sábado, 5 de outubro de 2013

O primeiro calote do mundo X


Inadimplência de US$ 44,5 milhões da OGX vai mudar a maneira como os investidores veem as empresas em estágio pré-operacional

Por Cláudio GRADILONE

No epílogo da crônica de um calote anunciado, a petrolífera OGX, do empresário Eike Batista, anunciou na terça-feira 1º que não pagaria US$ 44,5 milhões em juros de um bônus internacional que vencia naquele dia. 
O valor pode até ser insignificante dadas as cifras astronômicas das petrolíferas, mas é o pior sinal possível para os credores dos R$ 8,7 bilhões devidos pela empresa de Batista. Bradesco e Itaú lideram a fila, com R$ 2 bilhões a receber. O BNDES prometera R$ 10,4 bilhões, mas não liberou todos esses recursos – o banco não revela quanto emprestou por conta do sigilo bancário. 
 
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Eike Batista: empresas do investidor têm sido alvo das desconfianças do mercado desde o início de 2013
 
A partir de agora, a solvência do que restou do império de Batista – o estaleiro OSX, os ativos remanescentes da mineradora MMX, além de empresas fechadas e da holding EBX – está em xeque. Em uma entrevista ao The Wall Street Journal, Marcelo Gomes, presidente da OSX, afirmou que o estaleiro precisa se reestruturar para honrar suas dívidas de US$ 2,4 bilhões. “Perdemos nosso principal cliente”, disse ele.
 
A OGX está correndo contra o tempo. Seus executivos têm 30 dias, contados a partir do não pagamento, para que os portadores dos papéis possam tomar medidas judiciais. O mercado financeiro já se ajustou. O Banco Central orientou os bancos credores a reclassificarem a qualidade dos créditos para um nível mais arriscado.
 
Na prática, as provisões contra a inadimplência desses créditos têm de crescer em 10%. Na terça-feira, a agência Standard & Poor’s reduziu a nota da OGX de CCC- para D, indicando inadimplência. A inadimplência não surpreendeu. A situação da OGX vinha se deteriorando desde o início do ano, devido aos sucessivos adiamentos na entrega do petróleo, marcada para 2010. No início do segundo semestre, um fato relevante confirmou os temores: o óleo que vinha sendo prospectado não é comercialmente viável. Foi o sinal para uma débâcle na bolsa. A oscilação foi tão forte que levou a BM&FBovespa a alterar o cálculo do índice, de modo a reduzir a volatilidade injetada pelas ações da petrolífera. Em um sinal de que o movimento era esperado, o impacto sobre os preços dos títulos brasileiros foi limitado.
 
“O não pagamento da OGX já vinha sendo precificado desde meados do segundo trimestre, e não deve encarecer o dinheiro para outras empresas”, diz o executivo de um banco brasileiro. Desde setembro, quando o banco central americano decidiu manter o estímulo à economia dos Estados Unidos, as companhias brasileiras vêm desengavetando projetos de captar recursos no Exterior. Na última semana de setembro, BNDES e Caixa captaram US$ 3,75 bilhões. Mesmo nomes menos conhecidos se candidatam. A empresa sucroalcooleira Biosev quer levantar US$ 500 milhões. O que esperar para o grupo X? 
 
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O problema indica que o caixa está apertado, diz Henrique Florentino, analista da corretora paulista UM Investimentos, “A solicitação de uma recuperação judicial está próxima”, diz ele. Agora, avalia Florentino, Batista deve tentar conversar com fundos internacionais especializados em empresas em situação pré-falimentar. No entanto, o comportamento das ações no dia do calote mostra que os investidores estão pessimistas. Ao contrário do que seria de esperar, as ações subiram com a notícia. A razão foi técnica. Muitos especuladores alugavam ações para vendê-las, apostando na baixa das cotações. Com a decisão, boa parte deles recomprou as ações que haviam vendido. 
 
Em um comunicado na segunda-feira 30, a Bolsa informou que, caso a empresa entre em recuperação judicial, a circulação de suas ações será suspensa – com consequências imprevisíveis. Enquanto OGX e credores negociam, os profissionais do mercado avaliam as consequências da inadimplência. O principal problema legado pela empresa será a dificuldade adicional para que companhias em estágio pré-operacional cheguem ao mercado acionário. “Todos os planos de negócio serão analisados com muito mais critério”, diz Florentino.

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