terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O que fazer? Desistir? (como fez o Zaratustra de Nietzsche)?


Publicado por Luiz Flávio Gomes -

 
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O que fazer Desistir como fez o Zaratustra de Nietzsche


Zaratustra passou 20 anos na montanha[1], longe da cidade,

Tendo como companhia a serpente e a águia, seus animais adorados.

Refletiu anos e anos sobre o sofrimento humano e suas causas,

Até que um dia deliberou descer da colina (ou caverna, como se diz),

Para enaltecer o Conhecimento,

Que consiste em “aspirar tudo o que é profundo,

Até à minha própria altura”.

Nietzsche é um dos pais do niilismo (negação). Hegel seria outro.

Com a morte de deus, decretada por Nietzsche,

Os valores, as crenças e as verdades perderam seu fundamento,

Seu sentido e sua utilidade. Deixaram de guiar o humano,

Regido pela ausência de fé, de crença e de esperança.

Negam-se os preceitos legais, a tradição moral, as instituições oficiais.

Tudo, então, estaria permitido (Dostoiévski):

A revolução, a anarquia, o terrorismo,

O aniquilamento, a destruição, a não existência.

Quando Zaratustra descia da montanha se encontrou com um velho

E pensou: “Esse pobre velho deve rezar para Deus, mas

Deus já morreu. O homem, que criou Deus, igualmente o matou.

Essa é a história da Humanidade. Pobre velho”.

O velho pensou: “Teria coisas para dizer a esse moço,

Mas o moço tem pressa. Então se calou.”[2]

No livro "Assim falava Zaratustra",

Nietzsche sonha com a criação de um super-homem,

Que seria semelhante a deus.

Um homem supremo seria capaz de revolucionar

Todos os comuns dos mortais.

O discurso superior é desafiante,

Além de super crítico.

Pretendia ensinar a emancipação,

Sonhando com um humano em liberdade,

Liberdade que todos podemos ter,

Mas não a temos por medo.

O humano não é apenas aquilo que as instituições fabricaram,

O humano aspira e pode ser livre (emancipado).

Nietzsche grita por um novo mundo,

Na forma de Zaratustra (o profeta).

Anda de cidade em cidade, pregando o super-homem.

Que os humanos recuperem a inocência das crianças.[3]

O humano só pode se tornar grande

Quando ousar a travessia para fora da servidão.

Se “ousar pensar”, pode se emancipar (Kant).

Os humanos refutaram Zaratustra,

Que, apedrejado, foi expulso das cidades por onde passava.

Foi vaiado. Menosprezado. Refugado.

Decepcionado, Zaratustra percebeu que o humano

Ainda não estava preparado para ser emancipado,

Para fugir da servidão. Retornou para a montanha

E desistiu da Humanidade,

Que até hoje continua desencontrada com a liberdade.

O que fazer, diante de tantas crises concomitantes no Brasil:

Desistir? Não. A Humanidade continua necessitada

Do discurso de Zaratustra. Precisa saber que

Sem colocar em seus ombros o peso do conhecimento,

E da ética,

Nunca emancipado será.

O povo que não luta continuamente pela sua liberdade

Está fadado a viver eternamente na servidão.

Zaratustra teve medo. Não soube ensinar

Que o “caminhante” não tem caminho pronto,

Que o caminho se faz ao andar (Antonio Machado).

Sem a ingenuidade das criança

Perdemos nossas forças para recomeçar.

1 Artigo inspirado em D’AMARAL, Marcio Tavares, O Globo 28/11/15: 2.
2 D’AMARAL, Marcio Tavares, O Globo 28/11/15: 2.
3 D’AMARAL, Marcio Tavares, O Globo 28/11/15: 2.
 
Professor
Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). 


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