Inadimplência de US$ 44,5 milhões da OGX vai mudar a maneira como os investidores veem as empresas em estágio pré-operacional
Por Cláudio GRADILONE
No epílogo da crônica de um calote anunciado, a petrolífera
OGX, do empresário Eike Batista, anunciou na terça-feira 1º que não
pagaria US$ 44,5 milhões em juros de um bônus internacional que vencia
naquele dia.
O valor pode até ser insignificante dadas as cifras
astronômicas das petrolíferas, mas é o pior sinal possível para os
credores dos R$ 8,7 bilhões devidos pela empresa de Batista. Bradesco e
Itaú lideram a fila, com R$ 2 bilhões a receber. O BNDES prometera R$
10,4 bilhões, mas não liberou todos esses recursos – o banco não revela
quanto emprestou por conta do sigilo bancário.
Eike Batista: empresas do investidor têm sido alvo das desconfianças do mercado desde o início de 2013
A partir de agora, a solvência do que restou do império de Batista –
o estaleiro OSX, os ativos remanescentes da mineradora MMX, além de
empresas fechadas e da holding EBX – está em xeque. Em uma entrevista ao
The Wall Street Journal, Marcelo Gomes, presidente da OSX, afirmou que o
estaleiro precisa se reestruturar para honrar suas dívidas de US$ 2,4
bilhões. “Perdemos nosso principal cliente”, disse ele.
A OGX está correndo contra o tempo. Seus executivos têm 30 dias,
contados a partir do não pagamento, para que os portadores dos papéis
possam tomar medidas judiciais. O mercado financeiro já se ajustou. O
Banco Central orientou os bancos credores a reclassificarem a qualidade
dos créditos para um nível mais arriscado.
Na prática, as provisões contra a inadimplência desses créditos têm
de crescer em 10%. Na terça-feira, a agência Standard & Poor’s
reduziu a nota da OGX de CCC- para D, indicando inadimplência. A
inadimplência não surpreendeu. A situação da OGX vinha se deteriorando
desde o início do ano, devido aos sucessivos adiamentos na entrega do
petróleo, marcada para 2010. No início do segundo semestre, um fato
relevante confirmou os temores: o óleo que vinha sendo prospectado não é
comercialmente viável. Foi o sinal para uma débâcle na bolsa. A
oscilação foi tão forte que levou a BM&FBovespa a alterar o cálculo
do índice, de modo a reduzir a volatilidade injetada pelas ações da
petrolífera. Em um sinal de que o movimento era esperado, o impacto
sobre os preços dos títulos brasileiros foi limitado.
“O não pagamento da OGX já vinha sendo precificado desde meados do
segundo trimestre, e não deve encarecer o dinheiro para outras
empresas”, diz o executivo de um banco brasileiro. Desde setembro,
quando o banco central americano decidiu manter o estímulo à economia
dos Estados Unidos, as companhias brasileiras vêm desengavetando
projetos de captar recursos no Exterior. Na última semana de setembro,
BNDES e Caixa captaram US$ 3,75 bilhões. Mesmo nomes menos conhecidos se
candidatam. A empresa sucroalcooleira Biosev quer levantar US$ 500
milhões. O que esperar para o grupo X?
O problema indica que o caixa está apertado, diz Henrique
Florentino, analista da corretora paulista UM Investimentos, “A
solicitação de uma recuperação judicial está próxima”, diz ele. Agora,
avalia Florentino, Batista deve tentar conversar com fundos
internacionais especializados em empresas em situação pré-falimentar. No
entanto, o comportamento das ações no dia do calote mostra que os
investidores estão pessimistas. Ao contrário do que seria de esperar, as
ações subiram com a notícia. A razão foi técnica. Muitos especuladores
alugavam ações para vendê-las, apostando na baixa das cotações. Com a
decisão, boa parte deles recomprou as ações que haviam vendido.
Em um comunicado na segunda-feira 30, a Bolsa informou que, caso a
empresa entre em recuperação judicial, a circulação de suas ações será
suspensa – com consequências imprevisíveis. Enquanto OGX e credores
negociam, os profissionais do mercado avaliam as consequências da
inadimplência. O principal problema legado pela empresa será a
dificuldade adicional para que companhias em estágio pré-operacional
cheguem ao mercado acionário. “Todos os planos de negócio serão
analisados com muito mais critério”, diz Florentino.
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