A desenvolvedora brasileira de software Totvs fincou sua bandeira na meca da tecnologia mundial. E já se tornou sócia do lendário investidor Marc Andreessen
Por Diego MARCEL
Ao longo de sua trajetória empresarial, o empreendedor
paulista Laércio Cosentino já comprou algumas dezenas de empresas. É
graças a essa estratégia de crescimento via aquisições que Cosentino
consolidou a Totvs como a maior empresa de software de gestão do Brasil,
com uma receita de R$ 1,4 bilhão, em 2012, e valor de mercado de R$ 5,8
bilhões. Neste ano não foi diferente. No primeiro semestre, a Totvs
assumiu o controle de mais quatro empresas. Três delas no Brasil – a
PRX, que atua com sistemas no segmento agroindustrial, a RMS, focada em
varejo e supermercados, e a ZeroPaper, que desenvolve um software de
gestão financeira (nesta última, ficou com uma fatia minoritária).
Laércio Cosentino: fundador da Totvs comprou dezenas de empresas no Brasil.
Agora, chegou a vez dos EUA
A quarta foi a americana GoodData, start-up que atua na área de big
data, como são chamados os softwares que analisam centenas de milhares
de dados online. A Totvs participou de uma rodada de aporte da
companhia, que contou também com o apoio do fundo de private equity
Andreessen Horowitz, do empresário Marc Andreessen, o lendário criador
da Netscape e considerado o investidor mais influente do Vale do
Silício. Esse é o primeiro resultado do Totvs Labs, laboratório de
inovação que a empresa de Cosentino abriu nos Estados Unidos no ano
passado, em Mountain View, no coração do Vale do Silício, região da
Califórnia onde estão sediadas as empresas mais inovadoras do planeta.
“A presença no Vale do Silício nos deixa próximos da inovação”, diz
Alexandre Dinkelmann, vice-presidente executivo de estratégia e
finanças da Totvs, responsável por acompanhar os avanços do escritório
americano. Localizado a apenas oito minutos da sede do Google, o
escritório está instalado no edifício ocupado pela Fundação Mozilla, que
desenvolve o navegador de internet Firefox. O Totvs Labs não tem apenas
a missão de ser uma espécie de embaixada da companhia brasileira na
meca da tecnologia mundial. Sua função é desenvolver tecnologias de
ponta que podem se transformar em produtos da companhia.
Diversidade: o laboratório conta com 15 desenvolvedores. Entre indianos, americanos e russos, um brasileiro
Em tão pouco tempo de atuação, isso já está acontecendo. O primeiro
produto a sair do laboratório da Totvs é o Identity Fluig, uma
ferramenta de gestão de recursos humanos que funciona online. O sistema
mapeia as características e habilidades dos funcionários de uma empresa
para selecionar os perfis mais adequados para vagas que estão abertas. O
escritório americano deve ser ainda fundamental para recrutar talentos.
Afinal, não há lugar melhor para encontrá-los do que no Vale do
Silício, para onde afluem os melhores cérebros tecnológicos do globo.
Estratégico: segundo o vice-presidente executivo Dinkelmann, a presença nos EUA
ajuda a encontrar oportunidades em um dos maiores mercados de TI
O Totvs Labs, até o momento, conta com 15 funcionários. Entre eles
há apenas um brasileiro, que divide o espaço do edifício na rua Castro,
uma das maiores de Mountain View, com russos, chineses, indianos e
americanos. “Essa diversidade é essencial para qualquer empresa que quer
ser global”, afirma Dinkelmann. A Totvs opera em 23 países ao redor do
globo. Essa presença, no entanto, não indica que tenha uma forte
participação internacional em seu volume de negócios e vendas. Sua
operação está concentrada na América Latina, região onde diz ser líder
em software de gestão, mercado que disputa com gigantes globais como a
alemã SAP e a americana Oracle.
Seu desempenho, no entanto, é todo calcado no mercado brasileiro.
No ano passado, apenas R$ 20,3 milhões vieram de vendas para o mercado
internacional, algo em torno de 1,5% de sua receita líquida. Não se deve
esperar, portanto, grandes emoções vindas do laboratório americano. A
companhia não quer dar um passo maior do que as pernas. “Hoje pensamos
na América Latina”, afirma Dinkelmann. “Não vamos forçar uma maior
internacionalização.”
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