Nas duas últimas semanas, a pergunta que não quer calar no ambiente político brasileiro é: a presidente Dilma Rousseff cai ou não cai? Sabendo que os acontecimentos políticos interferem diretamente no andamento da economia, a Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul) resolveu levar em conta essa indagação ao traçar as perspectivas para 2016. No tradicional evento de final do ano, no qual apresenta as projeções para o setor e para a macroeconomia, a entidade esboçou dois cenários econômicos possíveis: com ou sem Dilma.
No caso da permanência da presidente no cargo, André Azevedo, economista da entidade, acredita na manutenção da taxa básica de juros em 14,25% e na intervenção no câmbio para manter o real próximo dos R$ 4 na relação com o dólar. Nas contas públicas, Azevedo imagina que o alcance do superávit primário seria perseguido através do aumento de impostos e do contingenciamento das despesas. O resultado disso tudo seria a continuidade do quadro de estagflação e perda do grau de investimento por mais uma agência de classificação risco. Como foi possível confirmar minutos depois da afirmação de Azevedo, a última previsão não demorou a acontecer (leia aqui). Ao saber que a Fitch havia rebaixado o grau do Brasil, Azevedo reconheceu: “Temos de refazer as projeções. Provavelmente serão piores, pois as coisas estão acontecendo mais rápido do que imaginávamos.”
No cenário projetado para a economia sem a presença de Dilma Rousseff no governo federal, o economista entende que haveria uma elevação da taxa básica de juros para 15% e menor interferência do Banco Central no câmbio, somente evitando grandes flutuações. O real cairia abaixo de R$ 3,50 na relação com dólar. Azevedo especula ainda a implementação de um “mini-choque fiscal” para aumentar o superávit primário. A mudança de comando alteraria também as expectativas dos agentes de mercado, crê o economista, o que influenciaria na queda da inflação, no primeiro momento e, mais adiante, em 2017, a retomada do crescimento da atividade econômica.
Independentemente do cenário político que se avizinha e de quem estará na presidência do Brasil, o país não conseguirá evitar mais um ano de PIB negativo em 2016. “O agravamento da crise institucional do governo dificultou e dificulta que as medidas fiscais sejam colocadas em prática e que nos indiquem um caminho de crescimento no futuro”, lamenta Ricardo Russowsky (foto), presidente da Federasul. A entidade calcula uma queda de 2,5% no próximo ano. O recuo será menor que o 3,7% previsto para este ano. De acordo com Azevedo, isso se explica pela desvalorização do real. Após um ano de adaptações, as empresas tenderão a exportar mais e importar menos, o que amenizará os demais resultados negativos esperados para economia nacional no ano que vem, como o crescimento do nível de desemprego e do déficit primário. “Estamos na iminência de viver a maior recessão, em termos de duração e intensidade, da história do Brasil”, constata Azevedo.
Varejo gaúchoDentro dessa conjuntura, o varejo brasileiro não sairá ileso – e muito menos o gaúcho. Se, na opinião da Federasul, 2015 tem de ser esquecido, o próximo ano também não deverá ficar na memória dos comerciantes gaúchos. Azevedo considera que a má situação financeira do Rio Grande do Sul deve interferir nos resultados do setor novamente. “O atraso de salários do funcionalismo público dá a percepção às empresas e aos consumidores do tamanho da crise do Estado. Isso reduz as perspectivas positivas e, consequentemente, o consumo”, detalha o economista. 
O aumento do ICMS também afetará os preços dos produtos, induzindo maior contenção de gastos do consumidor. Azevedo prevê uma queda de 3% do PIB gaúcho no ano que vem. Diante das nada animadoras projeções estaduais e nacionais, Russowsky resolveu se despedir dos presentes apenas com um “Feliz...!” sem revelar o ano previsto para que se realize o desejo. Em dezembro de 2014, o mesmo Russowsky abriu seu discurso desejando um “Feliz 2016” já antevendo que 2015 seria um ano perdido. Dessa vez, a cautela parece ser a melhor conselheira tendo em vista que a entidade não se arrisca a afirmar quando, realmente, a felicidade voltará ao bolso do brasileiro.