Desde que assumiu cobertura de Petrobras (foto), com recomendação neutra, em 7 de abril, o JPMorgan tem dito que o case de investimento na estatal se tornou mais uma questão de como desalavancar a empresa do que seu próprio crescimento. Para o banco, há apenas dois catalisadores que podem dar uma perspectiva melhor para a companhia: a apreciação do real frente ao dólar neste ano – que impactaria diretamente a dívida líquida e sua geração de caixa – e uma mudança na política adotada pela estatal no negócio de refinaria. Com a queda da moeda norte-americana nos últimos dias, essa possibilidade começa a ganhar espaço.
Segundo os analistas Marcos Severine e Felipe dos Santos, do JPMorgan, a flutuação do real é um fator decisivo para a desalavancagem no curto prazo da Petrobras. De acordo com seus cálculos, uma apreciação do real em 10% poderia levar as projeções para dívida líquida da petrolífera em 2015 de US$ 117 bilhões para US$ 113 bilhões e reduzir a alavancagem, medida pela dívida líquida/Ebitda (que mensura em quantos anos a geração de caixa da petrolífera vai conseguir pagar sua dívida), de 6,3 vezes para 4,9 vezes. E como a apreciação do real reduziria a alavancagem da empresa, Severine e Santos apontam que isso também ajudaria a estatal evitar um downgrade. Duas agências de classificação de risco – Standard & Poor's e Fitch – indicaram que o atual nível de dívida líquida/Ebitda de 5 vezes poderia ser uma das razões para um rebaixamento do rating. "Nós acreditamos que uma depreciação do dólar poderia reduzir esse risco, permitindo que a companhia tenha um custo mais baixo da dívida", avaliam Severine e Santos.
Outro ponto importante seria o prêmio de importação da gasolina e diesel. Severine e Santos estimam que esse prêmio estaria em 1,5% e 1%, respectivamente, na sexta-feira (17) considerando a gasolina a US$ 77,7 bilhões o barril, o diesel a US$ 79,50 e o dólar a R$ 2,92. Para eles, essa melhor perspectiva para a empresa diante do câmbio pode já ter refletido no recente rali dos papéis. Eles acreditam que 9% na conta da alta de 89% dos papéis desde a metade de março tem relação com a queda do dólar frente ao real no período. O JP trabalha com o cenário-base de dólar a R$ 3,10 neste ano. Confira, abaixo, o impacto da variação do dólar no Ebitda e alavancagem da empresa.
1) Sensibilidade do Ebitda (em US$ bilhão) em relação ao dólar e petróleo
Preço médio do Brent
Dólar






-15%
-10%
-5%
Cenário
-base*

5%
10%
US$ 40/bbl
25,18
22,721
20,505
18,495
16,662
14,981
US$ 50/bbl
25,523
23,031
20,781
18,737
16,87
15,155
US$ 59/bbl
25,891
23,369
21,089
19,015
17,118
15,373
US$ 70/bbl
26,21
23,649
21,332
19,22
17,285
15,503
US$ 80/bbl
26,553
23,959
21,607
19,462
17,493
15,677
*Cenário-base contempla dólar a R$ 3,10 e petróleo a US$ 59
     
2) Sensibilidade da alavancagem* em relação ao dólar e petróleo
Preço médio do Brent
Dólar






-15%
-10%
-5%
Cenário
-base

5%
10%
US$ 40/bbl
4,39x
5,02x
5,73x
6,54x
7,46x
8,54x
US$ 50/bbl
4,33x
4,95x
5,65x
6,45x
7,36x
8,43x
US$ 59/bbl
4,26x
4,87x
5,56x
6,34x
7,24x
8,29x
US$ 70/bbl
4,20x
4,8x
5,49x
6,27x
7,17x
8,22x
US$ 80/bbl
4,14x
4,73x
5,41x
6,18x
7,07x
8,11x
*Alavancagem medida pelo indicador dívida líquida/Ebitda
       
(que mensura em quantos anos a empresa conseguirá quitar sua dívida líquida)