Eduardo Monteiro/EXAME
São Paulo – Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, não acredita que a meta fiscal será atingida este ano.
“Eu não acho que vai chegar a 1,2% e sim 0,8%, o que é suficiente para
as agências de rating pensarem que vale a pena pular pro ano seguinte.
Estamos entre 2 cenários: o de ajuste e o de não ajuste. Não tem um
terceiro cenário.”
Ele diz que existe uma perspectiva de leve melhora do mercado mais pra
frente: "O mundo está olhando para o Brasil como um reality show, como
se fosse um grande BBB".
O banco usa um cenário de "ajustes mínimos" - não porque são pequenos
ou fáceis, mas no sentido de que serão os mínimos possíveis para evitar a
perda do grau de investimento.
Ilan cita o "realismo tarifário" como outro elemento de ajuste: "a
energia vai subir em média 50% este ano. Eu não vejo uma coisa dessas há
muitos anos".
Ajuste, aliás, foi a palavra mais citada no painel “O Cenário no Brasil e na América Latina” na conferência Macro Vision, do Itaú BBA, realizada na manhã desta terça-feira no Hotel Unique em São Paulo. E não só o fiscal:
“O que exportamos vale menos, o que importamos vale mais e isso vai
exigir vários tipos de ajuste. Não estamos mais no nirvana e precisamos
falar disso”, diz Andrés Velasco, ex-ministro da Fazenda do Chile.
Além do fiscal, o outro é cambial - "que vocês sabem muito bem", diz
ele, em referência a forte desvalorização do real. O lado bom é que esse
enfraquecimento permite um equilíbrio melhor do déficit em conta
corrente, que explodiu nos últimos anos.
Como ele precisa ser financiado constantemente, a trajetória atual
seria insustentável, ainda mais com a perspectiva de alta dos juros nos
Estados Unidos: "todas as crises em emergentes - México, Rússia,
asiáticos - vieram em cenário de alta de juros nos EUA", diz Andres.
Ilan vê a crise atual como resultado de fim de ciclos que não foram
aceitos ou encarados: “A gente iria desacelerar de qualquer jeito, mas
além disso tínhamos problemas estruturais que ficam mais evidentes
quando está a maré baixa."
Velasco diz que essa nova maré faz com que a América Latina precise
olhar para o que não costuma - como produtividade, eficiência e
principalmente a diversificação:
“Sempre falamos de instituições, infraestrutura e coisas assim, mas
nada importa mais do que diversificar a economia. Sei que politica
industrial ganhou uma má fama no Brasil, mas não importa a palavra, o
fato é que precisamos diversificar a cesta de produtos que exportamos.”
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