O ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva provocou polêmica em Portugal ao
responsabilizar o período da colonização portuguesa, até 1822, pelos
problemas do sistema educacional do Brasil.
“Eu
sei que isto não agrada aos portugueses, mas Cristóvão Colombo chegou a
Santo Domingo (atual República Dominicana) em 1492, e em 1507 já tinha
sido criada uma universidade lá. No Peru em 1550, na Bolívia em 1624. No
Brasil, a primeira universidade surgiu apenas em 1922”, afirmou o
ex-presidente, para quem essa demora “justifica os atrasos na educação”
brasileira.
A declaração de
Lula, durante uma conferência em Madri, na noite da última sexta-feira,
gerou uma forte reação da imprensa portuguesa quando atravessou a
fronteira entre os dois países ibéricos.
O portal Observador, um dos principais de Portugal, ironizou o assunto: “Brasileiro burro? A culpa é do (Pedro) Álvares Cabral, diz Lula”.
“De quem é a culpa pelos atrasos na educação? É dos portugueses, diz Lula”, publicou, por sua vez, o Diário de Notícias, o mais antigo jornal português.
Entre os assuntos
mais comentados pelos portugueses nas redes sociais nos últimos dias, a
declaração de Lula continua rendendo opiniões fortes no país europeu.
Num texto publicado no fim da tarde de segunda-feira no site do semanário econômico Oje,
o colunista Diogo de Sousa-Martins diz que “não fica bem” a tentativa
de atribuir “o ônus do atraso do sistema de educação brasileiro para uma
colonização que abandonou o país há quase 200 anos e que nele inaugurou
o ensino superior”.
Apesar
de as primeiras universidades brasileiras só terem sido fundadas no
começo do século 20, como a Universidade do Paraná, em 1912, e a
Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, no período colonial existiam
instituições de ensino superior no país, como a Real Academia de
Artilharia, Fortificação e Desenho, de 1792, e a Faculdade de Medicina
da Bahia, criada em 1808.
A culpa é de quem?
O
doutor em História Social pela USP e professor de História da UFMG Luiz
Carlos Villalta discorda de que a responsabilidade sobre os problemas
da educação brasileira deva recair apenas sobre os antigos
colonizadores.
“O Brasil se
tornou independente em 1822, e o governo imperial também não criou
universidades em seus 77 anos de existência. A falta de universidades
deve-se, sobretudo, aos erros de nossos próprios governos, das elites
agrárias que os controlaram no Império e na República”, explica Villalta
à BBC Brasil.
Segundo a
professora de História Ibérica da USP Ana Paula Torres Megiani,
responsabilizar a colonização portuguesa por antigos problemas do Brasil
não é um recurso novo, mas uma prática recorrente desde o fim da
colonização.
“Desde o século
19, todas as vezes que o Brasil passa por uma crise, política ou
econômica, alguém sempre se lembra de culpar os portugueses do passado
pelos nossos erros do presente”, afirma Megiani à BBC Brasil.
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