Greves por polpudos reajustes salariais mostram que os sindicatos de trabalhadores ainda não entenderam que a situação econômica mudou
Por Luís Artur NOGUEIRA
No dia 20 de setembro, uma sexta-feira, os ânimos se exaltaram
na porta da sede do Bradesco, na Cidade de Deus, em Osasco (SP). Um
grupo ligado ao sindicato dos bancários estacionou caminhões de som nas
entradas do complexo financeiro, impedindo o ingresso dos funcionários e
o cumprimento da jornada de trabalho. Foi preciso que o banco acionasse
a Justiça para que o direito de ir e vir, uma das garantias individuais
da Constituição, fosse respeitado. Era apenas o segundo dia daquela que
se tornaria a maior greve em 20 anos – o movimento continuava até o
fechamento desta edição. Ao contrário do que vinha ocorrendo nos últimos
anos, em que predominavam o bom senso e o diálogo, banqueiros e
bancários mantiveram-se irredutíveis em suas posições.
Marcha sem rumo: bancários protestam no Recife (PE) por ganhos irreais
Os empresários propuseram a reposição da inflação e os
trabalhadores queriam 6% a mais, além de outros itens, como três
salários e mais um bônus de R$ 5,5 mil de participação nos lucros. “O
piso salarial da categoria subiu mais de 75% nos últimos sete anos e os
salários foram reajustados em 58%, ante uma inflação medida pelo INPC de
42%”, diz, em nota, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).
“Continuamos abertos a negociações.” A greve por generosos reajustes
salariais não é uma exclusividade dos bancários. Os funcionários dos
Correios, cuja federação nacional também é ligada à CUT, cruzaram os
braços em 17 de setembro. Na lista de reivindicações, um utópico aumento
real de 15%.
No entanto, parte dos sindicatos, incluindo São Paulo e Rio de
Janeiro, já concordou com um reajuste nominal de 8% – menos de 2% em
termos reais. “A moderação no mercado de trabalho neste ano tirou poder
de barganha dos sindicatos”, diz Fábio Romão, especialista em mercado de
trabalho da LCA Consultores. “Além disso, a inflação alta dificulta as
negociações, que partem de um patamar inicial muito elevado.” A LCA
estima que o rendimento médio real dos brasileiros crescerá apenas 1,5%
neste ano, ante 4,1% em 2012.A tendência de acordos em torno de ganhos
mais modestos também é comprovada por um levantamento feito pelo Dieese,
que analisou 328 negociações realizadas no primeiro semestre.
A quantidade de categorias que conseguiram ganhos reais diminuiu em
relação ao ano anterior, e quase 10% tiveram reajustes abaixo da
inflação (leia quadro acima). “Na média, 2013 está sendo um ano de
resultados mais tímidos”, diz José Silvestre Prado de Oliveira,
coordenador de relações sindicais do Dieese. O endurecimento nas
negociações entre patrões e empregados reflete uma nova situação
econômica, na qual o crescimento esperado para o País não se concretizou
e a inflação acabou superando as estimativas. Até o ano passado, os
empresários eram mais suscetíveis aos pleitos dos sindicatos, pois
vislumbravam uma expansão dos negócios. Além disso, num quadro de pleno
emprego, a prioridade era reter os talentos, ainda que para isso fosse
necessário pagar reajustes acima dos ganhos de produtividade.
A mudança do cenário econômico, aliada aos protestos sociais no
meio do ano, gerou uma série de greves País afora, a exemplo do que
ocorre com os bancários. Nos últimos meses, professores, petroleiros,
motoristas de ônibus, aeroportuários e caminhoneiros, entre outras
categorias, cruzaram os braços. No Rio de Janeiro, os docentes estão
parados desde o dia 8 de agosto. Esse fenômeno vem crescendo no governo
da presidenta Dilma Rousseff, que contabiliza 554 paralisações em 2011 e
873 em 2012, contra uma média anual de 369 greves nos dois mandatos do
ex-presidente Lula.
Com a experiência acumulada em décadas de negociações salariais, o
consultor trabalhista Drausio Rangel recomenda “bom senso” aos
trabalhadores diante de uma situação mais “apertada” das empresas. “No
Brasil, o que é caro não é o trabalhador, é o custo do emprego”, diz
Rangel, que, no mês passado, conseguiu convencer os metalúrgicos ligados
à CUT a aceitar um ganho real de 1,82%, inferior aos 2% concedidos em
2012. A próxima etapa envolverá os sindicatos filiados à Força Sindical,
que faz oposição ao governo Dilma.
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