenda a privatização, convém que sejam moderadas as expectativas de um desfecho célere para o processo.
Primeiro,
porque infelizmente caminham a passos lentos os demais projetos de
concessões e alienações em infraestrutura —particularmente rodovias e
ferrovias.
Segundo, porque o modelo para a venda de uma empresa de tal calibre depende de um debate que ainda não parece amadurecido.
Dado
o papel central da Eletrobras na organização do setor, será preciso
ponderar temas como custo para o consumidor, concorrência e segurança
energética
(Folha de S.Paulo, 23/8/17)
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