Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
Valor Econômico -
Eleita como a melhor entre todas as empresas na gestão de pessoas em
2013 pela revista "Valor Carreira", por meio de pesquisa realizada em
parceria pela Aon Hewitt e pelo Valor, a Lojas Renner é
a prova de que uma boa política de valorização e desenvolvimento de
recursos humanos faz bem aos negócios. Motivados, recompensados e com
perspectivas de crescimento, os funcionários fidelizam os clientes e
geram resultados que animam os investidores, consolidam a reputação da
empresa no topo do mercado e retornam como combustível para elevar ainda
mais os níveis de orgulho e engajamento interno.
"É um ciclo extremamente positivo", diz José Galló, diretor-presidente
da varejista que opera nos segmentos de vestuário e utilidades
domésticas. A companhia recebeu a homenagem como campeã do prêmio "Valor
Carreira" ontem à noite, em São Paulo. De acordo com Galló, uma equipe
engajada, que gosta do que faz, fala bem da empresa e se esforça no
trabalho, em geral produz resultados 20% a 25% maiores do que um grupo
sem estímulo. "Onde o clima organizacional é ruim, o resultado também é
desfavorável porque é difícil sorrir quando se está de baixo astral",
afirma.
A diferença de desempenho entre times motivados e desmotivados foi
percebida ao longo dos anos na própria Renner. "Quando identificamos
problemas e trocamos o gerente, por exemplo, o resultado aparece porque o
líder é o responsável pelo clima na unidade. As pessoas querem direção,
objetivos, reconhecimento e consciência sobre seu papel na equipe",
explica o executivo.
A estratégia vem dando certo. De 2008 a 2012, a receita líquida de venda
de mercadorias da Renner cresceu de R$ 1,956 bilhão para R$ 3,462
bilhões, o que corresponde a um crescimento real (descontada a inflação
medida pelo IPCA) de 42,1% no período. Ao mesmo tempo, o quadro de
funcionários passou de 9,6 mil para 15,7 mil e o número de lojas, de 110
para 232 em todo o país, agora incluindo também quatro unidades da
recém-criada Youcom, especializada em moda jovem, e 40 da rede de
utilidades domésticas Camicado, adquirida em 2011.
Até o fim deste ano a companhia deve alcançar entre 273 e 282 lojas das
três bandeiras, com 17 mil funcionários, diz a diretora de recursos
humanos Clarice Costa. E como os planos de longo prazo preveem 533
pontos de venda em 2021, considerando apenas a Renner e a Camicado, o
número de empregados pode facilmente dobrar, tomando como base as médias
atuais de pessoas por loja. A projeção para a Youcom é chegar a até 400
unidades no mesmo período, mas neste caso a varejista avalia crescer
por meio de franquias.
Neste cenário de expansão acelerada, o desafio de atrair e reter
talentos também aumenta, admite Galló. "Hoje vivemos uma economia de
quase pleno emprego, onde é um pouco mais difícil contratar pessoas, mas
não enfrentamos problemas significativos", diz o diretor-presidente. O
segredo está justamente na imagem positiva e na reputação da empresa,
que facilitam a atração dos melhores candidatos para todos os níveis, da
base operacional nos pontos de venda aos cargos gerenciais e
executivos.
Para a próxima turma de trainees de gerentes, por exemplo, 24 mil
candidatos vão disputar 63 vagas. A maioria dos aprovados nesses
programas é formada, em geral, por funcionários da própria Renner que
buscam ascensão na carreira. Para as funções operacionais nas lojas, a
responsabilidade pelas seleções, antes nas mãos da área de recursos
humanos, está sendo transferida para os gerentes das unidades, que fazem
treinamento específico para a tarefa. "Já fizemos um piloto em 20 lojas
e agora estamos estendendo para todas. Isso dá agilidade", diz Clarice.
"As pessoas gostam de trabalhar em empresas que crescem, que têm planos
de carreira bem estruturados e programas de participação nos
resultados", explica Galló. "Nossos princípios e valores não estão
apenas no papel. Aqui praticamos o respeito pelas pessoas, a
meritocracia, a oportunidade de crescimento e a justiça nas promoções em
todos os níveis". A possibilidade de movimentação entre as bandeiras da
companhia também é um atrativo. Um exemplo é a Youcom, que tem 80
funcionários, sendo 84% egressos das operações da própria Renner.
Segundo Galló, a exigência mínima para um candidato ingressar nos
quadros da varejista é o ensino médio completo, mas mesmo assim a Renner
não abre mão de sua obsessão pelo treinamento, um dos itens mais bem
avaliados pelos funcionários nas pesquisas de clima interno. De acordo
com o executivo, antes de ir para os locais de trabalho os novos
contratados passam por 60 dias de capacitação em cursos presenciais e
virtuais.
Depois, o processo de qualificação interna é permanente. Ao longo da
carreira, os funcionários encontram novas oportunidades como o próprio
curso de trainees para supervisores e gerentes, além de programas de
formação de lideranças, de desenvolvimento individual, de mentoria e de
formação de sucessores, entre outros. Cada funcionário passa, em média,
de 130 a 150 horas por ano em cursos de capacitação e a transparência na
comunicação interna quanto às oportunidades de crescimento de cada um
também é fator decisivo para o clima interno favorável na companhia,
avalia Clarice.
Na opinião de Galló, o varejo ainda é "formador" de mão de obra porque,
em geral, é o primeiro emprego de muita gente. Empresas como a Renner,
no entanto, estão ajudando a mudar o conceito do setor, de fonte de
trabalho transitório para jovens estudantes para uma oportunidade real
de desenvolvimento de carreiras profissionais desafiadoras, sólidas e
promissoras. A taxa de rotatividade de mão de obra no segmento ainda é
alta, de 48%, mas na Renner este índice está em 44,9%.
Para Galló, além de ser decisivo para o desempenho atual, o sucesso das
políticas de gestão de pessoas prepara a empresa para se beneficiar do
processo de "concentração" que deve ocorrer no varejo ao longo dos
próximos anos. Não necessariamente mediante aquisições como a da
Camicado, há dois anos, mas principalmente pelo "crescimento orgânico" e
pela ocupação dos espaços que serão perdidos por outros concorrentes.
"A informalidade está se reduzindo no varejo de vestuário graças a
controles fiscais mais rigorosos, como a nota fiscal eletrônica. As
pequenas empresas, com baixa produtividade, não conseguem sobreviver no
nosso cenário de impostos elevados", explica o diretor-presidente.
Segundo ele, considerando apenas a bandeira Renner, o ritmo de expansão
deve se manter entre 25 e 30 lojas ao longo dos próximos anos. Já os
programas de inaugurações das redes Camicado e Youcom para 2014 ainda
estão sendo elaborados.
Para o fechamento de 2013, o executivo espera a manutenção dos "bons
resultados" alcançados até agora. Até junho a receita líquida de venda
de mercadorias da empresa cresceu 13,5% sobre igual período de 2012,
para R$ 1,674 bilhão, e o resultado do terceiro trimestre será divulgado
na quinta-feira. Quanto a 2014, Galló projeta um cenário de crescimento
mais acelerado para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, favorecido
pelo ano eleitoral e pela Copa do Mundo de futebol, o que é benéfico
para o varejo. O executivo ressalva que a inflação do ano que vem ainda é
uma incógnita, mas aposta que ela será "relativamente parecida" com a
de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário