Para pré-candidato do PSDB, sem ágio, leilão de Libra foi um ‘enorme fracasso’
Angela Lacerda, Daiene Cardoso e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA e RECIFE - Os pré-candidatos do PSB e do PSDB à
Presidência da República criticaram nesta terça-feira a falta de
concorrência de grupos empresariais em participar do leilão de exploração do campo de pré-sal de Libra,
na Bacia de Santos, realizado segunda-feira pelo lance mínimo previsto
no edital. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou a licitação de
"enorme fracasso". Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, disse
que a falta de disputa não foi boa para o País.
Num discurso contundente no plenário do Senado, Aécio Neves
classificou o leilão como a maior "privatização da história brasileira"
realizada pelo governo federal. O tucano criticou o "extremo ufanismo"
de o Executivo ter comemorado o resultado de uma concorrência que teve
apenas um consórcio participante e não teve nem sequer ágio dos
participantes. Ele também disse que o País está perdendo oportunidades
no setor por causa da má condução do governo na área, que, na sua
opinião, tem sido alvo de ingerência política na Petrobrás.
Numa ironia, o senador do PSDB considerou o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, como o "grande vencedor do leilão". Isso porque os R$ 15
bilhões em bônus do consórcio que arrematou a área vão servir para o
governo bancar o superávit primário. "A Petrobrás paga o preço pela má
condução da política econômica que levou ao recrudescimento da inflação.
Obviamente, a partir de uma ação do governo junto à Petrobrás por conta
do controle do preço da gasolina, a empresa perde valor de mercado,
perde competitividade." Ele acrescentou que a empresa é "sangrada pela
necessidade de fazer investimentos para os quais ela não se preparou ou o
governo não deixou que se preparasse".
"O petróleo do pré-sal não pode ser vendido a preços aviltados pela
falta de concorrência", atacou Eduardo Campos em Teresina (PI), onde
recebeu o título de cidadão piauiense. O socialista defendeu um
aperfeiçoamento dos mecanismos de leilão de exploração das áreas do
pré-sal para garantir a participação de mais interessados, gerando
disputa e melhor preço.
Para o governador pernambucano, "houve pouco debate" no processo do
leilão. Campos destacou também que, embora seja importante a destinação a
longo prazo dos recursos do pré-sal para saúde e educação, essas áreas
não podem esperar por tal reforço. "A saúde e a educação precisam de
medidas imediatas, não podemos sacrificar os jovens de hoje à espera de
que o dinheiro do petróleo vá resolver a vida dos jovens do futuro."
O discurso de Campos foi seguido pelos deputados do PSB na Câmara,
que criticaram a falta de concorrentes na disputa por Libra. "Não houve
leilão, só há leilão quando há participantes", ironizou o líder do PSB,
Beto Albuquerque (RS). "Não dá para dizer que foi um sucesso um leilão
com um só concorrente", concordou o deputado Márcio França (PSB-SP),
representante da Baixada Santista.
O presidente do diretório paulista do PSDB, deputado Duarte Nogueira,
avaliou que a presidente Dilma Rousseff teve "de se explicar de forma
constrangida para a população em rede nacional ontem".
O deputado Ivan Valente (SP), líder do PSOL, usou a tribuna para
tachar o leilão de privatização. "O que foi feito ontem foi um crime
contra a soberania nacional. É privatização sim, e é a maior de todas,
maior que a da Telebrás e da Vale."
No início da noite, o líder do PT na Câmara, José Guimarães, saiu em
defesa do governo no plenário. "Não vamos permitir nenhuma
privatização." Ele rebateu as críticas da oposição de que as chinesas
CNOOC e CNPC usariam a Petrobrás como laranja. "Não há a menor
possibilidade de a Petrobrás ser laranja de qualquer empresa."
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