Árabes, dinamarqueses, suecos, suíços, italianos, coreanos. O Brasil tornou-se a nova meca dos bancos de investimento internacionais
Por Natália FLACH
A agenda da executiva paulista Angela Martins está praticamente
tomada por reuniões com corretores imobiliários. Nas próximas semanas,
ela vai percorrer os principais pontos de São Paulo em busca de uma sede
para o banco árabe National Bank of Abu Dhabi, que recebeu, na
quarta-feira 2, licença do Banco Central (BC) para atuar como escritório
de representação no Brasil. A instituição estatal, que guarda os
recursos do petróleo da região, pretende abrir um banco completo no País
nos próximos anos. “Viemos para ficar”, afirma Martins, responsável por
toda a América Latina. Não é o único caso.
O dinamarquês Saxo Bank, instituição 100% virtual fundada há 21
anos, inaugurou escritório na avenida Brigadeiro Faria Lima, também na
quarta-feira 2, com a intenção de prestar serviços aos fundos de hedge e
family offices brasileiros que queiram operar nos mercados
internacionais, diz seu co-fundador Lars Seier Christensen. O Saxo não é
o único nórdico a chegar. “Nossa intenção é investir no Brasil no longo
prazo, não importa se o País vai crescer pouco agora”, diz Carl-Gustav
Moberg, presidente regional do sueco Svenska Handelsbanken. O apetite é
crescente. Segundo dados do BC, o número de licenças para atuar no
mercado brasileiro tem crescido consistentemente ao longo dos últimos
cinco anos (veja no quadro na página 86) e o número de 2013 já supera o
total de 2012.
A vinda dessas casas – assim como a recente chegada de outras da
Suíça, Suécia, China, Itália e Coreia do Sul – é reflexo do aumento da
exposição brasileira no mercado financeiro internacional. Uma das
facetas desse fenômeno é o aumento do fluxo comercial entre o Brasil e
os países de origem desses bancos. Outra é o desembarque de mais e mais
empresas internacionais por aqui. Nos últimos cinco anos, Estados Unidos
e Europa estiveram à beira do abismo por diversas vezes, o que aumentou
a cobiça de empresas americanas e europeias pelas oportunidades
oferecidas pelo Brasil. Ao chegarem, essas empresas em geral são
seguidas por seus bancos de confiança.
"Estamos de olho nos negócios que as empresas brasileiras fecham com os países árabes"
Angela Martins National Bank of Abu Dhabi
Um bom exemplo é o suíço Zürcher Kantonalbank. “Viemos porque
queremos ficar mais perto dos interesses de nossos clientes e sentimos
que ajuda o fato de termos uma representação no País”, diz Christopher
Hesketh, presidente para a América Latina do banco, que acaba de
inaugurar seu primeiro escritório na capital paulista. “São Paulo é a
única cidade com voos diretos diários para Zurique e o fuso horário é o
mais adequado”, afirma. Para evitar a concorrência direta com os bancos
brasileiros, estabelecidos há muito mais tempo, a estratégia é começar
os negócios por meio de escritórios de representação, que funcionam como
uma ponte entre as empresas que querem se estabelecer no País e o
sistema financeiro local, além de facilitar a intermediação de recursos
provenientes de seus países de origem.
Foi assim que o National Bank of Abu Dhabi ganhou o mandato para
coordenar a oferta sindicalizada do Itaú Unibanco, que levantou US$ 370
milhões, em agosto, para financiar pequenas empresas em um programa da
International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco
Mundial. O banco árabe também participou da emissão de outro
forasteiro, o peruano Interbank. “Estamos de olho no comércio
Leste-Oeste, pois empresas como Petrobras, Vale, BR Foods, Odebrecht e
JBS fazem negócios nos países árabes”, diz Martins. “Agora vamos poder
participar de captação de recursos com emissão de dívida e ações, montar
empréstimos sindicalizados e financiar o comércio.”
"Nosso foco são as gestoras de recursos com pelo menos R$ 50 milhões de patrimônio"
Lars Seier Christensen Saxo Bank
No caso do Saxo Bank, os investidores institucionais interessados
em operar lá fora são o principal foco. “Estamos conversando com
gestoras que tenham até US$ 50 milhões sob gestão”, diz Christensen, que
abriu a empresa em 1992 com apenas US$ 80 mil de investimento.
Atualmente, o Saxo Bank oferece sua plataforma de negociação de ativos
em 24 países para clientes como o britânico Barclays e o americano
Citibank. “Existe muito potencial nesse mercado, queremos dobrar o
volume transacionado em três ou quatro anos”, diz ele, sem revelar
números. Outra instituição que já carimbou o passaporte na entrada foi a
butique de investimentos americana Greenhill, que será comandada pelo
ex-presidente regional do Goldman Sachs, Daniel Wainstein.
Segundo Kevin Constantino, diretor da Greenhill, dentre o acrônimo
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a letra B é a mais
interessante. “Além dos clientes quererem estar aqui, o País tem
estabilidade democrática e uma classe média emergente”, diz.
A animação é grande, mas não é generalizada. Enquanto novos bancos
chegam, alguns velhos conhecidos estão colocando o pé no freio. É o caso
do Goldman Sachs, que desistiu dos planos de expansão, e do Barclays,
que reduziu as operações. Outro que está de saída é o português Banif,
que vendeu sua corretora para o conterrâneo Caixa Geral de Depósitos
(CGD), cedeu a carteira de fundos para a Mapfre Investimentos e está à
procura de comprador. Procurado, o Banif não deu entrevista.
Sim, Isto é um banco: Sede do Saxo Bank, em Copenhague, na Dinamarca:
atuação em 24 países e clientes como Barclays e Citibank
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